BATALHA DE PAVÓN

Leonardo Castagnino

Postado pela Ação Restauracionista em 2025-09-09 15:09:00

Postagem original: https://www.lagazeta.com.ar/pavon.htm

BATALHA DE PAVÓN – 17 de setembro de 1861

Na fase culminante da guerra entre Buenos Aires e a Confederação Argentina, enfrentaram-se novamente Urquiza e Mitre.

O combate foi confuso, porque quando as tropas de Mitre pareciam derrotadas, a corneta da reserva de Urquiza toca a retirada e ele, sem prestar atenção a nada nem a ninguém, dá meia-volta e começa seu retorno a Entre Ríos, deixando o campo nas mãos do comandante vencido.

Esse fato nunca ficou muito claro; muitos historiadores falam de algum entendimento prévio entre Urquiza e Mitre, articulado na noite anterior por intermédio de Yatemon, um misterioso norte-americano de confiança de Urquiza.

“Ganhou (Urquiza) a batalha de Pavón e deu a Buenos Aires a vitória, indo para sua casa e deixando o campo de batalha nas mãos dos vencidos. Capitanou o Brasil para abalar o ascendente tirânico de Buenos Aires: hoje se põe às ordens dos dois, contra os países do interior. Trabalhou pela causa das províncias: hoje trabalha contra elas, pela causa de Buenos Aires. Representou o nacionalismo argentino: hoje é o braço esquerdo do localismo de Buenos Aires contra a República Argentina. No convênio, na reforma da Constituição, na tríplice aliança, Urquiza assinou o que Buenos Aires escreveu pela pena de Victorica.” (Juan Bautista Alberdi)

Segundo o historiador José María Rosa: “Urquiza havia se acertado com os mitristas por agentes norte-americanos e maçons, comprometendo-se a perder a batalha de Pavón. Em troca, deixariam-lhe o governo de Entre Ríos”.

Derqui ingenuamente tentaria resistir. O grosso do exército federal permanece intacto e é colocado sob as ordens de Juan Saa, enquanto espera o retorno de Urquiza. Ele o acredita enfermo e escreve desejando-lhe “uma pronta recuperação para que volte o quanto antes ou se coloque à frente das tropas”. Mas Urquiza não volta, não quer voltar. Quarenta dias após a batalha, em 27 de outubro, o inocente Derqui ainda escreve ao sensitivo guerreiro, interessando-se por sua saúde e rogando que “assuma o comando“.

Anuncia-se a grande vitória, embora Mitre não possa mover seus homens da estância de Palacios por falta de cavalaria. Sarmiento, de Buenos Aires, escreve a 20 de setembro: “Não tente economizar sangue de gaúchos. Este é um adubo que precisa ser útil ao país. O sangue é a única coisa que têm de seres humanos“ (Arquivo Mitre, tomo IX, pág. 363). Para Urquiza quer medidas radicais: “ou Southampton ou a forca”. Em Southampton passava a velhice, pobre mas nunca amargurado, Juan Manuel de Rosas.

Nem um nem outro. Urquiza não será um fugitivo. Permanecerá em Entre Ríos e não perderá o governo da província. Derqui, Pedernera, Saa, o Chacho Peñaloza, Virasoro, Juan Pablo López, esperam que Urquiza volte de Entre Ríos e, em uma única carga, desbarate as temerosas tropas mitristas. Por toda a República, de Rosario ao Norte, vibra o grito ¡Viva Urquiza! em desafio aos oligarcas: todos usam no peito a faixa vermelha federal com o lema “Defendemos a lei federal jurada. São traidores quem a combate”. Urquiza tem treze províncias consigo e um partido que é quase todo na República. Espera-se impacientemente. Derqui, supondo ser o obstáculo para o retorno do general, opta por sair de cena e vai silenciosamente para Montevidéu em um navio inglês, renunciando à presidência. É substituído por Pedernera, que tem total confiança de Urquiza. Mas Urquiza não vem.

Então, as divisões mitristas sob comando de Sandes, Iseas, Irrazabal Flores, Paunero, Arredondo (todos chefes estrangeiros) entram implacáveis no interior para cumprir o conselho de Sarmiento. Homem encontrado com a faixa federal é degolado; se não for levado, é enviado a um destacamento de fronteira para lutar contra os índios. Não importa se tem filhos e mulher: é gaúcho, e deve ser eliminado do mapa político. Todo o país deve ser “civilizado“ (ver “A guerra de Polícia”).

Venancio Flores, antigo presidente uruguaio, sob ordens dos porteños, surpreende em Cañada de Gómez, em 22 de novembro, o grosso do exército federal que ainda esperava ordens de Urquiza. Ali estão sem saber a quem obedecer ou o que fazer. Flores degola a maioria e incorpora os outros às suas fileiras. Nossas guerras civis não se distinguiram por leniência, mas agora se excede. Até Gelly e Obes, ministro da Guerra de Mitre, se estremece com a hecatombe: “O acontecimento de Cañada de Gómez – informa – é um dos fatos de armas que aterroriza o vencedor… Este acontecimento é a segunda edição de Villamayor, corrigida e aumentada“ (em Villamayor, Mitre mandou fusilar o coronel Gerónimo Costa e seus companheiros pelo único crime de serem federais).

Essa limpeza de criollos feita pelo exército da Liberdade entre 1861 e 1862 é a página mais negra de nossa história, não por desconhecida menos real. O país deve ser “de uma cor só”, eliminando os federais. Como os incorporados por Flores desertam na primeira oportunidade, daqui em diante não haverá mais incorporações: degolamentos, nada além de degolamentos. E os executores materiais também não são criollos: são mafiosos trazidos da Sicília: “Na matança de Cañada de Gómez – escreve José María Roxas y Patrón a Juan Manuel de Rosas – os italianos despertaram na outra vida muitos que, cansados do trabalho do dia, dormiam profundamente“ (A. Saldías: La evolución republicana, pág. 406).

Sarmiento expressa: “Os gaúchos são bípedes implumes de tão infame condição, que nada se ganha tratando-os melhor”. Os pobres criollos que caem nas mãos dos libertadores só podem exclamar ¡Viva Urquiza! ao sentir o fio da lâmina. Alguns conseguem fugir ao monte e tentar uma vida de animais bravos.

A matança seguirá em Córdoba, San Luis, Mendoza, San Juan, La Rioja, enquanto se ouça o ¡Viva Urquiza! em alguma pulperia ou se veja a faixa vermelha da infâmia. Que viva Urquiza enquanto os federais morrem. E Urquiza vive tranquilo em seu palácio San José, em Entre Ríos. Em breve fará votar Mitre nas eleições presidenciais.

“Pavón não é apenas uma vitória militar – escreve Mitre ou seu ministro da Guerra – é sobretudo o triunfo da civilização sobre os elementos da barbárie”.

Fuentes:

José María Rosa La derrota del pueblo. (1961)
– El misterio de Pavón - Artículo en el periódico Retorno (5/11/1964)
- Chávez, Fermín. Vida y muerte de López Jordán.
- La Gazeta Federal www.lagazeta.com.ar