PREFÁCIO DO PADRE LUAN GUIDONI AO LIVRO
"O COMPLÔ ANTI-LITÚRGICO"
Canto as armas e os escritos do Sr. Dr. Yuri Maria, o primeiro entre os católicos tradicionais e radicais da Terra de Santa Cruz. Com muito ânimo aceitei o pedido de escrever este pequeno prefácio para este grande livro que marca de forma definitiva a nova era do movimento sedevacantista no Brasil e no mundo. Adianto ao leitor que o que está em suas mãos não é um livro, mas uma dinamite. Qui habet aures audiendi audiat.
Quando iniciei minha luta em defesa da tradição católica, jamais poderia imaginar que uma obra como essa pudesse ser escrita no Brasil. O reverendo Padre Anthony Cekada também pensava assim. Em um dos meus primeiros e-mails ao grande teólogo da Igreja de Santa Gertrudes, a Grande, lamentei o estado catastrófico da intelectualidade brasileira e pedi conselhos sobre como dar seguimento aos meus trabalhos. De toda aquela longa resposta que recebi, sempre preservei com grande zelo aquela máxima cekadista: “Se você quer, meu jovem, que alguma coisa boa saia do Brasil, faça você mesmo. Espere pela visita pastoral do Bispo Daniel Dolan. Ele quer conversar com você”.
Era chegada a hora. Dom Daniel Dolan estava no Brasil. Quando finalmente fiquei diante do sucessor dos apóstolos, beijei-lhe a mão de joelhos e, antes que eu pudesse pedir-lhe a bênção, fui interrompido por uma pergunta que eu já esperava: “Você é o Luan Cekada?”. Naquele mesmo dia conversamos a sós sobre o destino da tradição católica no mundo. Ao final, tomei a coragem necessária e perguntei ao bispo se eu deveria me tornar sacerdote. A resposta foi uma exclamação: “Você já deveria estar de batina!”. As gargalhadas ecoaram pelo quarto, e um seminarista, mais tarde, me confirmou que as ouviu de dentro da capela. Ele me abençoou, deu-me algumas recomendações finais, bem como o plano geral da grande missão que eu deveria cumprir — estava fundado o Seminário São José. No dia 10 de fevereiro de 2019, Dom Daniel Dolan me crismou. Tornei-me um soldado de Cristo.
Coloquei-me de imediato a trabalhar na tradução do livro Work of Human Hands: A Theological Critique of the Mass of Paul VI, do mesmo Padre Cekada, mas, para a minha surpresa, a tradução foi sabotada. O pecado apareceu na Sagrada Escritura no terceiro capítulo do primeiro livro — e no Seminário São José não foi diferente. Após muita labuta e transcorrido o espaço de um ano, o livro foi traduzido. A notícia foi motivo de festa em Santa Gertrudes, a Grande, e o Padre Cekada começou a escrever um prefácio para a edição brasileira.
Porém o pior aconteceu: Padre Cekada morreu. Perdemos um grande general e a guerra apenas havia começado. Honramos sua memória com a publicação do livro Obra de Mãos Humanas: Uma Crítica Teológica à Missa de Paulo VI. É certo que alguns homens sentem que a morte se aproxima, e eu creio que o Padre Cekada era um desses. Simbolicamente, ele entregou o próprio breviário ao nosso reitor para que me entregasse. Suas palavras foram claras: “Quero que o seminarista Luan fique com o meu breviário”. Seu desejo foi realizado.
O sedevacantismo crescia no Brasil. Foi nessa época que conheci o autor deste livro. Quando vi o Dr. Yuri pela primeira vez, ele estava em nossa humilde livraria folheando o Obra de Mãos Humanas. Era o início de sua heroica jornada.
No prelúdio dessa nova saga, entrei em contato com outro grande sacerdote, o reverendo Padre Olivier Rioult. Ele nos mandou seu livro La Semaine Sainte Réformée sous Pie XII: Bref Examen Critique, e traduzimos para o português com o título A Semana Santa Reformada sob Pio XII: Breve Exame Crítico. Outro livro que tratei de traduzir foi o Mystère d´Iniquité: Enquête Théologique, Historique et Canonique, livro escrito por um conjunto de intelectuais unidos ao Padre Paul Schoonbroodt, e que foi prefaciado por Dom Dolan e publicado em português com o título Mistério da Iniquidade: Investigação Teológica, Histórica e Canônica.
O fiel que mais se empenhava nessas leituras e que se consagrou à luta contra os hereges foi o Dr. Yuri. Dentre suas batalhas mais notáveis, destacam-se: a defesa do sedevacantismo; a refutação da posição “reconhecer e resistir” da FSSPX e Resistência; suas investigações sobre a história secreta da heresia modernista e sua infiltração na Igreja; a exposição dos erros do movimento litúrgico e a problemática das reformas da Semana Santa; a obliteração da Tese de Cassicíaco; a destruição de várias conspirações conclavistas no Brasil; a aniquilação sistemática da gnose; etc. O Apostolado São Lucas é a manifestação do seu espírito bélico. A discórdia que elimina a má concórdia era a alma do sedevacantismo nos tempos áureos.
Tudo isso mudou em 26 de abril de 2022. Dom Dolan estava morto. O luto foi global. Eu fui o único que verdadeiramente compreendeu que a chama da fé não voltaria a queimar como antes. Era chegada a era das trevas. Dom Dolan já tinha ciência de que a era das trevas do sedevacantismo seria inevitável e fez o possível para diminuir sua influência. Na noite final, quando terminamos de rezar as Completas, decidi permanecer por mais tempo na capela. Só a luz que emanava da lamparina do Santíssimo iluminava o altar naquele grande silêncio. Tive tempo suficiente para meditar em nossa conversa de anos atrás — eu sabia o que tinha de fazer.
Os anos de 2022 e 2023 foram de absoluta degeneração em todos os sentidos. A guerra civil dentro do sedevacantismo foi uma epopeia de teor apocalíptico. Somente a elite do sedevacantismo permaneceu de pé, pois o resto caiu de cabeça na modernidade — até mesmo o Seminário São José sucumbiu. Uma sucessão de eventos pífios me levou até o México, a terra dos cristeros e do fundador do sedevacantismo, o Padre Joaquín Sáenz y Arriaga. Eu era o homem certo no lugar certo, mas pelo motivo errado. Fui ordenado sacerdote no México no dia 19 de março de 2024. A Semana Santa se aproximava. “Padre Guidoni, você vai rezar a Semana Santa de Pio XII, porque eu não quero ter problemas com os padres daqui e você sabe que aqui o costume é esse”, disse o meu reitor. Não obedeci e rezei a Semana Santa segundo as rubricas de São Pio X. Para piorar a situação, algo ainda mais escabroso aconteceu. Fui solicitado a ir aos Estados Unidos da América para realizar uma missão circense. A única opção racional era retornar ao Brasil — eu não poderia trair a missão que me havia sido dada.
Reuni-me pouco tempo depois com o Dr. Yuri para dar continuidade aos trabalhos. O Apostolado São Lucas foi o maior defensor da liturgia tradicional de São Pio X no Brasil e, sem dúvida, o maior polemista nesse campo. O Dr. Yuri já acumulava um vasto acervo litúrgico de anos de debates com vários sacerdotes e leigos defensores das reformas litúrgicas. Ele havia me comunicado sua intenção de escrever um livro e seus esforços já estavam quase finalizados quando retornei ao Brasil. Meses antes do reencontro, duas traduções importantes marcaram o meio sedevacantista brasileiro: A Questão Pacelli, de Mary Ball Martínez, publicada pelo Sr. Prof. Gabriel Sapucaia, e Excomungado!: Biografia do Padre Sáenz y Arriaga, de Antonio Rius Facius, publicado pelo líder da Ação Restauracionista, o Sr. Mateus Larsan.
Comecei a ler o esboço do livro. Não precisei de dez minutos de leitura para perceber o potencial gigantesco desta obra. Qual é o fim último deste livro? É o mesmo que guiou a vida de Dom Daniel Dolan, Padre Anthony Cekada e que também me guia: a defesa da tradição católica contra os erros do mundo moderno.
A reforma da Semana Santa e suas consequências foram um desastre para a Igreja Romana. Dom Dolan e Padre Cekada sabiam disso e por isso não celebravam a Semana Santa reformada. Entretanto, a revisão litúrgica do Padre Cekada não foi tão profunda nessa matéria. Além da liturgia, há uma razão histórica e política que guiou as mudanças da Semana Santa, e aí está a importância do estudo do Dr. Yuri.
O clero após São Pio X, especialmente o clero francês e alemão, com poucas exceções de valentes sacerdotes, estava completamente a serviço do Anticristo. Todos os agentes do movimento litúrgico estavam envolvidos com grupos subversivos que desejam destruir o que sobrou da cristandade na Europa. Suas maquinações ocultas se metamorfosearam em símbolos litúrgicos modernos e foram implementados através dos infiltrados do lobby modernista no grande “ralliement” litúrgico de 1955.
A matéria aqui tratada não é simples e não pode ser compreendida em toda a sua extensão por aqueles que são desatentos à arte da história. Para tanto, aos iniciantes e também para os mais avançados, recomendamos os seguintes autores: Padre Augustin Barruel; Padre José Agostinho de Macedo; Mons. Jean-Joseph Gaume; Padre Emmanuel Barbier; Mons. Ernest Jouin e sua “Revue Internationale des Sociétés Secrètes”; Padre Jean Guillaume Gyr; Padre Gabriel Théry e seu pseudônimo Hanna Zakarias; Mons. Umberto Benigni e o “Sodalitium Pianum” (em francês, “La Sapinière”); Mons. Henri Delassus; Jacques Crétineau-Joly; Arthur Preuss; Jean Vaquié; Étienne Couvert; Léon de Poncins; os cadernos da “Société Augustin Barruel”; Padre Joaquín Sáenz y Arriaga e seu pseudônimo Maurice Pinay; Dom Daniel Dolan; Padre Anthony Cekada; Padre Paul Schoonbroodt; Louis-Hubert Remy; Alain Pascal; e Padre Olivier Rioult. Siga por esse caminho e você estará na direção correta.
Mais estudos serão necessários para compreendermos a penetração e o desenvolvimento da revolução dentro do catolicismo. O Complô Anti-Litúrgico é apenas o primeiro passo da geração pós-Cekada em direção ao retorno infalível da tradição católica. Aos espíritos mais elevados deste mundo em ruínas, proclamo: Avante!
Dou minha bênção sacerdotal ao Apostolado São Lucas, ao livro O Complô Anti-Litúrgico e ao seu autor, o Sr. Dr. Yuri Maria. Que Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe, Maria Santíssima, nos abençoem em nossa luta pela restauração da liturgia tradicional. Amém.
☧
Padre Luan Guidoni
6 de Agosto de 2024