ALGUMAS DEFINIÇÕES SOBRE O SIMBOLISMO CRISTÃO
Jean Vaquié
Não há dúvida de que Deus coloca HARMONIA ENTRE AS DIVERSAS PARTES DE SUAS OBRAS. E essa harmonia, Ele a coloca tanto no espaço quanto no tempo.
- No espaço, Deus estabeleceu correspondências entre a criação espiritual e a criação material (entre o visível e o invisível).
Essas correspondências entre o ALTO e o BAIXO são reconhecidas pelos autores cristãos, que delas extraem todas as consequências didáticas que contêm.
Essas correspondências, que são da natureza das coisas, não escapam aos adeptos da "Contra-Igreja", que as inscreveram na "Tábua de Esmeralda":
"O que está em baixo é como o que está em cima".
Portanto, entre as duas escolas, há acordo sobre o princípio da harmonia universal.
- No tempo, a mesma harmonia faz com que AS OBRAS DE DEUS CHAMEM E SE LEMBREM. O "Primeiro Adão" chama o "Segundo". E o "Segundo" lembra o "Primeiro", já que ele se proclama "Filho do Homem", ou seja, "descendência de Adão".
Em resumo, a criação física é um reflexo do Criador. E obtemos um primeiro conhecimento do Criador observando seu reflexo "simbólico" nas criaturas.
Até aqui, as coisas são simples, e um bom simbolismo exige apenas que não se confunda o Criador com seu reflexo.
No entanto, as coisas se complicam pelo fato de que a criação atual é PROBATÓRIA, portanto, ALEATÓRIA. A humanidade livre está destinada a ser julgada. Ela é colocada à prova. Cada aspecto da natureza é um ensinamento que pode solicitar o homem a subir ao Céu ou a descer ao inferno.
Cada coisa, portanto, tem um sentido BENÉFICO e um sentido MALÉFICO. Assim, há um "leão rugindo no deserto", mas também um outro "leão buscando quem devorar". O primeiro é a figura do profeta que anuncia o Messias, o segundo é a figura do demônio.
A ambivalência dos símbolos foi acentuada pela Queda, que intensificou o sentido maléfico de algumas coisas. Por exemplo, certos animais se tornaram nocivos e impuros, simbolizando os vícios.
Esta é a regra geral. Ela não seria tão difícil de aplicar se fosse absoluta. Infelizmente, esta regra da Ambivalência dos símbolos possui EXCEÇÕES.
Assim, a SERPENTE ou o DRAGÃO são sempre vistos negativamente. Não há "Serpente boa" (a serpente de bronze não é um boa serpente, é a figura de Cristo "tornando-se" serpente, embora não o seja por natureza).
Da mesma forma, a pomba é sempre vista positivamente. Não há pomba má.
O pensamento simbólico, portanto, requer INTELIGÊNCIA:
"Aquele que tem entendimento, que compreenda o que o Espírito diz às igrejas." (Apocalipse)
A inteligência mencionada aqui é o dom do Espírito Santo que permite DISTINGUIR.
- A SABEDORIA une,
- o ENTENDIMENTO distingue,
- o CONSELHO escolhe o que foi distinguido,
- a PIEDADE conecta,
- a FORÇA mantém a coesão das partes,
- a CIÊNCIA explica,
- o TEMOR se refere à morte que desagrega.
E qual é a grande DISTINÇÃO que vai dominar a compreensão do simbolismo?
É evidentemente a distinção fundamental entre o Bem e o Mal. E como o simbolismo compara objetos concretos, a oposição fundamental que guiará o simbolismo cristão é aquela entre JESUS e BELIAL, que são dois adversários não destinados à reconciliação, mas ao combate.
Em outras palavras, o simbolismo cristão é um SIMBOLISMO DE CHAVE. A "Chave" do simbolismo cristão é Nosso Senhor Jesus Cristo. É Ele quem dá inteligência a este universo que foi feito para Ele.
"O universo também foi feito por Ele, e entendemos que Ele deixou Sua marca por toda parte." (São Boaventura)
Jesus Cristo é a "Chave de Davi". A Chave de Davi "abre e ninguém fecha, fecha e ninguém abre". É Nosso Senhor quem abre o Céu e fecha o inferno. O simbolismo cristão nos mostra essa abertura e fechamento nas coisas do Universo.
Assim, por exemplo: a TERRA, quando comparada ao CÉU, simboliza o estado da natureza. Mas essa mesma terra, quando comparada ao MAR fluctuante, torna-se o símbolo do que é firme, ou seja, do FIRMAMENTO.
Veremos que essas considerações não são inúteis para nos proteger contra o FALSO SIMBOLISMO que "o Adversário" não deixou de elaborar. Pois isso é o que aconteceu.
O pensamento simbólico é um pensamento nutritivo. Ele traz para a alma ricos elementos de meditação. É capaz de despertar ideias e alimentar a oração. Por isso, a salmodia está repleta de símbolos pelos quais a alma se deleita com as "harmonias que Deus coloca entre as diversas partes de suas obras".
Mas devido ao fator de apreciação e, portanto, de imprecisão, que ele envolve, o pensamento simbólico tem pouco valor DEMONSTRATIVO. Por isso, os desenvolvimentos simbólicos foram negligenciados desde o final da Idade Média, porque a teologia cristã encontrou a necessidade de repelir os ataques do RACIONALISMO. Abandonando os símbolos, considerados pouco precisos, ela preferiu o raciocínio DISCURSIVO. Certamente, a justificação racional do dogma ganhou com isso. Mas a piedade perdeu. A Religião foi privada de um lirismo que era necessário para a alma.
Enquanto os teólogos, ocupados em lutar no campo da demonstração, negligenciavam o simbolismo, considerado muito vago, a escola de pensamento maçônico se apropriou do simbolismo, universal e, aproveitando o caráter apreciativo de todas as comparações, conseguiu facilmente empregar o simbolismo em seu sentido e dela obteve grandes benefícios. Hoje, ela governa o simbolismo e o tornou sua propriedade. Hoje, o simbolismo universal não é mais cristão; tornou-se "maçônico".
A escola maçônica trata o simbolismo com seu próprio espírito. E esse espírito não é o espírito de INTELIGÊNCIA que distingue e opõe JESUS e BELIAL. Ao contrário, o espírito maçônico reconcilia Jesus e Belial. No entanto, a escola maçônica é POLIMORFA. Assim, encontramos nela várias concepções do simbolismo.
A fração principal da escola maçônica reivindica um simbolismo SEM CHAVE, que ela chama de SIMBOLISMO ABERTO. Sua carta de princípios é a Tábua de Esmeralda:
"O que está em baixo é como o que está em cima".
Portanto, o universo "alquímico" é um universo AUTO-SIGNIFICANTE e, portanto, também um universo AUTO-SUFICIENTE. No entanto, esse universo se alinha com a metafísica de Lúcifer, que também se declara auto-suficiente.
Contudo, sempre existiu uma escola maçônica próxima do cristianismo, que professa reconhecer Cristo como a CHAVE do universo. Isso é especialmente verdadeiro na atual escola do ESOTERISMO CRISTÃO.
No entanto, neste simbolismo "esotérico" (como o de Jean PHAURE e Paul BARBANEGRA, por exemplo), é a dupla função da chave que não é devidamente respeitada. Sabemos que a chave de Davi "abre e ninguém fecha, fecha e ninguém abre".
Certamente, os esoteristas cristãos aceitam que Cristo, proclamado a chave de seu simbolismo, abre o Céu: ele é de fato o pináculo da Criação. Nesse sentido, em uma análise superficial, pode-se ter a impressão de que esse simbolismo satisfaz a condição essencial do simbolismo cristão.
Infelizmente, constata-se ao mesmo tempo que, para esses "esotéricos", o significado simbólico de uma catedral cristã coincide com o do Templo de Angkor ou da Pirâmide egípcia: eles afirmam que há o mesmo "espírito" presente. Assim, o Céu não é aberto apenas pelo Cristo, mas também por divindades que não são o Cristo e que se assemelham estranhamente a Lúcifer.
Quanto ao fechamento do inferno pelo simbolismo do esoterismo cristão, isso é altamente problemático, pois os demônios, nesse sistema, como no de R. Guénon, são definidos como entidades do "mundo intermediário", ou seja, seres semi-físicos e semi-espirituais por natureza.
Há aqui uma perversão do simbolismo cristão que alcança seu máximo de sutileza e, portanto, é muito difícil de discernir.
JEAN VAQUIÉ
Agosto de 1990