A Maçonaria e a Tríplice Aliança Contra o Paraguai

Leonardo Castagnino

Postado pela Ação Restauracionista em 2025-08-18 20:09:00

Originalmente publicado pelo Autor Leonardo Castagnino em seu site:

https://www.lagazeta.com.ar/masoneria_y_la_triple_alianza.htm#01


O gênio invisível.

          Em Assunção já se sabe da invasão brasileira à Banda Oriental, e talvez por sugestão de López, Sagastume destaca o santafesino José de Caminos para que proponha a Urquiza o levante contra Buenos Aires, seguido de uma tríplice aliança com o Paraguai e o governo “blanco” de Montevidéu. Urquiza já não era o Comandante em Chefe do Exército da Confederação, como nas vésperas da batalha de Caseros, mas ainda mantinha certo prestígio e o mito entre os federalistas esperançosos. Urquiza joga da mesma forma que em 1851: sem se definir para nenhum lado, entretém como então os comissários que lhe pedem o uma ação durante todo o mês de outubro de 1864. Convertia-se assim no árbitro da situação. Sua posição era ainda mais confortável do que antes, pois, em vez de precisar se aliar a uma potência estrangeira, bastava atender ao clamor de todo o país e afastar a camarilha liberal de Buenos Aires, que servia aos interesses hegemônicos do Império. O grande culpado pela entrega do Prata aos brasileiros a partir de 3 de fevereiro de 1852 tinha agora servida de bandeja a possibilidade de lavar aquela mancha oprobriosa de Caseros. Contudo, não se decidia: quais eram as causas reais e concretas de sua atitude, além de seus compromissos políticos e da defesa de seus interesses particulares? Talvez a resposta nos seja fornecida por Alcibíades Lappas, em seu livro "A maçonaria argentina através de seus homens":

          "Urquiza Justo José (1801-1870). Iniciado jovem nas atividades comerciais, ao fixar-se em Concepción del Uruguay, chegou a adquirir extensíssimas e ricas porções de terra… (…)
          Colecionou numerosas vitórias, mas sem dúvida a mais brilhante, e a que lhe serviu para lavar seu passado político, foi a de Caseros, que marcou a derrota do tirano Rosas. Urquiza, que foi praticamente dono da província, era homem de confiança de Rosas, a quem serviu lealmente durante duas décadas. Repentinamente muda de atitude, primeiro no âmbito interno provincial a partir de 1847, e quatro anos mais tarde no âmbito nacional. Essa mudança de atitude representou uma maior retidão tanto na vida pública quanto na privada (…)

Chama a atenção essa mudança repentina e a coincidência das datas.

          Não é exagero afirmar – continua Lappas – que a influência dos ensinamentos maçônicos foi decisiva a esse respeito, e dá fundamento a tal asserção a coincidência das datas entre sua iniciação, em 1847, e sua mudança de atitude no governo, refletida também na troca de seus colaboradores. Contribuiu generosamente para a aquisição e ornamentação do Templo Maçônico da Loja Jorge Washington. Por esse motivo, o Supremo Conselho da República Oriental do Uruguai lhe expressou reconhecimento e aplauso, outorgando-lhe o grau 18°.
          Empreendeu sua célebre campanha contra a tirania de Rosas e, em 3 de fevereiro de 1852, fugido do país o ditador, Urquiza entrou em Buenos Aires, assumiu o governo nacional e convocou os governadores de província à reunião de San Nicolás de los Arroyos, contando para isso com a ajuda do jovem maçom, o Dr. B. de Irigoyen, onde subscreveram o famoso acordo, base da formação constitucional da República.
          A dissidência posterior do Estado de Buenos Aires originou a separação dessa província do restante da Confederação. Urquiza instalou-se em Santa Fé e ali reuniu-se a convenção que ditou a liberalíssima Constituição de 1853, que ainda rege o país. Foi eleito depois presidente da Nação Argentina e instalou seu gabinete na cidade de Paraná. As lutas entre ambas as partes terminaram com o triunfo de Urquiza em Cepeda e a assinatura do Pacto de San José de Flores, em 11 de novembro de 1859, graças à decisiva intervenção da Maçonaria, e assim em 1860 ficou selada a união nacional.
          Obtida a pacificação após Cepeda, o Supremo Conselho da República Argentina decide outorgar ao general Urquiza o grau 33. Para tal fim, o agraciado afilia-se à Loja Confraternidad Argentina nº 2, a mesma em que militava, precisamente, o general Bartolomé Mitre. No sábado, 21 de julho de 1860, junto ao Dr. Santiago Derqui e aos generais Bartolomé Mitre, Domingo Faustino Sarmiento e Juan Andrés Gelly y Obes, Urquiza recebe o grau 33°. Por sua vez, a Loja Unión del Plata nº 1, da qual era membro o Dr. Derqui, proclama-o seu membro honorário.
          O general Urquiza, em retribuição às honrarias, presenteou, por intermédio do Dr. Pedro de Vivar, a cada um dos dignitários da Grande Loja da Argentina e aos membros do Supremo Conselho da Argentina, com uma medalha comemorativa do primeiro aniversário do Pacto de San José de Flores “em penhor de reconhecimento – reza a nota respectiva – por vosso eficaz apoio na obtenção da pacificação”.
          Em 9 de agosto de 1861, a Loja Asilo del Litoral, da cidade de Paraná, proclamou-o seu membro honorário e lhe entregou o diploma que o acreditava em tal caráter. Novas dissidências posteriores entre a Confederação e o Estado de Buenos Aires, por outros motivos, deram lugar a que se renovasse a contenda. Desta vez também o general Urquiza soube dar a vitória às armas da Confederação nos campos de Pavón. Mas, não obstante isso, o general vitorioso, em magnífico gesto de autossacrifício e renúncia, retirou-se a Entre Ríos, deixando o campo de batalha às forças opostas comandadas por Mitre, convencido de que essa era a única maneira de terminar com as dissidências e alcançar a meta ideal da pacificação definitiva.
          O presidente Derqui e o vice-presidente Pedernera o acompanharam no gesto, renunciando a seus cargos. A República ficou então unificada sob a presidência de Mitre, ao qual Urquiza prestou seu concurso político, do mesmo modo que o faria mais tarde com Sarmiento. Em 20 de agosto de 1863, o Supremo Conselho do Uruguai o designa Membro Honorário do mesmo. Tanto os filhos homens como os genros do general Urquiza foram membros da Maçonaria, tendo muitos deles destacada atuação no seio da Ordem. (…)

          (Agradecemos a Lappas a informação que nos forneceu)

          Também nos contou Mitre de sua própria boca em 29 de setembro de 1868, quando, em um banquete da maçonaria, recordando a sessão de 21 de julho de 1860 (posterior a Cepeda), diria em seu discurso referindo-se a essa batalha: “Quando nos afastamos das portas do templo, nossas espadas saíram da bainha para cruzar-se nos campos de batalha, mas ainda sobre essa desgraça e essa matança, o gênio invisível bateu de novo suas asas…”.

          Será o mesmo “gênio invisível” que teria dirigido a matança dos gaúchos federalistas das províncias e o mesmo “gênio invisível” que provocaria a guerra contra o Paraguai? Cabe recordar que a sessão secreta do Supremo Conselho da Maçonaria de 21 de julho de 1860 é a que outorga o Grau 33° a Mitre, Urquiza, Sarmiento e Juan Gelly y Obes.

          O Grande Comendador era José Roque Pérez. Note-se a atuação direta que tiveram na guerra do Paraguai todos eles, incluído Roque Pérez, que representou Sarmiento na cerimônia de instalação do governo títere em Assunção após a guerra, e cujos integrantes pertenciam também à maçonaria.

          Também pertenceram à maçonaria outros personagens que tiveram destacada e decisiva atuação na guerra contra o Paraguai, como Pedro II¹, o conde D’Eu¹, o duque de Caxias, os generais Osório e Menna Barreto, o Barão do Rio Branco, Joaquim Marcelino de Brito, Saldanha Marinho e Deodoro da Fonseca. O Paraguai era o único país da América onde praticamente não funcionava a maçonaria, que se limitava a uma loja transitória clandestina em 1845 (Loja Pitágoras) e a uma reunião maçônica a bordo do “Locust” do Comodoro Ernest Hotham (“Loja Volante Conway”).

          Também foram maçons alguns dissidentes paraguaios residentes em Buenos Aires, como o próprio Loizaga. A primeira loja maçônica no Paraguai foi criada antes da instalação do governo provisório, sob o patrocínio de Caxias em 1869:

          “Em 18 de janeiro de 1869, instalou-se em Assunção a primeira Loja regular com o distintivo de FÉ, que trabalhou no rito escocês, antigo e aceito, sob os auspícios do Grande Oriente do Brasil, do Vale Beneditino do Rio de Janeiro. A referida Loja fundou um asilo em 16 de julho de 1869 com o título distintivo da mesma Loja FÉ, que chegou a contar com mais de duas mil pessoas”. Coronel Francisco Vieira de Faría Rocha. (…)

¹ [N.T.]: Embora recaiam acusações sobre a iniciação maçônica do Imperador Pedro II e de seu genro Conde D'Eu, não subscrevemos integralmente a esta tese. Somos da posição que Dom Pedro foi um filo-maçom não iniciado e nos abstemos de juízo quanto as posições privadas do referido Conde, conquanto concedemos sua cooperação material tanto quanto Dom Pedro. Veja também nosso vídeo:  O IMPÉRIO NÃO FOI CATÓLICO - PARTE 2: COMO DOM PEDRO II FEZ A REPÚBLICA

Fontes: