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Guerra do Paraguai - A deserção de Urquiza distorceu o curso da história
O general Justo José de Urquiza era, até 1863, uma das figuras mais enigmáticas e contraditórias da história nacional argentina. A partir dessa data, a obscuridade e a ambiguidade de sua conduta começaram a projetar-se sobre o cenário continental, despertando esperanças frustradas, inflamadas controvérsias e uma reação tão impetuosa que desembocou na tragédia de 1870. “Urquiza foi assassinado em seu palácio de San José porque o consideravam vendido aos portenhos”, escreveu Antonio Sagarna (1). O porteñismo representava a negação de tudo o que os provincianos defendiam em função dos verdadeiros interesses nacionais.
Urquiza jamais nutriu sentimentos sinceros em relação ao Paraguai. Aproximava-se ou afastava-se de sua amizade conforme os interesses mutáveis que o moviam. Durante o longo período em que foi lugar-tenente do general Rosas, teve de submeter-se contra a própria vontade à consigna do governador de Buenos Aires, que havia estabelecido que “jamais as armas da Confederação Argentina turbariam a paz do Paraguai”. É dessa época o pedido de Urquiza a Madariaga para que informasse a Solano López que “nosso pacto não ataca o Paraguai e que, pelo contrário, nós e toda a Confederação estamos dispostos e animados da melhor vontade para com o território paraguaio” (2).
A obscura trama que possibilitou a formalização de uma poderosa conjuração de forças, destinada ao derrubamento de Rosas em Caseros, entregou ao Brasil a condução da política externa do Rio da Prata, à qual Urquiza teve de se submeter. Assim veio o reconhecimento da independência do Paraguai e o envio a Assunção de uma missão chefiada pelo doutor Derqui.
O doutor Vicente Fidel López, ministro das Relações Exteriores do governo de Urquiza, encarregou o emissário de “informar minuciosamente sobre os homens, ideias, tendências, costumes, circunstâncias do comércio e das indústrias, tudo o que permita formar um juízo exato sobre o estado atual do Paraguai”.
Derqui, em representação da Confederação Argentina, e Benito Varela, ministro das Relações Exteriores do Paraguai, concluíram um tratado de navegação, comércio e limites, assinado em 15 de julho de 1852 (3). O acordo constituía o reconhecimento de fato da independência paraguaia; dois dias depois – em 17 de julho – Urquiza procedia a formalizar oficialmente esse reconhecimento, cumprindo uma das cláusulas de seus compromissos assumidos com o Império do Brasil.
O tratado Derqui–Varela estipulava em um de seus artigos: “A Confederação concede à República a livre navegação de seu pavilhão pelo rio Paraná e seus afluentes, outorgando-lhe todas aquelas franquias e vantagens que os governos civilizados, unidos por tratados especiais de comércio, concedem uns aos outros; não deterá nem impedirá, nem imporá direitos sobre o curso de qualquer expedição mercantil que tenha por objeto transitar pelo território fluvial ou terrestre da Confederação até portos paraguaios, ou destes a quaisquer outros estrangeiros, sem sujeitá-los a fiscalizações, tributos, revistas, abertura de volumes, etc., que ao mesmo tempo que incomodam o comércio, o aniquilam, alarmando-o e dissuadindo-o de frequentar as vias mais produtivas” (4). Tratava-se de uma vitória do Brasil, que reclamava da Confederação a proclamação de uma franquia que ele mesmo negava de forma obstinada em seus rios interiores.
Em sua Mensagem ao Congresso, dizia o presidente Francisco Solano López: “Com esse tratado foram alcançados todos os objetivos dos constantes esforços e gestões que o Governo Supremo realizou nos dez anos passados” (5). Também podia afirmar que ambas as partes contratantes, mais que imitar os “governos civilizados”, anteciparam-se a eles, pois nem Estados Unidos, nem Inglaterra, nem França, nem Brasil admitiam o princípio ali proclamado. Cabe, portanto, reconhecer ao Paraguai o título de honra de havê-lo sustentado inalteravelmente, proclamando-o como um direito americano.
A realidade é que o referido convênio estava condenado ao fracasso, pois Urquiza se ocupava de outras preocupações. Mais atento aos problemas da política interna do que às relações internacionais, o comandante de Caseros buscava consolidar uma vitória contestada por Buenos Aires. Sua posição consistia em conquistar a aliança do Brasil ou, no caso de malogro desse plano, integrar Entre Ríos e Corrientes em uma nacionalidade separada. Expondo tais ideias, escrevia ao governador Pujol, da província de Corrientes: “Por lo demás usted crea que he de ser el último nombre que desespere de la Confederación Argentina, obra ligada hoy a mi gloria y a mi nombre. Más cuando todos mis esfuerzos hayan fracasado y la nacionalidad que por tantos títulos debe sernos cara se disuelva, para no reunirse jamás, entonces me encontrará usted pronto para formar un cuerpo político, independiente, fuerte y compacto de las provincias de Entre Ríos y Corrientes” (6). É interessante observar que tais concepções eram manejadas por Urquiza, Pujol, Derqui e tantos outros políticos argentinos, sem qualquer estímulo do Paraguai, e sim, possivelmente, do Brasil.
Enquanto tais intrigas palacianas se teciam, o tratado Derqui–Varela permanecia esquecido nas pastas do Parlamento da Confederação. Com efeito, mais do que favorecer a expansão pacífica do Paraguai, Urquiza pretendia abrir os rios argentinos ao Brasil, a fim de que este levasse a guerra àquele país. Assim procedeu no início de 1855, consentindo a passagem da esquadra brasileira, que marchava com fins guerreiros em direção a Assunção. O cônsul paraguaio em Paraná, então don Pedro Nolasco Decoud, teve a esse respeito uma conversa particular com Urquiza, na qual este lhe comentou que a esquadra partiria para o Paraguai e que o Império concentrava forças na fronteira. Segundo o cônsul, Urquiza se mostrou favorável aos atos do governo brasileiro e não revelou a menor simpatia pelo Paraguai (7). Decoud foi substituído no consulado por don Félix de Esgusquiza, ainda mais categórico; ao ministro Falcón informou que havia suspeitas de que o general Urquiza concluíra uma aliança secreta com o Brasil contra o Paraguai (8).
A prova de que assim era veio do próprio Congresso da Confederação, que em 11 de dezembro de 1855 rejeitou o tratado Derqui–Varela, alegando que este “perjudicaba los derechos territoriales de la Confederación”. A desaprovação causou surpresa, dada a influência que Urquiza exercia sobre os meios parlamentares, o que levou a supor que a própria mão do caudilho entrerriano teria orientado a decisão.
Não podia, entretanto, Urquiza, diante da instabilidade da situação interna do país, descuidar do flanco representado pelo território paraguaio. Elegeu, então, um dos diplomatas que melhor dominava as questões do Rio da Prata, por haver atuado longamente no Rio de Janeiro como ministro plenipotenciário de Rosas. Tratava-se de Tomás Guido, a quem incumbiu de deslocar-se ao Paraguai para “colocar sobre bases de perfeita harmonia e reciprocidade as relações de amizade que felizmente existem entre ambos países” (9).
Guido apresentou por escrito os pontos de vista de seu mandatário em matéria de limites, que pareceram ao governante paraguaio injustos e agressivos. As pretensões argentinas significavam a mutilação de vastas extensões tradicionalmente paraguaias, na região do Chaco. Com justo ardor patriótico, exclamava o presidente López: “La pretensión del Chaco significa cortar la mano de un hermano; el Paraguay consentirá más bien reducirse a escombros, antes que enajenar el territorio que le corresponde” (10).
As negociações chocaram-se com a intransigência de ambas as partes. A firmeza do presidente López na defesa dos interesses de sua pátria não podia ser abalada. “No he buscado la situación en que nos hallamos –le decía al negociador argentino–; deseo la paz y las mejores relaciones con los países vecinos, pero venga lo que viniese, he de sostener los derechos y la dignidad de la República” (11).
Vendo-se que resultaria infrutífero prolongar tratativas sem a menor possibilidade de bom êxito, acordou-se a assinatura de um tratado de comércio e navegação, cujo artigo 24º declarava “adiado” o arranjo das fronteiras territoriais. A disposição sobre a livre navegação dos rios Paraná, Paraguai e Bermejo, incluída no artigo 7º, era menos explícita que a do tratado anterior, pois se limitava a declará-la “livre e comum… em conformidade com as disposições vigentes em ambas as Repúblicas” (12).
O convênio concluído pelo general Guido estabeleceu as relações de Urquiza com o Paraguai sobre uma base de equilíbrio instável, postergando para o futuro a solução das questões mais relevantes. O compromisso das partes era mínimo, o que proporcionava a Urquiza aquela liberdade de movimentos – confusa e contraditória – que era o seu modo operativo habitual.
Em 1857, o Brasil enviou ao Rio da Prata a missão Paranhos, a qual despertou fundadas suspeitas em todos os círculos paraguaios. O cônsul em Buenos Aires, dom Buenaventura Decoud, escreveu ao presidente López transmitindo-lhe notícias alarmantes que recebia de Entre Ríos. Segundo tais informações, ficava evidente que os brasileiros e Urquiza estavam decididos a declarar guerra ao Paraguai, pois os preparativos que faziam eram idênticos aos que, em seu momento, haviam sido organizados contra Rosas (13).
Os documentos comprovam que a questão da guerra contra o Paraguai esteve presente nos debates, e que Urquiza patrocinou essa ideia. Paranhos rapidamente concluiu os convênios que pretendia, de acordo com os textos que já trazia redigidos, aos quais os plenipotenciários de Urquiza aderiram sem reservas, como já precisámos em outra parte (14).
No que aqui nos interessa, depreende-se que o general Urquiza havia colocado, por intermédio de seus plenipotenciários, a questão de levar a guerra ao Paraguai para resolver os problemas de fronteiras. Com esse motivo, Paranhos escreveu-lhe uma carta bastante reveladora: “A guerra, diziam meus ilustres colegas, deve pôr termo a todas as questões com o Paraguai, sem o que não seria popular na Confederação. Concordei prontamente com esse pensamento, mas não pude anuir em que o término da guerra ficasse dependente do reconhecimento que o governo paraguaio recusou obstinadamente no tocante às verdadeiras fronteiras dos países… Uma guerra que realizasse esses grandes fins e colocasse cada governo em condições de ocupar o território contestado não seria impopular em nenhum dos dois países. O receio de que o Paraguai se levantasse mais tarde contra essa ocupação é infundado. O golpe, se o Paraguai o provocasse, seria demasiado forte para que pudesse erguer-se tão cedo!” (15). A ideia do extermínio do Paraguai já estava latente naqueles audazes negociadores.
O Itamaraty jogava com sutileza; lançava insinuações veladas e deixava que os demais se comprometessem publicamente. Quando, em celebração dos acordos alcançados, Urquiza ofereceu um banquete a Paranhos, este, ao agradecer, lançou uma vaga alusão às antigas alianças: “Desejo – disse – ver realizada a mais estreita união entre o Império e a Confederação, e que a glória de Caseros não seja a única glória adquirida em comum pelo Brasil e pela Nação Argentina” (16). Um novo Caseros se delineava no horizonte; mas desta vez seria contra o Paraguai.
Urquiza, à semelhança do Império, jogava com cartas marcadas para que a sorte lhe favorecesse. Em seu jornal Patria – edição de 21 de novembro de 1857 –, mandou publicar um artigo intitulado Guerra a López. Mas sua intenção era que a guerra fosse feita pelo Brasil, reservando-se para si o direito de facilitar seus deslocamentos militares. Parece que esse plano se traduziu em um protocolo secreto, segundo o afirmado pelo ex-chanceler de Mitre, doutor Elizalde: “O governo do Paraná – disse este – composto por homens que tanto combatem e condenam o tratado de Aliança, firmaram um protocolo secreto com o Brasil comprometendo-se a dar passagem pelo território argentino ao exército e forças brasileiras em caso de guerra contra o Paraguai” (17).
Ao Brasil não convinha precipitar os acontecimentos enquanto não se resolvessem as controvérsias internas da Confederação Argentina. A Urquiza, por sua vez, a situação latente de guerra civil exigia concentrar todos os seus recursos em uma solução armada. A conquista da aliança do Paraguai no conflito com a província de Buenos Aires era uma carta de triunfo nada desprezível. Para buscá-la, Urquiza partiu para o Paraguai em janeiro de 1859, aproveitando o pretexto de interpor sua mediação na solução do diferendo surgido com os Estados Unidos. Sua intervenção foi útil, sobretudo porque atuou a seu lado, com o tato e a responsabilidade que lhe eram habituais, o general Guido. O presidente Carlos Antonio López ficou agradecido por essa mediação e disposto a retribuí-la assim que as circunstâncias o permitissem.
O espírito de López era o de mediador pela paz; a aspiração de Urquiza era conquistar um aliado para a guerra. Dessa aliança falou sem eufemismos, em sua passagem por Corrientes, de regresso de Assunção, em 3 de fevereiro de 1859: “Devo aproveitar esta ocasião – proclamou – para dizer-vos que o Governo e o povo paraguaios são dignos de toda estima fraternal do povo e do Governo argentinos. Cultivai, por vossa parte, a intimidade que deve ligar-nos; somos aliados por interesses comuns, por identidade de origem e de destino…” (18).
Com a intenção de envolver o Paraguai em seus intricados projetos, Urquiza enviou a Assunção o doutor Luis José de la Peña, como agente confidencial. Sua missão consistia em propor a López uma ação conjunta contra a província rebelde, que, ao conservar em suas mãos as chaves do porto de Buenos Aires, prejudicava tanto as províncias litorâneas argentinas quanto a República enclausurada no alto dos rios. O chanceler paraguaio, dom Nicolás Vázquez, era o mesmo que em 1856 debatera com o general Guido sobre as questões de limites sem alcançar resultado algum. O status quo em que o problema havia permanecido permitiu a Vázquez declarar a de la Peña que “priva ao referido projeto de tratado de aliança entre a Confederação Argentina e a República do Paraguai de um dos mais importantes motivos de sua celebração, que é a garantia recíproca da integridade de seus respectivos territórios” (19).
Vemos, portanto, que na política zigzagueante de Urquiza, ora se inclinava para o Brasil, ora para o Paraguai. Mitre, com a velha ojeriza que lhe nutria, não deixou de lançar-lhe em rosto essa incoerência, sem que o perdão dos anos atenuasse a dureza dos qualificativos. Ainda em 1869, a polêmica com o doutor Gómez recorria ao argumento já gasto: “A lição do povo paraguaio – dizia-lhe – ensinará que nas questões internas não se deve buscar armas e vapores no Paraguai e no Brasil, sacrificando territórios e honras, como fez Urquiza, buscando alianças primeiro no Brasil, depois no Paraguai, para dominar a resistência de Buenos Aires” (20).
A autoridade dessas palavras provinha do fato de serem pronunciadas pelo antigo artilheiro de Caseros, que combatera sob a bandeira oriental e com armas brasileiras. E de que, ao mesmo tempo em que Urquiza promovia em Assunção as negociações de que Mitre o acusava, este último enviava a Assunção seu próprio emissário, o doutor Lorenzo Torres, encarregado de gerir – “sacrificando territórios e honras” – a aliança do Paraguai com o Estado de Buenos Aires.
A missão do doutor Torres fracassou, assim como a do governo do Paraná, ficando o presidente López em posição equidistante, apto a atuar como mediador no momento em que as circunstâncias assim o aconselhassem. Antes do final de 1859, considerou chegada essa oportunidade e confiou a delicada missão a seu filho Francisco Solano, que alcançou uma solução digna e equitativa, consolidada no Pacto de San José de Flores. O general Urquiza, em homenagem à ilustre mediação, ofereceu-lhe a espada que empunhara em Cepeda (21).
As simpatias conquistadas pelo Paraguai estavam destinadas a durar algum tempo, pois o chamado pacto de família não passava de uma solução circunstancial, fadada a romper-se assim que Buenos Aires se recuperasse do revés de Cepeda. Assim sucedeu, de fato, e novamente se confiou às armas o desfecho do antigo enfrentamento entre duas linhas políticas irreconciliáveis. Às vésperas de Pavón, o doutor Félix Frías tentou interpor sua ação pacificadora, entrando em contato com ambos os contendores. Cópias da carta que enviou a Urquiza e da resposta deste foram remetidas ao general Mitre. Então Mitre lhe respondeu: “Quanto à carta do general Urquiza e aos conceitos nela contidos, tenho cinquenta que se lhe parecem; e ainda que o secretário que as redige reflita aproximadamente as impressões do signatário num dado momento, ele vai sempre por outro caminho, e com frequência pelo oposto ao do dia anterior; porque, como o próprio general declara ao assinar mensagens, cartas e proclamas: ‘isto é para a história’; ou seja, palavras que o vento leva, como se fosse só isso que recolhesse o livro da posteridade; enquanto os fatos que o hão de compor, e que são a única responsabilidade do general Urquiza, esses são para os presentes” (22).
O juízo é cruel, incisivo e carregado de maliciosas insinuações, mas serve para situar aqueles homens, que agiam com dissimulação e julgavam-se com dureza, embora a história liberal posteriormente tenha buscado impor-nos imagens distintas e deformadas. O que Mitre pensava de Urquiza era verdade; também o seria se fosse Urquiza a dizê-lo de Mitre. Todos os personagens do liberalismo foram atores que posavam para a história e que, em meio a atitudes cambiantes, desencadearam paixões e conflitos em que os interesses das nações e dos povos eram relegados.
Urquiza cedeu às conveniências da oligarquia de Buenos Aires, contanto que se lhe assegurasse o predomínio em sua província e o próspero desenvolvimento de seus negócios particulares. Em Pavón inaugurou-se um período de transações e deslealdades que seria fatal ao destino daquelas nacionalidades.
Os volteios de Urquiza, suas marchas e contramarchas, as decepções que paulatinamente foi semeando, desarticularam o aparato de resistência às miras egoístas do liberalismo portenho e às tendências expansionistas do Brasil sobre a bacia do Prata. A primeira etapa desse programa de dominação foi a rebelião do general Flores contra o governo oriental do doutor Berro. Na obra que escreveu sobre o tema, dom Aureliano G. Berro, ao falar de Urquiza, diz que “na realidade, o sentimento do governador entrerriano oscilava entre revolucionários e governistas, inclinando-se mais bem, ainda que paulatinamente, aos primeiros, seja por exigência da política nacional argentina, seja por sua antipatia pessoal ao presidente Berro” (23). Não se deve esquecer que o presidente Berro deixou o cargo em fevereiro de 1864, sendo substituído por dom Atanasio Aguirre, durante cujo período, precisamente, se acentuaram as preferências de Urquiza pelos revolucionários.
O equívoco da conduta de Urquiza na questão oriental provinha de sua submissão a Mitre, da cordialidade que mantinha com o general Flores e da intervenção de fatores mais concretos e objetivos. Com efeito, em meio àquelas convulsões movia-se um personagem misterioso: o barão de Mauá, banqueiro brasileiro, que não perseguia outros fins senão os do Império e do liberalismo econômico.
Quando se temeu que Urquiza, cedendo às pressões dos caudilhos federais de toda a república, pudesse lançar seu peso em favor do governo legal uruguaio, o barão de Mauá viajou a San José e encontrou-se com o velho caudilho. O jornal La Nación Argentina publicou informação vinda de seu correspondente em Concepción del Uruguay, redigida nos seguintes termos: “Diz-se… que o barão de Mauá fez ajustes particulares com o general Urquiza, fornecendo-lhe os fundos de que necessitava para seus negócios particulares” (24).
Isto acontecia em outubro de 1863. Pouco depois, o filho do caudilho, coronel Wualdino Urquiza, atravessou o Uruguai à frente de tropas, em apoio à causa do governo de Berro, lançando uma proclamação na qual dizia: “Dentro de alguns dias, o próprio general Urquiza não poderá resistir ao clamor dos povos que lhe gritam: Que fazeis? Por que deixais que nos assassinem?” (25). Ter-se-ia então interposto o barão de Mauá, e Urquiza permitido que os matassem?
O jornal de Mitre, com ironia mal disfarçada, lançava suas venenosas insinuações: “Não se pode deixar de confessar – escrevia –, que até agora o general não tratou de estorvar em nada a marcha das autoridades nacionais, mostrando-se antes amigo da paz, à qual está vinculado por mil motivos” (26).
Vê-se, pois, que os velhos unitários, agora senhores da situação sob o rótulo de “liberais”, não perdoavam aqueles que, chegando tarde às suas tendas, fingiam aderir às suas bandeiras. Urquiza acreditou que, fazendo-se manso, conquistaria a tolerância dos porteños, mas seus cálculos se revelaram falhos. O porta-voz de Mitre, à frente do pelotão dos desaforados, alternava entre atacá-lo e protegê-lo, sempre com o intuito de desmoralizá-lo. No fundo, o elenco portenho o desprezava. Ria-se dos que ainda esperavam uma reação federal do velho caudilho. “O poder do general Urquiza – escreviam seus parciais – reside na imaginação daqueles que recordam o que ele foi, e não se detêm a ver as coisas com calma” (27). Era como meter a mão na boca de um leão outrora feroz, agora desdentado.
Outros iam ainda mais longe e o faziam objeto de ataques impiedosos. O jornal La Tribuna, típica expressão do fanatismo portenho mais fechado, acusava Urquiza de ser “um assassino que se comprazia implacavelmente na matança de setecentos prisioneiros de guerra, a quem viu expirar com um sorriso de selvagem indiferença nos lábios, e que fez do crime uma profissão” (28). Acusação verdadeira, embora omitisse esclarecer que tais crimes foram cometidos a serviço dos próprios unitários, logo após a vitória de Caseros, quando a “civilização liberal” irrompia a plenos pulmões sobre a extenuada Buenos Aires. “Aquele espetáculo foi até então – escrevia o antigo secretário do general Rivera – e Buenos Aires jamais vira insultarem de tal modo sua moral e sua temperança, nem mesmo no auge das mais detestáveis iniquidades praticadas pelos algozes vencidos” (29).
Também o volúvel acrobata do “exército libertador”, coronel Domingo Faustino Sarmiento, após narrar os fuzilamentos e a exibição dos cadáveres pendurados nas árvores dos passeios de Palermo, exclamava: “Em tempos de Rosas não nos penduraram cadáveres no passeio público!” (30). Com efeito, em tempos de Rosas, não; privilégio reservado a Urquiza e aos liberais.
O jogo enganoso e mesquinho a que se entregara o general Urquiza manteve, por longo tempo, os caudilhos federais do interior iludidos, na expectativa de suas diretrizes. O povo uruguaio oferecia o espetáculo comovente de seu heroísmo inverossímil e de sua grandeza solitária. “Entre Ríos ardia indignada diante do sacrifício de seu povo irmão – escreveu Victorica – consumado por nação estrangeira. O general Urquiza já não sabia como conter os que não esperavam senão uma ordem para ir em auxílio de tamanha desventura” (31). Muitos reclamavam dele enérgicas decisões. Entre esses, o padre Domingo Ereño, que lhe escreveu: “A indignação é geral, todos clamam outra vez para que Vossa Excelência seja o salvador do Rio da Prata, e, às ordens de Vossa Excelência, irei até com um fuzil se preciso for” (32). O sacerdote queria arregaçar a batina, mas Urquiza não se resolvia a vestir o uniforme.
A vontade popular estava tensa e as antigas bandeiras federais, bem erguidas, só careciam de um chefe de prestígio para se desdobrarem com ímpeto nacionalista e reivindicatório. Contudo, o chefe que preenchia tal condição recusava-se a assumir a tarefa. Ao padre Ereño respondeu: “Sou um chefe da Nação que me sacrifiquei por estabelecer, com toda sua força e vigor, a lei, e não viria agora a obscurecer meus serviços com o injusto título de rebelde, que em justiça me caberia, caso não fosse consequente com os princípios que regem o meu país. Não quero com isto dizer que, como homem, haja perdido o direito de simpatizar mais com uma causa do que com outra; mas faltar aos meus deveres, isto jamais, meu bom amigo” (33). Tardio puritanismo! Pena que não o tivesse descoberto em 1851, quando “os princípios que regiam o país” não o impediram de seguir o caminho da rebeldia e da traição!
As situações eram absolutamente idênticas e, portanto, as doutrinas aplicáveis também o deviam ser. Considerando a tese que agora sustentava o general Urquiza, o historiador Julio Irazuzta pergunta: “Mas, terá ele visto os fatos em toda a sua monstruosidade? Que o Brasil, promotor da aliança, seguia em 1865 a mesma política de 1852, que não consistia em civilizar o Prata, mas em avassalá-lo? Que ele próprio se colocara no mesmo brete, uma década antes, quando poderia ter sido levado a fazer com seus compatriotas rosistas o que Mitre fez com os paraguaios, caso a resistência de Rosas tivesse sido tão recia quanto a de Francisco Solano López? Duvido” (34).
Os amigos de Urquiza, leais soldados do federalismo, moviam-se por princípios ideais e estavam no curso autêntico da nacionalidade, definida por suas tradições, sua personalidade histórica e as essências peculiares de seu gênio. Eles advertiam quão nocivas eram as ideias liberais que Mitre e seus adeptos pretendiam imprimir na alma nacional, e compreendiam que seu dever os obrigava a expulsar esse corpo estranho, para que a Nação e o povo recuperassem plenamente o manejo de sua autonomia. Para tais homens, puros e idealistas, o Paraguai era parte inseparável de seu território espiritual; os inimigos eram Mitre, o Império, o liberalismo, os porteños. Assim o general Ricardo López Jordán disse a Urquiza, quando este ordenou a mobilização das cavalarias entrerrianas para apoiar o Brasil contra o Paraguai: “O senhor nos chama para combater o Paraguai – respondeu-lhe. Nunca, General; esse povo é nosso amigo. Chamai-nos a lutar contra os porteños e os brasileiros. Estamos prontos: esses são nossos inimigos” (35).
A realidade, porém, é que Urquiza há muito tempo estava em outra direção, embora, por razões de segurança e prestígio, cuidasse de dissimulá-lo. Já em 29 de agosto de 1864, o doutor Lamas, em carta confidencial ao doutor Castellanos, escrevia: “O general Urquiza está com o general Mitre, isto é, conosco” (36). Que prova maior de duplicidade?
É evidente que compromissos secretos obrigavam Urquiza a proceder como procedia. Mas também é evidente que as dúvidas de sua alma o precipitaram em um terrível conflito interior, ao qual devemos atribuir sua conduta contraditória. Pois Urquiza apoiava a política liberal de Buenos Aires, sem ousar romper de uma vez por todas os laços que o prendiam à posição contrária. Daí seus procedimentos tortuosos, a correspondência comprometedora, as promessas incumpridas…
Houve um momento em que pareceu entrever a gravidade dos fatos desencadeados no Uruguai, e pensou numa aliança com o Paraguai para repará-los. O delegado oriental em Assunção, doutor Lapido, negociava infrutiferamente a aliança do general López, quando Urquiza – segundo Cárcano – teria resolvido lançar todo o seu peso na mesa das negociações. O autor dá importância a essa intervenção e oferece detalhes e correspondência que a confirmariam (37).
Vale a pena acompanhar de perto essa intriga. Dom José de Caminos, fervoroso federal santafesino, teria se apresentado a seu tio, Dom José Rufo Caminos, cônsul paraguaio em Paraná, em 8 de novembro de 1863 (38), informando-lhe que o general Urquiza insistia para que viajasse com urgência ao Paraguai e, “valendo-se de toda a sua influência junto ao senhor presidente López, trabalhasse para que o doutor Lapido estabelecesse e consolidasse um tratado de aliança defensiva e ofensiva”. Segundo acrescentava, se tal acordo fosse alcançado, Urquiza estava decidido a “colocar-se à frente de um grande pronunciamento, que teria como resultado a separação absoluta de Buenos Aires das demais províncias”, pois — afirmava — “ele aborrece e sempre haverá de aborrecer os portenhos” (39).
O cônsul exigiu do sobrinho uma prova escrita de que esse era, de fato, o pensamento de Urquiza. Para tanto, obteve do general cartas dirigidas tanto a Rufo Caminos quanto ao presidente López, datadas de 13 de julho de 1863. O historiador que as transcreveu (40) declarou tratar-se de documentos “inéditos”, mas, seguindo o seu costume suspeito de ocultar as fontes, não explicou como as obteve nem onde se encontram. Cardozo (41), entretanto, localiza a carta enviada a López no Arquivo Geral da Nação, em Buenos Aires (42).
O certo é que nenhuma dessas cartas compromete minimamente o pensamento de Urquiza. Delas depreende-se apenas que o caudilho entrerriano aproveitou a viagem que o cônsul projetava realizar a Assunção para um simples contato epistolar — algo bem distinto de supor que a viagem tivesse sido feita a seu pedido. A única referência aos acontecimentos no Rio da Prata encontra-se em um parágrafo no qual Urquiza escreve a López: “A República Oriental sofre atualmente os horrores de uma guerra intestina que compromete sua riqueza e paralisa a rapidez com que marchava o seu progresso” (43). Eis como qualificava de “guerra intestina” a invasão mitrista-brasileira ao Uruguai.
Cardozo (44) dá relevo a esses fatos e se vale de sua dialética para sustentar a suposta intenção de Urquiza de promover “a expulsão definitiva de Buenos Aires da união com as demais províncias, isto é, a ruptura da unidade argentina e o retrocesso à situação anterior a 1859” (45). Mas nenhum documento ou fato comprova que essa tenha sido, sequer remotamente, a intenção de Urquiza, então demasiadamente empenhado em manter o nível de acordos e negócios que havia estabelecido com Mitre. Tanto é assim que o presidente López, por intermédio de Caminos — segundo o próprio Cardozo — “mandou dizer que esperava dele algum ato sério que o retirasse da situação dúbia em que se encontrava diante do governo do general Mitre” (46). O mesmo aguardava, em vão, o ilustre general Peñaloza, condenado a lutar em tremenda solidão, sustentando a agonia das hostes federais na expectativa do cumprimento das vagas promessas que lhe chegavam de Entre Ríos. Desenganado e retirado em sua casa de Olta, foi assassinado em 8 de novembro de 1863, por ordem de Mitre e Sarmiento. Sua cabeça foi exposta em uma lança como troféu da “civilização” contra a “barbárie”.
Foram os agentes orientais em Assunção os que mais insistiram em alimentar rumores de que seria iminente um “pronunciamento” do general Urquiza. O chanceler Berges recebia e organizava todas essas informações e indagava ao seu agente confidencial em Buenos Aires: “Tem o Governo Oriental algum agente privado junto ao general Urquiza para articular um grande pronunciamento das treze províncias, separando Buenos Aires da República Argentina?” (47). Acrescentava Berges que “não dava muito crédito a essas notícias, que, no entanto, me chegaram por um canal muito respeitável”, o que demonstra que esse canal não poderia ser o próprio Urquiza, pois, nesse caso, toda dúvida teria desaparecido. Essa dedução se confirma definitivamente em outra carta posterior, ao mesmo Egusquiza, na qual pede: “Não deixe também de avisar-me o que se diz em Entre Ríos sobre o general Urquiza, López Jordán e outros chefes notáveis dessa província, pois aqui chegam algumas ‘bolas’ com a intenção de nos fazer acreditar que se trata de um pronunciamento contra Buenos Aires” (48). Se as versões partissem diretamente de Urquiza, em decorrência da missão de Rufo Caminos, seria concebível que o chanceler paraguaio as qualificasse com desprezo de “bolas”? O juízo certeiro sobre Urquiza foi dado pelo próprio Berges, em carta a seu agente confidencial já mencionado, ao afirmar: “O general Urquiza observa tudo de longe…” (49).
A opinião de Egusquiza, em resposta à consulta de Berges, em 6 de agosto, também era desfavorável: “Os antecedentes de Urquiza — dizia — não são muito próprios para induzir alguém a formar alianças com ele; ainda que a política aconselhe manter boas relações com esse caudilho, a prudência ordena não depositar nele a menor confiança” (50). Quanto a Rufo Caminos, a quem Urquiza teria confiado a missão junto ao presidente López, sua opinião não guardava sequer limites de compostura, pois chamava-o de “gaúcho entrerriano, nulo e imbecil até o infinito” (51).
Todos os que se envolviam nas questões em debate no Rio da Prata desconfiavam de Urquiza. O encarregado de negócios do Uruguai em Assunção, Dom Federico Brito del Pino, comunicava a seu governo: “O cidadão de Entre Ríos parece estar fazendo o que lhe é habitual, isto é, traindo” (52). Idênticas desconfianças eram expressas pelo agente confidencial paraguaio em Montevidéu, Brizuela, que duvidava das versões sobre atitudes decisivas de Urquiza, a quem chamava “esse homem”, acrescentando que não depositava “nenhuma fé em sua política nem em seus compromissos” (53).
Urquiza colhia dúvidas e diatribes em razão de sua política esquiva e vacilante. Equilibrava-se entre Mitre e López, mantendo correspondência espinhosa com ambos. Fechava a porta a determinadas opiniões, mas cuidava de manter uma janela entreaberta. Quando se lhe pediam definições precisas, esquivava-se; e, para não desagradar, recorria a pequenos gestos de cortesia. Numa ocasião, por exemplo, durante a viagem a Assunção do já mencionado José de Caminos, este foi encarregado de, no retorno, encontrar-se com Urquiza para receber uma fotografia destinada ao chanceler Berges. Este escrevia a López, em seu acampamento em Cerro León, informando: “O general Urquiza fez comigo o mesmo que com o doutor Carreras, enviando-me seu retrato…” (54). Quando a gravidade dos problemas exalava forte cheiro de pólvora, o general Urquiza dedicava fotografias…
Apesar dessas cautelosas manobras, Urquiza foi mais longe do que desejava, e López acreditou contar com seu compromisso formal de liderar o “pronunciamento” exigido pelo federalismo argentino. O general Resquín, que atuou ao lado de López durante toda a guerra e exerceu o cargo de chefe do Estado-Maior de seus exércitos, após ser feito prisioneiro em Cerro Corá, foi levado ao quartel-general do comando do exército brasileiro, em Humaitá. Nas declarações que prestou ali, em 20 de março de 1870, afirmou que “López lhe havia dito anteriormente que o general Urquiza se comprometera a unir-se a ele para fazer guerra ao Brasil e à Confederação Argentina; mas, quando López apresentou o protesto em 30 de agosto de 1864, o general Urquiza dele se afastou” (55). Alberdi afirmou categoricamente que “López possuía documentos que o faziam esperar a cooperação do general Urquiza” (56).
É evidente que os cálculos de López se baseavam na confluência de fatores que, mais tarde, se retraíram. A pedra angular sobre a qual assentava sua construção política não era outra senão o general Urquiza. Quando, em fevereiro de 1865, chegou a Assunção o doutor Julio Victorica como enviado confidencial de Urquiza, o presidente López já tinha motivo para sentir-se decepcionado com seu aliado esquivo. Seus sistemas de informação eram tão completos que acompanhava de perto os acontecimentos e sabia o real valor das lealdades que lhe eram prometidas. Nesse caso, ainda que o mensageiro de Urquiza tivesse silenciado a respeito, López já estava ciente de que, por aqueles dias, o general fazia chegar a Mitre as cartas — privadas, e em muitos casos reservadas — que ele próprio lhe havia enviado (57). Essa manobra “confidencial”, tão característica da duplicidade de Urquiza, introduzia um elemento de grande importância no conjunto da estratégia paraguaia. Victorica, no entanto, ocultou o fato, ignorando que o presidente López já havia sido informado, com bastante antecedência. Com efeito, seu agente confidencial em Corrientes, Dom Miguel G. Rojas, em carta de 24 de janeiro, já o havia prevenido: “O general Urquiza remeterá a Mitre todos os documentos oficiais recebidos do Paraguai… e se declarará contra os paraguaios” (58).
O quadro da situação começou a se esclarecer consideravelmente. Entretanto, López não tinha obrigação de revelar suas cartas e simulou a máxima credulidade diante das informações que recebia; chegou, inclusive, a fazer uma elegante distinção entre Urquiza e Mitre. Victorica relata: “Conversamos longamente e, embora ele reconhecesse a sinceridade com que o general Urquiza lhe afirmava, por meu intermédio, que não tinha nada a temer da República Argentina se fosse respeitada a neutralidade por ele assumida, não ocorria o mesmo em relação ao general Mitre que, segundo ele, já havia firmado uma aliança secreta com o Brasil e continuava, de qualquer modo, a provocar a ruptura com o Paraguai” (59).
López era um diplomata de refinamento ímpar e utilizava a ironia com delicado requinte. Declarava acreditar na “sinceridade” do caudilho entrerriano, que se apegava à tábua de salvação de uma inexistente “neutralidade”, mas, ao demonstrar a falsidade dessa premissa, desvalorizava o adjetivo “sincero” que havia aplicado a ele. Prova disso é que, pouco depois da visita de Victorica, escrevia a Cândido Bareiro, em Paris: “O caso está próximo de se concretizar e, embora ainda não contemos com nenhum dissidente, porque o general faltou aos seus espontâneos oferecimentos, se a guerra se tornar inevitável com aquele país, contando com a decisão e o entusiasmo de meus compatriotas, espero chegar a bom termo” (60).
Chegaram as horas decisivas, e Urquiza inclinou-se, com todo o peso de sua influência e de seus meios, para o partido do Brasil, que ele havia chamado de “odioso”, e para a causa liberal de Mitre, a qual combatera com armas nas mãos. A aparente fusão dessas duas vontades sepultou, ao longo das oprimidas terras argentinas, toda esperança de vindicação das tradições federais. As grandes palavras substituíram os pequenos fatos; de Paris, Alberdi comentou com sua rotunda eloquência: “Em vez de unir dois países, contentam-se em unir dois homens. Isso foi chamado de colher o fruto de uma grande política; isto é, conseguir que Urquiza desfizesse sua própria obra, seu próprio poder, sua própria importância” (61).
A história não comprometida tentou enterrar o mistério dessa terrível experiência de ambiguidade e defeição proporcionada pelo general Urquiza. Os motivos profundos, que se estruturam e projetam em câmaras herméticas, inacessíveis a quem não as investigue, foram estudados em outro lugar. Mas também existiram, ao que parece, fatores de superfície, vinculados a interesses materiais. Um estudioso atento da vida e dos conflitos das nações da Bacia do Prata, o mexicano Carlos Pereyra, emitiu este juízo lapidar: “Urquiza, o chefe entrerriano, depois de trair a causa de sua raça, traiu a causa de seus corrompidos, e, em vez de prejudicar estes últimos, uma vez que não havia lutado pelos paraguaios, explorou os brasileiros, tornando-se fornecedor da expedição” (62). A acusação é categórica e não deixa espaço para dúvidas.
Os historiadores brasileiros não ocultaram essas transgressões. Relatam que, nos momentos mais dramáticos da guerra oriental, durante o cerco de Paysandú, todos esperavam de Urquiza uma atitude enérgica que restabelecesse os direitos dos povos e atendesse às demandas das legiões federais, prontas para o combate. Era preciso neutralizar esse perigo. Para tanto, deslocou-se ao Palácio de San José, residência de Urquiza, o general de cavalaria Manuel Osorio. Este concertou com o velho caudilho a operação de venda de 30.000 cavalos, a 13 patacões por cabeça, rendendo 390.000 patacões (equivalente a dois milhões de francos-ouro). Um autor brasileiro, Pandiá Calógeras, após detalhar a insólita operação, comenta: “O general Osorio, o futuro marquês Derval, conhecia-lhe a fraqueza e se dispôs a servi-lo” (63). Em síntese do juízo que este ato mereceu à consciência brasileira, acrescenta: “Não existia em Urquiza a fibra de um homem de Estado: não passava de um condottieri” (64).
O que não se tornou público no momento da operação começou a ser conhecido pouco depois, quando Dom Mariano Cabal, sócio de Urquiza, fazia a entrega dos grandes lotes de cavalos adquiridos pelos brasileiros. O cônsul, Rufo Caminos, escrevia a Berges: “O manco Dom Mariano Cabal, sócio do general Urquiza na companhia de vapores, contratou com os Macados a entrega de 30.000 cavalos a 13 patacões, negócio que se acredita realizar com seu já mencionado sócio” (65).
A opinião inglesa sobre essas atitudes pouco honrosas foi expressa na época pelo tenente-coronel Thompson, que, ao chegar a Londres em 1869, afirmou que Urquiza “soube aproveitar a ocasião, salvando sua província do envio de grandes contingentes e logrando enriquecer-se e enriquecer sua região com o fornecimento de gado e cavalos para o exército aliado durante a guerra” (66). A certeza britânica, nesse sentido, não se alterou com o passar dos anos; Cuninghame Graham, em seu livro concluído em Ardoch, em 1933, afirma que Urquiza, “o sátrapa de Entre Ríos, era o homem do mistério dessa guerra” (67), acrescentando mais adiante: “Ao longo de toda a guerra, sua atitude foi ambígua, pois, por um lado, recebia mensagens de López, e, por outro, escrevia a Buenos Aires afirmando que logo teria um exército numeroso pronto para entrar em campanha. Ao fim, não se inclinou por nenhum dos contendentes, mas obteve cifras enormes vendendo gado aos aliados” (68). Não é nada marcial o retrato que, unanimemente, lhe foi atribuído; o feroz guerreiro de Vences, Pagolargo e Índia Muerta reduziu-se a um vulgar vendedor de cavalos.
Quando a guerra adquiriu repercussão pública em consequência dos episódios de Corrientes, Mitre apressou-se em escrever a Urquiza, informando-o do “ato vandalico cometido pelo presidente López”, que qualificava de “um inimigo tão pérfido quanto traidor”. Declarava prestar “a devida homenagem ao patriotismo de V.E. e às suas declarações nesse sentido, assinalando-lhe o posto que lhe cabe na fileira dos argentinos leais e valentes, que devem vindicar o honor e a dignidade da República” (69). Urquiza respondeu de imediato, admitindo que seu interlocutor “fez justiça aos meus antecedentes e à lealdade de minhas declarações, assinalando-me um posto a seu lado… para repelir como se merece a ultrajante ofensa que barbaramente nos foi infligida” (70). O irritante dessa resposta é que Urquiza traduz a esperança de que essa guerra “enquanto dará glória à República, poderá resultar na extirpação completa das dissensões políticas que anteriormente dividiram o país” (71). Ou seja: consagrar o abuso e a absorção de Buenos Aires e eliminar definitivamente as forças federais das províncias, que sustentavam a dignidade do país frente à intolerância e ao espírito de partido de Mitre e do liberalismo.
A definição tão aguardada foi produzida por Urquiza com uma amplitude inesperada; pois não apenas se manifestou satisfeito em se confundir com as facções do mitrismo, como em renovar glórias comuns com o Império. O representante brasileiro, doutor Octaviano de Almeida Rosa, escreveu-lhe para felicitá-lo pela proclamação dirigida “aos soldados de Caseros”, provando assim — dizia ele — “não apenas as virtudes cívicas de V.E., mas a fidelidade de seu coração à aliança brasileira” (72). A facada traiçoeira arrancou de Urquiza uma genuflexão versalhesca. “É-me agradável recordar — respondeu — a glória que, em Caseros, adquiriram as armas brasileiras e argentinas, cuja aliança será sempre de honra para ambas, em causa tão justa quanto aquela” (73). Palavras convencionais, sem dúvida; mas, neste caso, palavras em troca de cavalos, palavras de fornecedor, não de general. Forçado pelos compromissos tão duramente selados, Urquiza ordenou a mobilização das milícias entrerrianas e sua concentração no acampamento de Calá. A resistência popular não se atenua, e o povo se recusa a acreditar na submissão do poderoso caudilho a uma política contrária à sua trajetória e convicções. Assim o afirma o general Wenceslao Paunero ao ministro Gelly y Obes: “A divisão da vitória se nega a marchar — diz ele — e ainda se acredita que também a de Gualeguay, e isso porque ainda não confiam na atitude decidida assumida pelo general Urquiza” (74).
Urquiza e seus subordinados multiplicam sua atividade na mesma proporção em que percebem que uma resistência silenciosa lhes acompanha os calcanhares. Torna-se notório seu empenho na perseguição daqueles que resistem à guerra. O governador de Entre Ríos, Dom José Daominguez, mandou prender, em Concordia, Dom Juan Coronado, ex-secretário de Urquiza, acusando-o de “desacreditar a causa nacional de maneira subversiva” (75). O ministro do Governo, doutor Nicanor Molinas, emitiu instruções aos chefes políticos para que vigiassem os indivíduos “que se ocupam em anarquizar os cidadãos que defendem a causa nacional” (76).
No dia 3 de julho ocorreu a deserção de Basualdo e, em 8 de novembro, a insubordinação e deserção de Toledo. As deserções se generalizaram, a reação popular se intensificou e o clima de rebelião tornou-se latente. O coronel Juan Luis González informou a Urquiza que se comentava que “em Paraná, Nogoyá e Victoria, de chefes para baixo, todos estão contra V.E., e se esta marcha não é contra Mitre, eles não sairão de seus departamentos” (77).
A situação de Urquiza era de surpresa e desespero. Após o desbande de Basualdo, todas as declarações de retórica patriótica que vinha utilizando em sua correspondência com o general Mitre ficaram desautorizadas. A realidade se impôs, obrigando-o a licenciar o restante das tropas para evitar males maiores. “V.E. deve estar persuadido – escreveu a Mitre – de que ao tomar uma resolução tão grave, sem esperar suas ordens, é porque não poderia ser de outro modo, para não esterilizar na desmoralização e no desordem elementos que devem voltar a concorrer à defesa nacional, como V.E. deve estar certo de que o farão, que eu farei, sacrificando-me, se necessário, sozinho” (78). Era a confissão de um fracasso retumbante; o peso de sua solidão transparece em suas palavras desalentadas.
Gelly y Obes acompanhava os acontecimentos e enviava suas impressões a Mitre, que respondeu: “De resto, quase estou conforme com você no que se refere ao concurso material de Entre Ríos, principalmente sendo o general Urquiza um fator inerte, que de boa-fé está disposto ao bem, mas que não está à altura da situação, não compreende mais as coisas que as velhas que passaram de moda há muitos anos… dando pouca importância ao que por agora diga o general Urquiza, pois com tudo está conforme… No entanto, tudo há de ser endireitado pela razão ou pela força” (79). Pela razão ou pela força: eis Mitre em sua essência. Quanto a Urquiza, humilhado e derrotado, era necessário fazê-lo sentir todo o peso do liberalismo. O primeiro passo seria obrigá-lo a punir os últimos fiéis que lhe restavam: os soldados mais leais da divisa federal. Mitre exigia a aplicação de severos castigos aos “traidores que ousassem conspirar contra a nação… contando entre esses traidores alguns com quem V.E. parece contar para efetuar sua reserva” (80). A estocada era evidente; Urquiza não podia recusar-se a cumprir as ordens, pois a elas se somava a ameaça velada: “Se, depois do que lhe manifestei reservadamente a V.E., ainda se demorassem as medidas ditadas contra essas pessoas…” (81). Horror! E os cavalos? Teria Mitre tão duro coração que não valorizasse o sacrifício de fornecer cavalos em troca de míseros patacões?
Urquiza tentou, timidamente, salvar o prestígio de suas bandeiras e lançou uma proclamação aos “soldados de Caseros”, atribuindo-se o mérito de ter amortecido a severidade do golpe paraguaio até que Mitre pudesse chegar com suas legiões. “Por vós recuou o paraguaio em sua primeira invasão – dizia-lhes –; vós contribuístes para que um único sentimento de vingança honrosa respondesse em toda a República ao ultraje afrontoso que se disfarçava para especular sinistramente em nossas antigas dissensões. A vós deveu a província salvar seu território de se tornar o teatro sangrento da luta, mantendo-se na fronteira enquanto se reunia e organizava o grande exército” (82).
Após esta proclamação de falsos heroísmos, Urquiza emitiu ordens severíssimas e autorizou a aplicação de castigos cruéis aos reticentes. Ao general López Jordán escreveu: “Recomendo-lhe particularmente que, com a maior reserva, averigue quem foram os que, em Basualdo e Toledo, imitando o uivo dos cães e raposas, davam o sinal para a deserção, e que esses autores sejam capturados e remetidos a este Quartel-General” (83). No vocabulário urquicista, “remeter prisioneiros ao Quartel-General” significava punição sumária, como se deduz de outra carta ao mesmo destinatário: “Hoje foram fuzilados três após terem sido sumariados e condenados por conselho ordinário. Quero que persiga e remeta a este Quartel-General os oficiais Lara, Retamar e um genro do Cnl. Gutiérrez, instigadores das deserções de Toledo” (84). A ferocidade da repressão produziu, ao que parece, os efeitos que Mitre desejava. Ao menos assim comunicava Urquiza: “As medidas tomadas para reprimir as más paixões que causaram os desórdenes de Basualdo e Toledo produzem os saudáveis efeitos que deviam propor-se” (85).
Urquiza não podia descuidar-se futuramente. Cercou de extrema precaução a levada de soldados, sua concentração em regimentos e o despacho para o front da guerra. Seu panegirista Cárcano relata como, “perseverante em sua decisão patriótica”, pôde embarcar do porto de Concepción del Uruguay alguns batalhões selecionados. Para evitar surpresas, “desde seu escritório na cidade dirigia a operação”. Um oficial aproximou-se, e após saudar militarmente, disse: “Meu general, a tropa não quer embarcar-se”. A cena, na expressiva narrativa de Cárcano, merece reprodução: “Den-me minha lança, exclama o general. Salta no primeiro cavalo que encontra ao sair e parte a galope em direção ao porto… Brandindo a lança com o braço forte, parece encabeçar uma das cargas irresistíveis que tantas vezes lhe deram a vitória. Chega ao porto, revista a galope a tropa formada, lança em punho, olhando fixamente. Detém seu cavalo diante do portão do navio, e ouve-se sua voz arrogante: Comandante! Ordene que se embarquem de um em um. A voz de comando se repete, e a tropa embarca em silêncio. O navio se afasta conduzindo tranquilamente o contingente entrerriano, arrancado pelo grito de seu caudilho do abismo de seu retraimento” (86).
Esses contingentes, que eram despachados para reforçar os exércitos da Tríplice Aliança, correspondiam àqueles que Mitre acusava: “Chegou já o comandante Pintos com parte do contingente que V.E. envia dessa província. De acordo com o que V.E. me pede, disponho o retorno da custódia que trouxe o contingente” (87). Assim, Mitre e Urquiza, contrariando os sentimentos naturais dos povos, enviavam nossos jovens dignos e patriotas a lutar contra o Paraguai, um país enigmático e estranho, ao qual pretendiam abrir, por esses meios — custódias e grilhões — as correntes da civilização.
Todavia, a contribuição de Urquiza, devido à perda de prestígio e à crescente insurreição popular, ficou reduzida a essas pequenas remessas “sob custódia”, com as quais — segundo Cárcano — salvava “a dignidade de sua província sobre o pântano localista” (88). Sua capacidade de caudilho ficou gravemente comprometida. Em um esforço para reconquistar a adesão do grande partido que se opunha à guerra contra o Paraguai, levantou o estandarte da paz, situando-se nessa terra de ninguém onde se cruzavam os tiros das facções. Mitre encontrava-se em Yatay-Corá, onde havia acabado de repelir a generosa proposta do marechal López. Urquiza escreveu ao chanceler Elizalde: “Vossa Excelência sabe que trabalhei para conjurar a guerra, tanto porque busco que nela se salve a honra de nossa bandeira. Bem, desejo a vitória como desejo a paz… Não a paz como bandeira traidora de oposição e resistência… desejo-a como termo racional de toda guerra… Mostrando-nos fortes e serenos na luta e conservando a tranquilidade interior, é possível alcançá-la, salvando com a dignidade do país os principais interesses da aliança” (89). Foi uma tentativa póstuma de equanimidade, que apenas serviu para aumentar as suspeitas que sobre ele alimentavam os círculos mais ortodoxos de Buenos Aires.
Embora os defensores da causa federal nas províncias soubessem que não poderiam mais contar com Urquiza, continuavam a invocar seu nome para comprometer ou aproveitar sua autoridade. Não obtiveram resultados positivos, mas impediram a estabilidade da nova situação, a serviço do porteñismo, que Urquiza pretendia estabelecer. Todas as aspirações que o caudilho entrerriano alimentava se quebraram irremediavelmente com a insinuação de sua cumplicidade com os levantes internos que se intensificaram em 1867.
A situação do país tornou-se extremamente perigosa, impondo-se o retorno de Mitre e a retirada das tropas dos campos de batalha paraguaios. Os cenáculos porteños criticavam Urquiza, atribuindo-lhe uma influência que, naquela época, estava muito longe de possuir. O diário de Mitre — La Nación Argentina —, referindo-se a Entre Ríos, escrevia: “Não podemos dissimular, esta província é radicalmente inimiga da atualidade, não obstante ser uma das que mais prosperou… Basualdo e Toledo são duas provas recentes de que Entre Ríos não esquece seus ódios, nem diante das exigências do honor nacional, nem diante do perigo comum… A imprensa daquela província é há tempos uma propaganda raivosa de ódios tão brutais que desonram o coração humano… Se se pronunciará pela reação, tomando parte na rebelião e na traição que ela simboliza, o tempo dirá. Por ora, só sabemos que não podemos contar com sua cooperação. Como todo povo que não tem vontade própria e depende absolutamente da vontade de um homem, não se pode saber qual será a atitude de Entre Ríos. O general Urquiza o dirá, e, se devemos acreditar em seus próprios interesses, nas exigências do honor e da glória e em seus compromissos, como homem público e privado devemos esperar que condenará a reação, ou que ao menos negará sua cooperação. Não é crível de forma alguma que o general Urquiza quisesse terminar sua vida pública com uma traição à pátria, que o desonraria perante a história” (99). O artigo está repleto de implicações e sutis estocadas; conheciam bem a situação delicada que enfrentavam.
Urquiza tentou capitalizar a seu favor a conduta obscura desses anos, apresentando como ato de abnegação o que havia feito na guerra contra o Paraguai. Em 1868, escreveu ao doutor Salustiano Savalía, declarando: “Esforcei-me longamente com o senhor Mitre para evitá-la antes que estourasse; mostrei-lhe seus inconvenientes, antecipei sua duração e as calamidades que poderiam resultar, em extensa correspondência que algum dia será de domínio público, quando já não importará senão para a relação crônica dos acontecimentos; mas a guerra estourou, e o Presidente solicitou meu concurso, que prestei, arrastando forçadamente um povo para quem aquela luta era terrivelmente antipática. Tudo que era pessoal expus, e os fatos provaram que tal esforço era superior ao que humanamente podia ser exigido, embora tenha bastado para conter o inimigo (desconheçam-no a ingratidão e a lealdade) e permitir que se organizasse um exército capaz de avançar a guerra sobre o território inimigo. Depois disso, é esta província que relativamente conservou até hoje o maior contingente no exército, fato que surpreenderá a Vossa Senhoria, sem dúvida, pois houve empenho em ocultá-lo, embora o Presidente me o credite em sua correspondência privada” (91).
Buscando justificar seu lugar na história, Urquiza deformava os fatos e até se atribuía um papel profético, garantindo ter previsto que a guerra seria longa e difícil. Não era assim; na verdade, na proclamação que emitiu imediatamente após ser investido por Mitre como comandante em chefe das forças entrerrianas, anunciava: “Companheiros! Marcho para colocar-me à vossa frente. A Nação inteira está de pé. Não tardará a repelir com vigor a torpeza da afronta. Uma breve campanha, um robusto esforço e grande e imperecível será a glória”. Plagiando a fanfarronice de Mitre, previa um passeio militar e uma glória imorredoura.
Os frágeis equilíbrios do velho e desgastado caudilho federal, que tanta glória havia acumulado enquanto permanecia fiel à Confederação Argentina, apresentam-nos uma imagem melancólica dos últimos anos de sua vida. Um a um, os caudilhos do federalismo do interior recorriam a ele, mas ficavam frustrados. Urquiza os abandonava sistematicamente, incitava-os à ação apenas para depois desautorizá-los e observava com indiferença a morte, a proscrição ou o sofrimento a que eram submetidos. O general Peñaloza exemplifica essa insensibilidade pétrea; mal se inquietou quando ressoaram as palavras do imortal Hernández: “O general Urquiza ainda vive, e o general Urquiza também terá que pagar sua cota de sangue à ferocidade unitária, terá também que cair sob o punhal dos assassinos unitários” (93).
Havia um tom profético nesse vaticínio do autor de Martín Fierro, publicado em julho de 1869. Urquiza acreditava estar livre de antigas afrontas graças à sua dócil submissão às diretivas de Buenos Aires, mas os unitários — como os chamava Hernández — mantinham seus ódios até a sepultura. Para eles, o caudilho entrerriano continuava, às vésperas de seu assassinato, o gaucho feroz e a encarnação da barbárie. A soberba do iluminismo portenho não podia conciliar-se com a ignorância das massas rurais do interior, das quais Urquiza continuava sendo, a contragosto, emblema e representante.
Exatamente por esses dias, os setores mais recalcitrantes do mitrismo, agrupados em torno da Imprenta Americana, publicaram o livro do coronel Thompson, no qual afirmava: “Urquiza é o chefe de um forte partido político na República, e sobretudo em Buenos Aires” (94). Essa avaliação equivocada indignou os ilustrados portenhos, que acrescentaram em nota de rodapé: “O general Urquiza não possui em Buenos Aires o grande partido que o autor lhe atribui. A província mais avançada da República, que tanto fez para combater a política do caudilhismo que ele representa, não merece tal acusação. Urquiza obtém sua força das massas bárbaras do interior que obedecem aos Sáa e aos Varela. Conhecidos seus antecedentes e o viés político que representa, a maioria de seus partidários deve estar necessariamente em proporção inversa ao avanço político dos povos” (95).
Horrível ingratidão! Urquiza traiu seus amigos para servir a Mitre, mas Mitre abominava Urquiza para não trair seus próprios amigos. Entre os dois, Mitre sentia-se mais comprometido e, portanto, mais leal.
Tudo isso ocorria quando Urquiza havia consolidado sua política de conversão durante o período em que se discutia, na República, o problema das candidaturas. Mitre apoiava discretamente a candidatura presidencial de Elizalde. Outros grupos liberais, divididos por meras diferenças secundárias, apoiavam Sarmiento. Os governos federais promoviam novamente a candidatura de Urquiza. Era uma candidatura deslucida, após tantas deserções, mas não havia outra figura nacional que pudesse substituí-la. Era uma fatalidade dos tempos não poder prescindir dela.
A situação em Corrientes estava vinculada ao partido federal, cujo governador, don Evaristo López, apoiava a candidatura de Urquiza, embora “tenha cartas do Gral. Mitre — informava a Urquiza seu filho José Carmelo — em que lhe pede para não usar sua influência a seu favor na questão presidencial: se o fizesse, se perderia” (96). Com isso, a neutralidade de Mitre e a ostensiva carta de Tuyú-Cué ficavam por terra; contudo, o liberalismo não se perdia nessas contradições, pois seus argumentos de autoridade constituíam a única fonte da história.
A situação em Corrientes era sustentada pelo general Nicanor Cáceres, que, em 1863, alistou 600 homens para apoiar a revolução de Flores e que, ao estourar a guerra com o Paraguai, tornou-se o primeiro comandante em chefe das forças de cavalaria correntinas. Era bom amigo de Urquiza e, nessa aposta política, jogava tudo em seu cavalo.
O partido liberal portenho estava decidido a eliminar esse bastião de uma “candidatura reacionária” (como Mitre qualificava a de Urquiza) e a inverter a situação a favor de seu candidato. Infiltrou na província elementos sediciosos e armas; em 27 de maio ocorreu o levante, prendendo o governador López e instalando um governo revolucionário de corte mitrista e liberal. O general Cáceres, com as tropas leais, refugiou-se na província de Entre Ríos e não reconheceu o poder de fato estabelecido pelos revolucionários.
O governo central, invocando a situação de guerra civil na província, enviou o coronel Emilio Mitre a bordo do navio de guerra Pavón, com 2.000 homens e seis peças de artilharia, que desembarcaram em Goya em 12 de julho. No dia 31, ocorreu o combate de Arroyo Basualdo. As forças federais, sob o comando dos generais Cáceres e López Jordán, derrotaram as tropas insurgentes comandadas pelos coronéis mitristas Reguera e Ocampo. Então, o comissário nacional considerou prudente intervir para promover um acordo negociado, fazendo Urquiza participar das negociações. A primeira exigência foi a retirada do general Cáceres do serviço ativo; Urquiza acedeu.
A estupefação de Cáceres devia ser enorme. Também a do governador López, ao receber uma carta na qual Urquiza afirmava que o governo nacional estava inteiramente certo em sua posição. Ao filho José Carmelo escreveu: “Com data de ontem, enviei uma nota ao Gral. López para que observe a mais estrita neutralidade, escrevendo a ele, a você e ao coronel Martínez cartas particulares nesse sentido, porque a província de Entre Ríos não pode nem deve se misturar em uma questão em que o Governo Nacional está no terreno de seu direito, graças aos exploradores e politicões que, como já disse, infelizmente abundam” (97). Esses “exploradores ou politicões”, que o governo nacional pretendia extirpar, apoiavam a candidatura de Urquiza, e este cedia a primazia ao governo para esmagá-los.
Assim, Urquiza traiu mais uma vez seus amigos federais. E, como no caso do Paraguai, empunhou sua espada contra aquilo que havia prometido sustentar. Sarmiento, vencedor da candidatura, assumiu a presidência e enviou seu ministro Vélez Sársfield a Entre Ríos para negociar uma solução para Corrientes. Reunidos Urquiza e o comissário nacional em Concordia, foi alcançada a solução que convinha ao partido liberal portenho. O coronel Mitre informava ao general Gelly e Obes: “Devo lhe dizer que, segundo me informam o presidente e o doutor Vélez Sarsfield, a intenção do Governo Nacional é manter de pé o partido liberal em Corrientes, fazendo com que seu atual governo (o revolucionário) presida as próximas eleições de eleitores do Governador… Urquiza colocou o ombro para sustentar o acordo feito, contribuindo poderosamente para o resultado obtido” (98). Urquiza colocou o ombro para apoiar o edifício do inimigo, como vinha fazendo desde Pavón. Desta vez, a sorte recaiu sobre o leal soldado federal Evaristo López, cuja cabeça Urquiza oferecia a Sarmiento. Talvez para compensá-lo pelo que não pôde conquistar em 1861, quando aconselhava Mitre: “Não deixe cicatrizar a ferida de Pavón; Urquiza deve desaparecer da cena custe o que custar: Southampton ou a forca” (99).
Os fatos e documentos transcritos constituem a história viva de um período de nossas lutas civis, em que a bandeira da dignidade nacional, dos direitos dos povos e da boa convivência americana foi vencida mais pela mão da traição do que pela espada do inimigo. A guerra do Paraguai foi um episódio — o mais dramático e grandioso — dessas lutas civis, nas quais se definia a dimensão e a profundidade de nosso destino.
O general Urquiza teve a representação e a confiança das forças que aspiravam edificar esse destino com materiais, instituições e cultura autônomas e originais. No entanto, mostrou-se inferior à elevada hierarquia que os acontecimentos lhe conferiam. Sua deserção torceu o curso da história…
Abreviaturas utilizadas:
ANA - Archivo Nacional de Asunción
AGNA - Archivo General de la Nación Argentina
AGNU - Archivo General de la Nación Uruguaya
BNRJ – Biblioteca Nacional de Río de Janeiro
Colec.R.B. – Colección Río Branco
F.O. – Foreign Office
M.R.E.P – Ministerio de Relaciónes Exteriores del Paraguay
C.N.O . – Copiador de Notas Oficiales
C.C.C – Copiador de Cartas Confidenciales
RORA - Registro Oficial de la República Argentina (o registro nacional).
Sagarna, El hombre del pronunciamiento, de la liberación y de la organización.
Urquiza a Joaquín Madariaga: 6 de diciembre de 1846. El Paraguay Independiente, II, pág.414.Ed.de 1858 .
Tratado Derqui-Varela. Archivo Diplomático del Paraguay. Asunción. I, p.45-48
Art. 7° del tratado.
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Cfr. Sánchez Quell, La diplomacia paraguaya de Mayo a Cerro-Corá, pag.91. Kraft.colec.Cúpula. 3° ed.
Ibidem. Pág.95
Ibidem. Pág.93
Tratado Guido-Vásquez; 29 de julio de 1856. El Semanario, n° 158, 8 de noviembre de 1856.
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Ramón Carcano. Op. Cit. I página 131-53.
L fecha que indica Carcano está, evidentemente, equivocada, a tenor de la correspondencia transcripta fechada en julio y agosto de 1853. la observación la hace Cardoso, vísperas de la guerra, notas al pie de página 125 Cardoso Efraín, editorial el Ateneo 1954.
Carcano op. Cit, I pp. 131-32.
íbidem, I, pp, 132-33.
Cardoso op cit. Nota al pie de la pagina 126.
AGNA archivo Urquiza Legajo 132.
Cárcano op cit I pp, 133-33.
Cardoso, op cit. pp 125,30.
Ibídem pag 129.
Ibídem pag 129.
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Ibidem. Nota de los editores al pie de la página 29.
José Carmelo Urquiza a su padre; 8 de septiembre de 1868. AGNA, Archivo Urquiza, legajo 159.
Urquiza a su hijo José Carmelo; 4 de octubre de 1868. Ib.
Del Coronel Mitre al General Gelly y Obes; 31 de octubre de 1868. Revista de la Biblioteca Nacional, Buenos Aires, XXII, n° 53.
Sarmiento a Mitre; 20 de septiembre de 1861. Archivo Mitre, IX, pp. 360-63.
Bibliografía:
Atilio García Mellid, Proceso a los Falsificadores de la Historia del Paraguay. Imprent López, Perú 666, Buenos Aires. 20 de enero de 1964.