ALBERDI E A GUERRA DO PARAGUAI

Leonardo Castagnino

Postado pela Ação Restauracionista em 2025-09-08 14:43:00

Postagem original: https://www.lagazeta.com.ar/alberdi_paraguay.htm


(Polêmica Mitre–Alberdi)

“Para governar a República Argentina vencida, submetida, hostil, a aliança com o Brasil era parte essencial da organização Mitre–Sarmiento; para dar a essa aliança de governo interno um pretexto internacional, a guerra contra o Estado Oriental e o Paraguai tornava-se uma necessidade de política interna; para justificar um ataque ao melhor governo que o Paraguai já teve, era preciso apresentar esses dois governos como abomináveis e monstruosos; e López e Berro foram vítimas da lógica criminosa de seus adversários.” (Juan Bautista Alberdi)

“Em nome da liberdade e com pretensão de servi-la, nossos liberais — Mitre, Sarmiento e companhia — estabeleceram um despotismo turco na história, na política abstrata, na lenda e na biografia dos argentinos. Sobre a Revolução de Maio, sobre a guerra da independência, sobre suas batalhas e conflitos, eles têm um Alcorão que se deve aceitar, crer e professar, sob pena de excomunhão por crime de barbárie e caudilhismo.” (Juan Bautista Alberdi, Escritos póstumos. Ensayos sobre la sociedad, los hombres y las cosas de Sudamérica. Buenos Aires, 1899)

A resistência argentina à cooperação com Mitre nessa guerra “impopular e odiosa” derivava da convicção de que os obstáculos a serem vencidos não estavam em Humaitá ou Curupayty, mas no porto de Buenos Aires. As províncias interiores precisavam remover a situação que, desde tempos imemoriais, lhes era imposta por uma oligarquia portuária, insensível aos deveres para com a nação e preocupada apenas em ampliar os benefícios de suas injustas usurpações. Nesse sentido, não havia diferença entre o dano infligido ao Paraguai e o despojo sofrido pelas províncias argentinas. (AGN, t. II, p. 251)

O discurso dessa oligarquia exploradora qualificava qualquer dissidência de “traição” aos seus planos. O primeiro a sofrer esse ataque foi Juan Bautista Alberdi, após a publicação em Paris, em 1865, de um folheto anônimo:

“Toda a imprensa do General Mitre — escreveu Alberdi — recebeu a ordem de me imputar o folheto intitulado Les dissensions des Républiques de La Plata et les machinations du Brasil como um ato de traição… Que o folheto seja ou não meu é questão de pouca importância, desde que todas as suas ideias me pertencem.” (Alberdi, Los intereses argentinos en la guerra)

As ideias contidas no folheto eram propriedade irrenunciável de todos os federais argentinos, cujas liberdades e direitos eram atacados pelos exércitos do liberalismo. No entanto, a campanha passou a se personalizar em Alberdi porque sua voz era a mais respeitável e ressonante entre todas que haviam sobrevivido à hecatombe.

O ilustre pensador não deixou de se defender. Em 1867, sintetizava a essência do problema: “Fui atacado, desta vez, não por defender o Paraguai, mas por defender a República Argentina; não por ser ‘aparaguayado’, como se diz em Buenos Aires, mas por ser argentino; é o patriotismo nacional argentino bem entendido.” (Alberdi, Las dos guerras de Plata y su filiación, Paris, maio de 1867, El imperio del Brasil)

Alberdi, atacado em seu patriotismo, lançou este certero dardo contra Mitre, antigo artilheiro de Caseros: “Se ao menos eu tivesse tomado uma escarapela, uma espada, uma bandeira de outro país, para opor-me ao governo do meu, como em Monte Caseros fez outro argentino contra Buenos Aires, com a escarapela oriental, como oficial oriental, sob a bandeira oriental e aliado aos soldados do Brasil…” O destinatário não podia ser outro senão Mitre.

“Que importa López?” — perguntava Alberdi — “O que importa para a América republicana é a existência soberana do Paraguai, como garantia geográfica da Revolução Americana. Se López é déspota, a geografia o faz Libertador.” (Alberdi, Escritos póstumos, IX, p. 622)

Desde Paris, Alberdi afirmava: “Diante de ofertas de uma liberdade interna — da qual o Paraguai não suspeitava estar privado — seu povo respondeu sustentando seu governo com mais ardor e constância à medida que o via mais enfraquecido e desarmado, e à medida que via o inimigo mais profundamente em seu território e mais capaz de garantir a impunidade de qualquer insurreição. O Paraguai provou, assim, ao Brasil, que sua obediência não é a do escravo, mas a do povo que deseja ser livre do estrangeiro.” (Alberdi, Prefácio a El Imperio de Brasil, p. XV, Paris, junho de 1869)

Ainda em 1879, em conversa com o Dr. Ernesto Quesada, em Paris, Alberdi dizia:

“Para consolidar tal ‘Redenção’ e uniformizar o país nesse sentido, os homens de Buenos Aires se vincularam à política brasileira, fomentaram a revolução oriental de Flores, o escândalo de Paysandú e finalizaram com o tratado da Tríplice Aliança para destruir o Paraguai e obrigar as províncias, sob a capa da guerra internacional e pelo estado de sítio, a submeter-se à política portenha. Considerei essa guerra o mais funesto erro histórico e a maior calamidade para nossa nacionalidade; por isso a combati do exterior, como fizeram Guido Spano e o próprio Navarro Viola, que, como verdadeiros patriotas, deveriam mostrar às nossas províncias o abismo a que conduzia tal monstruosa guerra, contrária aos interesses reais do Plata e que só serviria ao Brasil para enfraquecer seus vizinhos do Sul, consolidar sua influência imperialista agressiva e legalizar suas usurpações territoriais…” (Entrevista em Paris, 6 de junho de 1879, Quesada: La figura histórica de Alberdi)

Fontes: