O OPUS DEI: UM FARISEÍSMO, UM SADUCEÍSMO, UM HERODIANISMO?

A Igreja Católica hoje está imersa em múltiplos problemas. Infelizmente, esses problemas têm se encarnado nos últimos quinze anos e já estão institucionalizados...

Postado pela Ação Restauracionista em 2025-07-13 14:49:00

O OPUS DEI: UM FARISEÍSMO, UM SADUCEÍSMO, UM HERODIANISMO?

Pe. Raúl Sánchez Abelenda

PRIMEIRA PARTE: ORDEM GERAL

A Igreja Católica hoje está imersa em múltiplos problemas. Infelizmente, esses problemas têm se encarnado nos últimos quinze anos e já estão institucionalizados, ganharam carta de cidadania e formam parte da mentalidade das pessoas. Agora é muito difícil arrancá-la de lá. Durante o último Conclave, eu conversava com amigos de Buenos Aires e lhes dizia que, se por um milagre Deus nos desse um Papa como São Pio X, que com mão enérgica e com zelo quisesse arrumar as coisas, restituindo, por exemplo, o verdadeiro culto, que está na Missa de sempre e cuja existência tem pelo menos 1500 anos (…), se quisesse arrumar isso, esse Sumo Pontífice ficaria com dez pessoas, porque as mesmas pessoas que querem que as coisas estejam bem já têm a mentalidade mudada. Na nova missa, por exemplo, a única coisa que não querem é que haja violões, e o problema da nova missa nunca foi o dos violões. O problema é se o rito é ou não conservado (…).

Na esteira do Concílio Vaticano II, que foi a eclosão de algo muito sedimentado, a Igreja foi embebida em liberalismo, e não é ofensa para ninguém dizer isso, porque nas próprias proclamações das autoridades oficiais está o liberalismo. Algumas inclusive empregam fórmulas que são marxistas, como a do “homem novo”, mas o homem novo que agora se menciona nunca é colocado numa perspectiva sobrenatural; a esse “homem novo” (São Paulo também fala do “homem novo”, mas o homem novo que agora se menciona nunca é colocado numa perspectiva sobrenatural) que simplificam, colocam-no sempre em coisas temporais.

Dentro desse liberalismo, dizia eu, que tem carta de cidadania na Igreja, está o chamado “liberalismo de terceiro grau”.

O “liberalismo de primeiro grau” é o laicismo. O de “segundo grau”, que foi o que predominou nos últimos oitenta anos de nossa cultura argentina, consistia em respeitar um catolicismo de consciência (que o catolicismo fosse ensinado nas paróquias, nas escolas públicas após o horário de aula, e também alguma província admitiu o ensino religioso, etc. etc.). De modo que se trata de um “liberalismo católico”.

Pois bem, o “liberalismo de terceiro grau” é o catolicismo liberal, e o catolicismo liberal foi condenado pela Doutrina da Igreja, e remeto-me aos Papas Gregório XVI com a Mirari Vos, Pio IX com a Quanta Cura e com o Syllabus (proposição 80).

Eu coloco o Opus Dei no “liberalismo de terceiro grau”: é um catolicismo liberal, e entre o liberalismo e o catolicismo não há acordo possível. Remeto-me à obra, que continua vigente, O Liberalismo é Pecado, de Sardá y Salvany, e também à formidável pequena obra do Cardeal Billot, O Erro do Liberalismo.

E as três tentações de nosso Senhor Jesus Cristo dão sentido aos múltiplos problemas que a Igreja vive. Reparemos que o demônio não pode apresentar a última tentação de uma só vez; teve, ao contrário, que ir gradualmente (…). O demônio não pôde apresentar abertamente a terceira tentação a Cristo; em contrapartida, é muito fácil que um católico com certa espiritualidade, exercitando-se para vencer as paixões, fuja das tentações sensíveis e não consiga resistir ao convite para “conquistar o mundo”. O diabo então lhe diz: “Conquista o mundo, porque tu, quando conquistares o mundo, o conquistarás para Cristo!”.

Então eu pergunto: com que tipo de tentação o Opus Dei está entremeado? Está entremeado com a terceira tentação, que o diabo não pode apresentar abertamente diante de nós. Não se esqueçam de que isso de querer ganhar o mundo para Cristo parece muito apostólico…

Eu sustento que o Opus Dei faz uma síntese de três coisas que não são cristãs, e nisto me remeto à história. Quais foram os inimigos clássicos de Jesus Cristo enquanto viveu sua vida pública? O farisaísmo, o saduceísmo e o herodianismo. Os herodianos aparecem menos, no entanto, dialetizam a obra de Jesus Cristo. “É lícito pagar o tributo a César?”… Os herodianos o questionaram, porque não queriam a dominação romana, e então dialetizam Nosso Senhor com os problemas deste mundo, e Nosso Senhor, a Sabedoria infinita, manda “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Ou seja, essa dialética entre o temporal e o sobrenatural é de cunho herodiano.

O Opus Dei, diz Monsenhor Escrivá de Balaguer, tem que se voltar para o mundo e se secularizar, e acrescenta que não deve haver dialética entre progressismo e integrismo, entre mundo e espiritualidade (…).

Quais são as objeções que os saduceus fazem a Jesus Cristo? Os saduceus não creem na ressurreição da carne (…). O saduceísmo é algo puramente temporal, e o Opus Dei tem um cunho saduceu com esse apetite pelo temporal, pelos poderes da política, da economia, o poder que o dinheiro dá, etc., etc.

E o farisaísmo, como diz o Padre Castellani repetindo São Gregório Papa, é a corrupção do que é religioso. E acreditar que eu me salvo porque pertenço ao Opus Dei denuncia uma religiosidade muito doentia.

Mas penso que, entre este herodianismo, este saduceísmo e este farisaísmo, a chave é dada (e isto pode escapar às pessoas do Opus Dei e aos que simpatizam com ele) pelo saduceísmo. O saduceísmo foi algo que já nos tempos de Jesus Cristo se arrastava do Antigo Testamento; por isso, ao dizer que o Opus Dei defende um neossaduceísmo nos católicos militantes ou praticantes, dizemos que o Opus Dei está ressuscitando algo do Antigo Testamento.

E o saduceísmo, embora existam matizes, vem a ser um sinônimo do calvinismo. O calvinismo aparece no século XVI, recolhe a reforma luterana, com sua cultura clássica se propõe a dar um sentido clássico àquilo que havia de tosco e selvagem na doutrina de Lutero, e fundamenta a salvação estabelecendo a predestinação.

Como Calvino faz para fundamentar essa predestinação? De um modo gráfico, ele se pergunta: “Como sei eu, ou como sabem os cristãos calvinistas, que estou, ou que estão salvos?”. Ele se vale de e retoma um contexto do Antigo Testamento. Vocês sabem que Nosso Senhor teve que aplicar com os judeus, que eram de dura cerviz, uma pedagogia que ia do interno para o externo, do sensível para o espiritual (pedagogia que depois iria depurando). Assim, fazia uso de bens materiais: quem é fiel a Deus tem bens materiais (que naquela época eram representados pela prole, rebanhos de ovelhas, campos, embarcações, etc.). A bênção de Deus, nesse contexto, manifesta-se com bens materiais, outorga poder.

E no livro de Jó, encontramos um exemplo claro. O protagonista, que não é hebreu, pode ser semita, e os especialistas sustentam que pode ter sido idumeu, é provado por Deus. Deus permite que seus campos se queimem, que seus animais e seus filhos morram, que até se torne leproso e termine coçando suas úlceras com um caco de telha num monte de esterco, enquanto seus amigos o reprovam: “Tu que foste sempre tão bom com Deus e tão fiel à Lei, como é que Deus te castiga?”. Claro, perante seus contemporâneos, Jó aparecia como maldito, já que o sinal de ser abençoado por Deus era ser rico. Jó renega o dia de seu nascimento, mas — como dizem as Sagradas Escrituras — nunca pecou. Passada a prova, Deus abençoa Jó devolvendo-lhe aquilo de que o havia privado, mas multiplicado. De modo que, no Antigo Testamento, o abençoado por Deus era o homem favorecido temporalmente. E isto nos leva a Calvino.

Max Weber aponta o protestantismo como promotor do capitalismo liberal. Mas, que protestantismo? O protestantismo calvinista: não é à toa que o calvinismo influenciou muito a Inglaterra — dona de dois mares e da Commonwealth —, e os Estados Unidos, tanto em sua constituição como em seu sistema de governo, e depois em seu espírito imperialista, que os impulsionou a buscar expandir-se para o oeste e para domínios mexicanos, espanhóis, etc.

Assim, então, o calvinismo retoma a figura do Antigo Testamento e sustenta que o cristianismo calvinista (o “cristianismo verdadeiro”) que crê no poder temporal poderá se sentir seguro de estar salvo. O sinal, então, é ter o poder das finanças, os controles da cultura, integrar um gabinete, fundar universidades, integrar os conselhos de administração de bancos, etc., etc. O calvinismo é uma expressão depurada, e um pouquinho refinada, desse saduceísmo brutal que existia nos tempos de Nosso Senhor, e que forma parte da mentalidade judaica.

É a característica do Opus Dei: esse apetite por dominar o temporal para, depois, mediante esse domínio do temporal, fazer apostolado. Obviamente, eles não o dirão claramente, porque soa um pouco forte, mas sim insistirão em que sua espiritualidade é laical, é secular, em que se deve alcançar uma harmonia com o mundo.

Bem, se eu procuro uma harmonia com o mundo, tenho que me servir de tudo o que o mundo me dá. É certo que “para santificá-lo”, como diz o Opus Dei, mas não posso deixar de me valer daquilo que não somente me oferece, mas que constitui a estrutura do mundo. E qual é essa estrutura que constitui o mundo? O poder.

O poder do dinheiro, da cultura, das influências. O mundo é poder. Porque o mundo sabe que, depois dele, não há mais nada. Dizia São Paulo que “se não ressuscitarmos para a nossa fé, comamos e bebamos”, ou seja, vivamos o espírito do mundo, vivamos o poder, o poder material… com muito “equilíbrio”, por certo, com muita eutrapelia (bom humor), mas são essas as coisas “do mundo”, e essa é a postura do Opus Dei, que insiste em uma espiritualidade laical e em um compromisso com o mundo.

Pode-se fazer frente a isto com três frases do Evangelho. Em primeiro lugar, Jesus Cristo põe como norma de ouro que rege nossa conduta aquilo de “buscar primeiro o Reino de Deus”, sua ordem, sua santidade — isso significa a justiça, que é o objetivo de todo cristão, o que me torna justo diante de Deus, e me torna justo porque a Sabedoria de Deus (não a vontade de Deus) o estabeleceu como justo (a Sabedoria de Deus o estabelece e a Vontade divina o impera) —, e o resto “será dado por acréscimo”. O espírito secular, mundano, calvinista, insiste e põe a ênfase no “acréscimo”, mais do que no “Reino de Deus”.

De modo que eu busco primeiro o acréscimo, canonizo, santifico, dou primazia ao acréscimo, para depois buscar o Reino de Deus e sua justiça? Jesus Cristo não nos ensinou isso!

Outra frase do Senhor: “Não rogo pelo mundo, mas por estes que estão no mundo”. Foram as palavras testamentárias de Nosso Senhor, as que usou em seu sermão de despedida com seus íntimos, quando o Coração do Salvador se abriu de par em par, antes de se entregar com plena liberdade e por amor a seu Pai e a nós, à sua Paixão.

E aquela outra frase que pertence a Nosso Senhor, embora seja dita por São Paulo: “Não queirais conformar-vos com este século”. Isto o diz a Palavra Revelada, e junto a ela, todas as éticas cristãs, tão múltiplas, tão variadas, desde os Padres do deserto, passando por todas as correntes de espiritualidade legítimas, algumas muito fiéis, outras talvez nem tanto, apresentaram esta separação do mundo.

Quando a Igreja orienta corretamente o indivíduo, evitando o clericalismo, sempre lhe diz que o cristão, embora tenha que cumprir suas tarefas, seus deveres de estado neste mundo, não pode identificar seu fim, sua salvação eterna, sua felicidade total, com o espírito do mundo. Ou seja, o cristão, embora esteja no mundo, não deve se deixar subjugar pelo espírito do mundo, porque o espírito do mundo é contagioso e nos afasta do espírito de Cristo.

Pois bem, o calvinismo tem outra inflexão, que resulta um pouco mais sutil.

O calvinismo se caracteriza por um voluntarismo. A teologia e a filosofia cristãs sempre defenderam a primazia da inteligência sobre a vontade. Não o primado racionalista cartesiano, que já corresponde ao mundo moderno (…) “Voluntas sequitur intellectum”, ou seja, “a vontade segue o entendimento”, é um adágio, um apotegma da filosofia e da teologia católica. O objeto da vontade é o bem, mas a vontade não o conhece; quem apresenta o bem à vontade para que o deseje, o apeteça e o alcance, é a inteligência. A sã teologia, e a espiritualidade se baseia sempre em uma sã teologia, não é voluntarista, é intelectualista.

O calvinismo, pelo contrário, baseia-se em um voluntarismo radical. O voluntarismo já começou a se manifestar na decadência da Idade Média, sobretudo na obra de Guilherme de Ockham. Todo o pensamento moderno não surge de repente e por obra de René Descartes, mas se arrasta da própria corrupção da escolástica medieval (nela teve sua causa e seu processo).

De tal voluntarismo se valerá Calvino para fundamentar a teoria da predestinação.

A teoria da salvação calvinista é pavorosa, porque faz a salvação depender do capricho de Deus. Deus faz alguns homens nascerem para que se condenem e outros para que se salvem. O que está destinado a se salvar, mesmo que seja um canalha, se salva; e o que está destinado ao inferno, mesmo que seja um santo varão, se condena.

A predestinação calvinista foi condenada pela Igreja Católica, felizmente e com termos claros, como deve proceder a autoridade quando condena algo, e se deve proceder “dogmaticamente”, não “pastoralmente” (que é um termo que inventaram agora e que se presta a qualquer coisa). Quando se defende algo, deve-se precisar a tese e deve-se obrigar os fiéis, pelo menos intrinsecamente, a seguir essa definição se se quiser continuar sendo católico.

Pois bem, há uma predestinação católica, claro que há, basta a vocês verem o prólogo dessa belíssima carta de São Paulo aos Efésios. Como Deus irá ignorar, em seu ato simplicíssimo de saber — Ele que conhece, pela onipotência de sua Sabedoria, os futuros contingentes —, se alguém está salvo ou não? E os que se salvam, salvam-se pelos méritos de Jesus Cristo. O que diferencia a predestinação católica da luterana? A predestinação católica salva a justiça divina: a Sabedoria divina rege a vontade divina, embora tudo se unifique na simplicidade divina.

Em contrapartida, para Calvino, a vontade divina está sobre e se impõe à inteligência divina. E isso se manifesta ao comparar Deus como legislador e como juiz. Para nós, católicos, e conforme a doutrina de Santo Tomás de Aquino, Deus primeiro é Legislador, na ordem natural e na ordem sobrenatural. A inteligência divina estabeleceu uma ordem no mundo. Criou o mundo e o homem, rei da criação, conforme uma ordem. Uma ordem querida por Deus, mas não querida arbitrariamente. Quando se diz ordem, está se fazendo alusão direta à inteligência: é próprio, e corresponde ao sábio, ao que conhece, ordenar (…). De modo que na concepção católica permanece Deus como Legislador. Deus é nosso juiz, julgará se nós, fazendo bom uso da liberdade no tempo, cumprimos ou não a sua lei. Deus nos julgará em virtude das leis que nos deu. Não estamos obrigados a obedecer cegamente às suas leis: Ele nos fez livres para acatar ou não suas ordens. Se as tivermos acatado, se tivermos observado a lei divina, nos julgará premiando-nos. Se não a tivermos observado (somos livres para não o fazer), nesse caso, e não por um capricho, seremos condenados.

Em Calvino as coisas se invertem: prevalece o “Deus-juiz” sobre o “Deus-legislador”. Inclusive estenderá esta ideia à concepção do Direito, e chega a dizer que o Direito “é feito pela vontade dos juízes”. Não há normas objetivas no Direito, nem mesmo no Direito humano, e com maior razão não as haverá no divino.

Este calvinismo voluntarista tem que se refugiar em algo que implique e assegure o exercício do poder, do domínio, em uma concepção prometeica e voluntarista do homem, porque a base dessa pavorosa predestinação de Calvino é sua concepção voluntarista de Deus e da economia da salvação. Então Deus condena porque n'Ele prevalece a vontade e faz o que lhe dá na telha, e o que Deus faz é santíssimo e inapelável.

Pois bem, como se assegura a um cristão que ele está salvo? Como essa Vontade eterna se reflete no temporal? Como se manifesta que Deus decretou, desde seu “santíssimo capricho”, salvar-me e não me condenar, mesmo que eu seja um canalha? Deus me beneficiará com bens materiais, poder, influências, etc. Ou seja, ressuscita-se a velha concepção judaica (que antes de Cristo serviu a Deus como pedagogia), transposta agora para uma visão cristã.

Esta ideia do paralelismo entre o calvinismo e o “opusdeísmo” não é minha. O professor Elías de Tejada y Espínola a expôs claramente em uma de suas glosas, a número 3 da lição 4, página 149 do segundo tomo de sua “Filosofia do Direito”. Nela, e a propósito da concepção jurídica de um proeminente homem do Opus Dei, Álvaro d’Ors, ele observa que ela tem seu antecedente no calvinismo, no voluntarismo e saduceísmo calvinistas. Elías de Tejada não emprega exatamente a palavra “saduceísmo”, mas, em contrapartida, esta sim aparece no livro de Wast, na página 78, a propósito do poder das finanças de que se vale o Opus Dei.

Faço um resumo antes de passar à parte instrumental:

  • Há múltiplos problemas institucionalizados na Igreja, que a Igreja oficial hoje quer galvanizar, canonizando tudo o que foi feito com e a partir do Concílio Vaticano II.

  • Neste momento de pseudoequilíbrio que pode imantar, hipnotizar, adormecer tantos católicos que são justos, que vivem de sua fé, que querem ser católicos desde as entranhas, introduz-se com perigo o Opus Dei, que recolhe sempre, nos países católicos, seus fiéis, seus sócios, na direita (não gosto de falar de “direita” e “esquerda”, nem mesmo em política, porque é um modo liberal de se expressar, mas como estes termos se usam, tomo-os de modo instrumental), em nosso ambiente de direita, tradicional, cativa-os com essa ordem de fomentar a própria espiritualidade, de prepará-los para conquistar o mundo, porque esse mundo se conquista para Deus, e é preciso ter “influências no mundo”.

O Opus Dei não aceita fazer dialética entre a tradição e esta nova postura diante do mundo, esta “abertura apostólica” que nos legou o Concílio Vaticano II.

  • Há também um marcado herodianismo nesse compromisso com o mundo, que é o esquecimento das palavras divinas: “buscai primeiro o Reino de Deus…”; e um farisaísmo com esse espírito de gueto que os caracteriza e que faz com que lhes importe salvar a si mesmos e não aos demais, quando o genuíno espírito católico é ter anseio apostólico de salvar a todos, porque até o monge, o anacoreta no deserto, buscam a salvação das outras almas. Não foi à toa que Pio XI declarou Santa Teresinha “Padroeira das Missões Católicas”, uma monja reclusa em um Carmelo, que, no entanto, fez tanto pelas missões como o incansável São Francisco Xavier, que sim se esforçou materialmente. Todo espírito de oração e de sacrifício não é de gueto, mas é para todos.

  • E nessa perspectiva se inscreve o Opus Dei, especialmente com sua característica de “saduceísmo calvinista”, ou de “neocalvinismo” que ressuscita o saduceísmo, com essa marca, com essa tônica, com essa dominante, especialmente no anseio pelo temporal, por mais que as pessoas do Opus Dei digam que se trata de conquistar o mundo para Cristo.

  • É um calvinismo voluntarista, daí a convicção de estar salvo pela pertença ao grupo, e que os outros se danem (desculpem a expressão um pouco brusca), e que responde a essa concepção calvinista da predestinação pela qual Deus salva a quem quer, e condena a quem quer.


SEGUNDA PARTE: PARTE INSTRUMENTAL

Entre as coisas que o Opus Dei defende, está o pluralismo.

Uma sã doutrina católica não pode defender o pluralismo. E nisso me limito ao que diz Santo Agostinho: “só a verdade tem direito, o erro não tem direitos”. Dir-me-ão: “Padre, o Concílio Vaticano II publicou um documento sobre a liberdade religiosa, que canoniza na letra, e não só no espírito, o pluralismo e a liberdade religiosa”.

Segundo isto, parece que o erro tem tanto direito quanto a verdade… E bem, diante deste decreto do Concílio Vaticano II, eu contraponho a Quanta Cura, na qual Pio IX comprometeu sua infalibilidade.

Como foi dito da suprema cátedra romana, disse-o o Sumo Pontífice, este Concílio não foi dogmático, foi pastoral. E o dogmático prevalece sobre o pastoral. Quando vejo que o pastoral vai contra o dogmático e o obscurece, eu me atenho ao dogmático, e Pio IX, como já disse, na Quanta Cura compromete sua infalibilidade.

De modo que, então, o pluralismo não pode ser defendido (…).

O pluralismo é rechaçado pela doutrina católica, enquanto o Opus Dei no livro “Conversas com Mons. Escrivá de Balaguer” defende o pluralismo.

Jesus Cristo nos manda que confessemos publicamente nosso catolicismo. É evidente que um católico não tem necessidade de andar com um alto-falante dizendo em todas as esquinas da cidade: “sou católico!”. Mas Santo Tomás de Aquino na “Suma Teológica”, quando fala da confissão da fé (que é um ato de fé externo), sustenta que, quando a fé é posta em dúvida, é deturpada ou obscurecida, há obrigação de confessar a fé. E Jesus Cristo diz em São Lucas (há lugares paralelos também em São Mateus e São Marcos): “Àquele que me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de meu Pai”.

Assim, Nosso Senhor nos pede a confissão pública de nossa fé católica: quando esta fé católica se vê atacada ou obscurecida, eu não posso ficar de braços cruzados. E aqui Monsenhor Escrivá de Balaguer diz que não se deve confessar publicamente o catolicismo. Está na página 72 e seguintes da obra citada.

Com respeito à liberdade pessoal, encontramos uma liberdade pessoal hipertrofiada, que não está comprometida com nossa fé católica.

É bom que usemos nossa liberdade pessoal; é preciso usá-la, que para isso Deus nos fez homens. Não haveria história humana se não existisse o agente da história que é o homem, agente racional e livre (…). Mas nossa liberdade não é absoluta. A única coisa absoluta é a verdade, e Jesus Cristo disse: “a verdade vos libertará”.

Não vou discutir com quem me fale de “dignidade humana”, mas segundo nosso catecismo da infância, segundo Santo Tomás de Aquino, o correto é falar de “dignidade da natureza humana”. Sem dúvida, a natureza humana se manifesta em nós desde que somos pessoas, mas a oração que abençoa a água, a segunda belíssima oração do Ofertório da Missa tradicional diz: “Ó Deus, que maravilhosamente criastes a natureza humana e mais maravilhosamente a restituístes, abençoai…”, etc. Vemos que fala da “natureza humana”, e exalta a obra de restituição acima da de criação. Mas mesmo nessa natureza humana primeiro está a verdade, primeiro está nossa inteligência, que é feita para a verdade. E se ao homem foi concedida liberdade, será para que livremente busque e alcance o bem. Porque o homem não pode buscar e abraçar a verdade se não for livremente. O modo de ser humano diante das grandes coisas é livre (diferente das funções vegetativas, que prescindem da liberdade).

Promover como um ideal, como um desiderato, como a esfera suprema do homem, a liberdade pessoal, à margem da verdade católica, promover esse “liberalismo de terceiro grau”, está patente na obra que citei (“Conversas com…”) do fundador do Opus Dei, páginas 55 e 59, bem como em outra obra: “O Opus Dei e a liberdade religiosa e de consciência”, página 70.

A nós cabe defender a escola católica (…), não podemos [ceder] a que nossa universidade, nossa escola pública (primária e secundária) seja católica, porque o catolicismo deve primar no ensino, como deve primar em toda a estrutura cultural e política do país. Pois bem, o Opus Dei rechaça ou ignora a escola católica. Chama a atenção que nenhum dos colégios ou universidades que abriram em nosso país leve nome religioso, e que não haja traços externos de pertencimento a um grupo que se diz católico.

Fala da “autonomia universitária”. Eu sou o primeiro a defender a autonomia de cátedra, sempre que se conforme à verdade (uma autonomia de cátedra para a subversão é inadmissível). No entanto, o Opus Dei defende uma autonomia universitária não comprometida com a verdade católica (página 117 e seguintes da citada obra). É a dialética que apontei no início, a propósito do herodianismo, dialética entre integrismo e progressismo. Diz Escrivá de Balaguer: “Não temos que nos deixar levar pela falsa dialética entre integrismo e progressismo, nós estamos acima dessa dialética”. Está na página 43.

Quanto ao ecumenismo, ostenta-o.

Acabo de ler, em “Itineraires” nº 220, página 159, de fevereiro de 1978, que Louis Salleron fala do ecumenismo e diz: “o ecumenismo é a parte mais importante e misteriosa do pontificado de Paulo VI” (que é uma citação das mesmas palavras de Paulo VI, que dissera: “O ecumenismo é a parte mais importante e misteriosa de meu pontificado”).

Então, pergunta-se o mencionado autor: por que esse mistério? Se o mais importante para um Pontífice, aquilo que marca seu pontificado, não pode ter um sentido misterioso, tem que ser claríssimo!

Já sabemos para que serviu esse ecumenismo pós-conciliar. E esse ecumenismo se conforma à dinâmica e realiza o espírito do Opus Dei.

Na definição do Opus Dei está latente esse espírito secularizante, universalizante (os protestantes e os não cristãos podem integrar as fileiras do Opus Dei). “Amar apaixonadamente”, são palavras de uma homilia de Monsenhor Escrivá de Balaguer, pronunciada em 8 de outubro de 1967, no campus da Universidade de Navarra (…).

Seguindo com a obra que vimos analisando (“Conversas com Monsenhor Escrivá de Balaguer”), o jornalista que entrevista o Monsenhor faz a seguinte pergunta: “Como o Opus se insere no ecumenismo?”

Responde Monsenhor Escrivá de Balaguer: “Já contei no ano passado a um jornalista francês, e sei que a anedota encontrou eco inclusive em publicações de nossos irmãos separados, o que uma vez comentei ao Santo Padre João XXIII, movido pelo encanto afável e paterno de seu trato: ‘Santo Padre, em nossa Obra todos os homens, católicos ou não, sempre encontram um lugar amável, e não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade’. Ele riu, emocionado, porque sabia que já desde 1950 a Santa Sé havia autorizado o Opus Dei a receber como associados cooperadores os não católicos e até os não cristãos. São muitos, efetivamente, e não faltam entre eles pastores e bispos de suas respectivas confissões, os irmãos separados que se sentem atraídos pelo espírito do Opus Dei e colaboram em nosso apostolado. E são cada vez mais frequentes as manifestações de simpatia e de cordial entendimento a que dá lugar o fato de os sócios do Opus Dei centrarem sua espiritualidade no simples propósito de viver com responsabilidade os compromissos e as exigências batismais do cristão”.

Diz Monsenhor Escrivá de Balaguer que o “Caminho”, que é o livro de espiritualidade do Opus, é como o Livro dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola. Assim, “Caminho” seria um livro “dos Exercícios do século XX”.

Tive a felicidade de fazer os Exercícios Espirituais de Santo Inácio em um retiro de trinta dias e, apesar de admirá-los, não afirmo que seja a única forma de espiritualidade. Se “Caminho” se assemelha ao Livro dos Exercícios inacianos, não sei; o que sim posso afirmar é que não tem nada da “Imitação de Cristo” atribuída a Kempis.

Compreendo que a “Imitação…” possa chocar algumas pessoas, já que sua visão antropológica, sua concepção do homem e seu entorno, é um pouco pessimista. Afinal, é uma obra escrita no final do século XV, quando já a decadência da filosofia escolástica se manifestava no voluntarismo e se pressagiava a tormenta da Idade Moderna. Admito tudo isso. Mas não se pode negar que a “Imitação de Cristo” separa o espírito do mundo do espírito de Cristo. O Livro II da “Imitação…”, contém uma bomba H da vida espiritual, que, se cumprirmos, nos tornamos santos.

Ali nos diz que naquilo em que vales e não te apreciam, se o fazes por amor a Cristo, pouco te importará, e ficarás em paz, e com a paz que Deus te dá.

Bem, esta ideia da “Imitação…”, este “ama ser ignorado”, não se coaduna com essas pequenas alfinetadas de vaidade que nos dá o “Caminho”, quando diz: “sê águia!”… Seremos águias ou seremos o que Deus quiser quando nos colocar em sua glória, se por sua misericórdia nos salvarmos.

A respeito do pluralismo, na página 101 do livro que vimos estudando (da Editoral Rialp, que, diga-se de passagem, é do Opus Dei), do ano de 1968, diz o entrevistador: “Esclarecido este ponto, gostaria de lhe perguntar, Monsenhor, quais são as características da formação espiritual dos sócios que fazem com que fique excluído qualquer tipo de interesse temporal no fato de pertencer ao Opus Dei”. Entre outras coisas, responde Escrivá de Balaguer: “Como consequência do fim exclusivamente divino da Obra, seu espírito é um espírito de liberdade, de amor à liberdade pessoal de todos os homens. E como esse amor à liberdade é sincero e não um mero enunciado teórico, nós amamos a necessária consequência da liberdade, ou seja, o pluralismo”. No Opus Dei, como vemos, o pluralismo é querido e amado, não somente tolerado, e de modo algum dificultado. Assim que aqui Monsenhor Escrivá de Balaguer fala expressamente de pluralismo.

A respeito da confissão pública da fé, uma citação da página 72: “Tive ocasião, Monsenhor, de escutar suas respostas às perguntas que lhe fazia um público de mais de duas mil pessoas reunidas há um ano e meio em Pamplona. O senhor insistiu então na necessidade de que os católicos vivam como cidadãos livres e responsáveis e que não vivam de ser católicos. Que importância e que projeção o senhor dá a essa ideia?”.

E contesta o Monsenhor: “Nunca deixou de me incomodar a atitude daquele que faz profissão de se chamar católico, como a daqueles que negam o princípio da responsabilidade pessoal, sobre o qual se baseia toda a moral cristã. O espírito da Obra e de seus sócios é servir à Igreja e a todas as criaturas sem se servir da Igreja. Gosto que o católico leve Cristo, não no nome, mas na conduta, dando testemunho de vida cristã. Repugna-me o ‘clericalismo’ (bem!, há muitas classes de clericalismo, a mim também repugna ‘certo’ clericalismo). E compreendo que, frente a um anticlericalismo mau, há também um anticlericalismo bom que procede do amor ao sacerdócio, que se opõe a que o simples fiel ou o sacerdote use de uma missão sagrada para fins terrenos. Mas não pense que com isto me declaro contra ninguém. Não existe em nossa Obra nenhum anseio exclusivista, mas o desejo de colaborar com todos os que trabalham para Cristo e com todos os que, cristãos ou não, fazem de sua vida uma esplêndida realidade de serviço.”

“De resto, o importante não é só a projeção que dei a estas ideias especialmente em 1928 (data de fundação da Obra), mas a que lhe dá o Magistério da Igreja. E não faz muito tempo, com uma emoção para este pobre sacerdote que é difícil de explicar, o Concílio recordou a todos os cristãos na Constituição dogmática ‘Gaudium et Spes’, que devem se sentir plenamente cidadãos da cidade terrena, trabalhando em todas as atividades humanas com competência profissional e com amor a todos os homens, buscando a profissão humana à qual são chamados pelo simples fato de terem recebido o batismo.”

Evidentemente, aqui o ilustre Monsenhor não nos exorta a que façamos uma confissão pública de nossa Fé. Pelo contrário, diz que “não convém”, porque, cristãos ou não, basta que se trabalhe com responsabilidade pessoal. Há outros textos concordantes, mas os deixo para não me estender.

Sobre a escola católica

Na página 119 do livro, perguntam-lhe: “O senhor não opina que depois do Vaticano II ficaram antiquados os conceitos de ‘colégios da Igreja’, ‘colégios católicos’, ‘universidades da Igreja’, etc.? Não lhe parece que tais conceitos comprometem indevidamente a Igreja ou soam a Privilégio?”

A isto Escrivá de Balaguer contesta, entre outras coisas: “Devo confessar, por outro lado, que não simpatizo com expressões como ‘escola católica’, ‘colégio da Igreja’, etc., embora respeite os que pensam o contrário. Prefiro que as realidades se distingam por seus frutos, não por seus nomes. Um colégio será efetivamente cristão quando, sendo como os demais, tratando de se superar, realize um trabalho de formação completa, também cristã, com o respeito à liberdade pessoal e com a promoção da urgente justiça social”.

Diz claramente, então: “Eu não me comprometo com a expressão ‘escola católica’”, quando nossa obrigação, máxime num país liberal, é promover a escola católica.

Sobre a dialética entre integrismo e progressismo

A posição do Opus Dei está na página 43, e diz: “Mudando de assunto, nos importaria saber sua opinião a respeito do atual momento da Igreja, concretamente, como o senhor o qualificaria? Que papel o senhor crê que podem ter nesta hora as tendências que, de modo geral, foram chamadas de progressista e integrista?”.

E a resposta que dá Monsenhor Escrivá de Balaguer: “Quanto às tendências que o senhor chama de progressista e integrista, acho difícil opinar sobre o papel que podem desempenhar neste momento, porque sempre rejeitei a conveniência e inclusive a possibilidade de que se possam fazer catalogações deste tipo. Essa divisão, que às vezes se leva a extremos de verdadeiro paroxismo ou se tenta perpetuar como se os teólogos ou os fiéis em geral estivessem destinados a uma contínua orientação bipolar, parece-me que se deve, no fundo, ao convencimento de que o progresso doutrinal e vital do povo de Deus seja resultado de uma perpétua tensão dialética. Eu, em contrapartida, prefiro crer com toda a minha alma na ação do Espírito Santo, que sopra onde quer e sobre quem quer”.

Em outras palavras, o Monsenhor rejeita essa oposição porque é bipolar, dialética. Não quer dialéticas porque o Espírito de Deus está acima da dialética. Ou seja, ele assume toda a virulência da dialética e lhe dá uma aspersão de água benta.

Outro tema interessante: “amar o mundo apaixonadamente”. Encontramo-la em toda a homilia pronunciada no campus da Universidade de Navarra; aliás, assim se chama o texto em questão: “Amar o mundo apaixonadamente”.

Sobre o farisaísmo dos sócios

Remetemo-nos outra vez à obra “Conversas com Monsenhor Escrivá de Balaguer”. Pergunta o entrevistador: De que maneira o senhor estima que a realidade eclesial do Opus Dei se insere na ação pastoral de toda a Igreja e no ecumenismo?

Responde Escrivá de Balaguer: “Mais que considerar, porque uma completa exposição doutrinal seria longa, que ao Opus Dei não interessam nem votos, nem promessas, nem forma alguma de consagração para seus sócios, diversa da consagração que já todos receberam com o santo Batismo. Nossa associação não pretende de nenhuma maneira que seus sócios mudem de estado, que deixem de ser simples fiéis iguais aos outros para adquirir o peculiar status perfectionis. Pelo contrário, o que sim procura é que cada um faça seu apostolado, e se santifique dentro de seu próprio estado, no mesmo lugar e condição que tem na Igreja e na sociedade civil. Não tiramos ninguém de seu lugar, nem afastamos ninguém de seu trabalho ou de seus empenhos e nobres compromissos de ordem temporal.”

Vocês sabem que a Monsenhor Escrivá de Balaguer custou muito inscrever seu instituto na Provida Mater Ecclesia de fevereiro de 1947. Quando Pio XII dá carta de cidadania aos institutos seculares, porque [Escrivá] não queria que fosse uma “Pia União”, nem que fosse um instituto secular. Ele lhe havia dado uma expressão sui generis, ele a chamava de “associação de fiéis”, ou seja, de jure o Opus Dei é um instituto secular, embora de facto (que é onde eles põem a tônica) o neguem.

E acrescenta o Monsenhor: “Não é talvez este o momento histórico para fazer uma valoração global deste tipo. Apesar de se tratar de problemas sobre os quais muito se ocupou, com quanta alegria de minha alma!, o Concílio Vaticano II, apesar de que não poucos conceitos e situações referentes à vida e missão do laicato já receberam do Magistério suficiente confirmação e luz, há ainda, no entanto, um núcleo considerável de questões que constituem, mesmo para a generalidade da doutrina, verdadeiros problemas-limite da teologia. A nós, dentro do espírito que Deus deu ao Opus Dei, e que procuramos viver com fidelidade, apesar de nossas intervenções pessoais, parecem-nos já dignamente resolvidos a maior parte dos problemas discutidos, mas não pretendemos apresentar essas soluções como as únicas possíveis.”

Ou seja, em bom português, o Opus Dei nos diz: nossos membros são iguais aos outros, mas por outro lado sabemos que os caracteriza uma obediência total, um segredo total, um espírito de gueto, de grupo “já salvo de antemão”. Ou seja, aparecem como os melhores cumpridores do Evangelho, mas com um espírito de elite (e não estou contra as elites, sempre no mundo tem que haver elites para tudo) de sabor evangélico muito estranho. E isto se inscreve na atitude que observavam os fariseus na época de Jesus Cristo. Jesus Cristo nunca disse que os fariseus não cumpriam a lei, o que lhes reprovou foi a motivação, o espírito que os movia a fazer seus jejuns. Quando Cristo assinala em sua parábola que o publicano saiu justificado e o fariseu não, não disse que o fariseu mentia, no entanto não saiu justificado (…).

O mesmo podemos dizer das riquezas, as riquezas deverão honrar a Deus (manifestam-no as palavras que Nosso Senhor pronuncia na passagem evangélica em que a pecadora derrama óleo em seus pés). Esse espírito de hierarquização, mesmo nas coisas materiais, terá que pôr Deus acima de tudo, e isto não está claro no Opus Dei, que incita a procurar os primeiros postos em todas as ordens para depois (e se sobrar memória) buscar a glória de Deus. Existe então esse segmento de farisaísmo nesta atitude do Opus Dei.

Quero terminar minha exposição com uma frase do Reverendo Padre Meinvielle.

No ano de 1974, a Editorial Dictio publicou em um só tomo três obras do Padre Meinvielle. Estas são: “A concepção católica da política”, “Os três povos bíblicos em sua luta pela dominação do mundo” e “O comunismo na Argentina” (que é uma compilação de conferências pronunciadas entre os anos 1958 e 1962). Bem, na página 292 desta edição encontramos esta frase:

“…o povo judeu aprendeu apenas uma lição: a raça hispânica é imbatível de frente, mas só de frente. Pode ser traída se se conseguir proporcionar-lhe um tratamento devidamente dosificado de ‘cristianismo e mundo moderno’, com o qual, sob a aparência de apostolado, se lhe inoculem os vírus da antirreligião e da antipátria. Tal seria a missão na Espanha franquista do Opus Dei. A heroica Espanha de 36 foi totalmente prostituída e aviltada, e hoje, na década de 70, foi totalmente conquistada para o mundo judeu.”

Artigo Original