TEORIA DOS TRÊS RALLIEMENTS

Padre Luan Guidoni

Postado pela Ação Restauracionista em 2025-10-28 18:30:00


Páris, guiado por Apolo, fere Aquiles


          O bom soldado sabe que a sagita deve ser extraviada do músculo em sua totalidade, e não somente a haste que vem da madeira. Um plebeu vitimado pela seta e sem instrução na doutrina marcial acaba temendo mais a longa haste que a ponta de ferro que o faz sangrar, e em vez de retirar prontamente o mal que há na carne, recorre primeiro aos sacerdotes e curandeiros do que aos médicos e aos homens de guerra para sanar-lhe a ferida de morte em seu peito. Aqueles que caem fatalmente pela sagita de forma honrosa, como o filho de Peleu - que morreu mais por decreto dos deuses do que pela própria flecha - e que não possuem nenhum meio de impedir a inevitável morte, entram para a eternidade como bravos varões; e quanto àqueles, pergunto, que não foram feridos de morte pela sagita, mas que pelo sangramento e infecção, causada pelo mucro ainda presente no corpo, acabam sucumbindo por descuido de si próprios? A estes, a vergonha será a única companheira nos funerais.

           Este é, caríssimos irmãos em Cristo, o lastimável estado da nossa Santa Igreja Romana.

          Todo tradicionalista está fatigado de ouvir ad nauseam sobre as três revoluções: primeiro Lutero em 1517; depois a maçonaria em 1717; e por fim o comunismo em 1917. Todos os problemas eclesiásticos da modernidade resumem-se, segundo eles, ao protestantismo, ao liberalismo e ao comunismo. Os astigmáticos da tradição só enxergam a haste e não veem o mucro que os condena ao inferno: hypocrita eice primum trabem de oculo tuo et tunc videbis eicere festucam de oculo fratris tui. Que as guerras de religião, a revolução francesa e o movimento comunista foram manifestações do anticristo, ninguém o nega, mas olhar unicamente para a decadência das forças católicas ad extra enquanto se ignora a ruína ad intra é um erro gravíssimo que trataremos de sanar.

           Contra a teoria das três revoluções, a qual não repugno, porém afirmo que está incompleta, proponho a teoria dos três ralliements:

            I. Ralliement Econômico (1831)

            II. Ralliement Político (1892)

            III. Ralliement Religioso (1965)

            O Ralliement Econômico se deu com a publicação das teses do Padre Marco Mastrofini sobre a usura e com os empréstimos da família Rothschild ao Vaticano; o Ralliement Político foi orquestrado pelas maquinações do Cardeal Mariano Rampolla del Tindaro e do Cardeal Charles Lavigerie e formalizado na encíclica Au milieu des sollicitudes; o Ralliement Religioso ocorreu no último ato do Concílio Vaticano II, obra de Angelo Giuseppe Roncalli e Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, quando os bispos do mundo assinaram os documentos conciliares. Em 1831, o Vaticano tornou-se vassalo da usura; em 1892, as armas foram abaixadas; em 1965, o pacto com Satã foi assinado. Primeiro, tomaram as possessões, depois os exércitos, e finalmente a alma.

            Sabemos plenamente que cada um desses momentos históricos foi antecipado e sucedido com toda a ardilosidade da dialética serpentina, e não ignoramos os reais causadores dessa judiação contra a Igreja.

            Com o lituus em mãos, clamamos aos católicos que ainda não enxergaram a trágica realidade da crise. Lutar contra o protestantismo, o liberalismo e o comunismo, isto é, contra as três revoluções, a haste da sagita inimiga, ao mesmo tempo em que se ignora o mucro penetrante da mesma sagita, isto é, os três ralliements, o econômico, o político e o religioso, é o mesmo que crer que a saúde do corpo será restaurada apenas pela retirada da madeira da carne e que, finalmente, livres da haste visível, comemorarão com júbilo o fim da arma inimiga do lado exterior, ao passo que a ponta mortífera continua no interior gangrenando todo o corpo.

Padre Luan Guidoni

25 de Outubro de 2025