TROPAS EM CONFLITO, SOB O OLHAR DE J.B. ALBERDI

Leonardo Castagnino

Postado pela Ação Restauracionista em 2025-09-09 11:54:00

Postagem original: https://www.lagazeta.com.ar/tropas_alberdi.htm

Castagnino/LAS TROPAS EN CONFLICTO, BAJO LA MIRADA DE J.B.ALBERDI/1.jpg

A opinião de J.B. Alberdi

Para compreender o ânimo e a firmeza dos homens de tropa que formariam os exércitos destinados a lutar tragicamente na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, recorreremos a Juan Bautista Alberdi:

“O exército paraguaio é numeroso em relação à população porque não se distingue dela. Todo cidadão é soldado, e como não há um cidadão que não possua uma terra cultivada por si e por sua família, cada soldado defende seus próprios interesses e o bem-estar de sua família na defesa de seu país. Dois mil anos depois, a mesma lei produz o mesmo resultado, assim como a lei da gravitação atraía à Terra a pedra deixada no ar, e ainda hoje a atrai.

O exército paraguaio é relativamente superior ao do Brasil porque é composto por cidadãos, e não por aventureiros, escravos ou homens venais. Esses cidadãos são livres no melhor sentido da palavra, pois vivem de seus próprios recursos, não do Estado. Aquele que possui um pedaço de terra, um teto, uma família, e depende de seu trabalho para sustentar a própria vida, é senhor de si mesmo, isto é, verdadeiramente livre. Dez liberdades de expressão não equivalem a uma liberdade de ação; só é livre quem vive do que lhe pertence.

Todo soldado paraguaio sabe ler, e é raro aquele que não sabe escrever e contar. Essa condição não se encontra em nenhum escravo dos países modernos; e se a leitura preparasse para o servilismo, os Estados não a difundiriam entre o povo como instrumento de liberdade. Embora a paz tenha sido a regra em sua história, as armas e a arte militar sempre foram objeto de constante cultivo. Sempre ameaçados e desconhecidos em sua independência, os paraguaios viveram, desde 1810, com a consciência de que teriam de abrir caminho pelas armas para superar o bloqueio geográfico imposto pela ambição de Buenos Aires de reconquistar uma antiga província argentina. A guerra, entretanto, não é uma indústria para o paraguaio; é um simples dever de honra, a religião do patriotismo. Seu exército modesto não é abundante em generais ou coronéis, como em outras repúblicas, e os salários são insignificantes. Em casa, no exército, na paz, na guerra, em seu país ou como prisioneiro em terra estrangeira, o paraguaio mantém a consciência do que é: um cidadão que vive de seus próprios meios, e não de estipêndio estatal. Coloque nas mãos de um proprietário trabalhador e sóbrio uma terra que produza trigo, batata, milho, banana, arroz, mandioca, tabaco, cana-de-açúcar e todos os animais úteis à alimentação humana, e terá um país que é um verdadeiro celeiro, em paz e em guerra. Compare-se, sob essa perspectiva, o soldado do Paraguai com o do Brasil, e verá que nada é mais lógico do que o que ocorre nessa guerra interminável.

O soldado imperial, encarregado de conceder liberdade ao cidadão paraguaio, não é ele próprio um cidadão, mas um súdito de um monarca. Não possui propriedade, e muitas vezes foi propriedade de seu senhor no dia anterior; e se deixou de ser coisa, não é para se tornar cidadão ou exercer liberdades próprias, mas para lutar e morrer pela manutenção da escravidão de sua mulher, filhos e irmãos. Como escravo, não teve família, nem a possui como liberto. Um escravo é tanto mais valioso quanto mais humilde, automático e servil. Como exigir coragem — a virtude do soldado — de quem sempre foi submetido de forma animal? O soldado imperial que sai das correntes para atuar como libertador pertence à classe deserdada que forma a base das massas populares na América do Sul. No México, chama-se leproso; no Chile, roto; no Peru, cholo; e no Rio da Prata, onde é menos comum, ainda se chama plebe, multidão ou canalha. No Brasil, onde a terra é patrimônio de uma minoria oligárquica e a subsistência é incerta, essa classe é mais numerosa do que no México ou Chile. Dela provém a maior parte de seus exércitos, refletindo, naturalmente, suas qualidades. No chamado exército aliado, o elemento argentino é insignificante: a regra é o mulato brasileiro.

Essa classe não existe no Paraguai, e, por ação das mesmas causas, tampouco em Entre Ríos, o que explica a superioridade militar dessa província. O socialismo moderno nada teria a propor nessa Mesopotâmia, pois ali se realiza seu ideal de repartição igualitária da propriedade; e o poder militar, derivado do poder do povo, é o resultado natural de uma ordem social fundada na posse da terra distribuída, de certo modo, entre todos. A força que os paraguaios devem à terra e ao trabalho nela investido é semelhante à que os holandeses deviam à propriedade comercial e marítima quando venceram o Império de Felipe II; e que as chamadas Províncias Unidas não ignorem a história do pequeno país situado nas bocas do Reno (o “Plata” europeu), que, após longa guerra, destruiu a dominação de um império sobre cujos domínios nunca se punha o sol.

A pequena República triunfou sobre o maior dos impérios modernos porque o poder não reside no número de soldados, mas na firmeza das almas, na consciência da justiça de sua causa, na abnegação e no desinteresse patriótico. Esse recurso é abundante no Paraguai e ausente no Brasil.”

(Juan Bautista Alberdi, citado por Juan O’Leary, Historia de la guerra de la Triple Alianza, p. 90)

Fontes: