A Vizinhança do Sr. Bergoglio
Francisco saúda seu “irmão bispo” pentecostal e entrega o ouro.
pelo Rev. Anthony Cekada
Por trinta e cinco anos, Mister Roger’s Neighborhood, um programa de TV presidido por um simpático e discreto ministro calvinista chamado Fred Rogers, ensinou às crianças americanas as vantagens da cooperação e da “bondade” genérica, e o fez totalmente sem referência a qualquer dogma religioso, calvinista, católico ou outro.
Foi o espectro de Fred, vestido com seu suéter, que me veio à mente quando me deparei com uma mensagem em vídeo que Jorge Maria Bergoglio (“Papa Francisco”) fez recentemente para o Bispo carismático protestante Tony Palmer e uma conferência dos Ministérios Kenneth Copeland. Ali estava Bergoglio — supostamente Sucessor de Pedro, Romano Pontífice, Vigário de Jesus Cristo na Terra — proferindo um discurso a protestantes americanos que mina um ensinamento católico após o outro.
É uma dose constrangedora de “bondade” ecumênica do Vaticano II, emocional, livre de dogmas. Deem “abraços” uns nos outros! Se você ainda tem um pingo de catolicismo, vai querer revirar os olhos, dizer “eca”, mover o cursor e clicar rapidamente em outra coisa (qualquer coisa!). Mas, por mais que sintamos vontade de desviar os olhos do horror deste desastre, temos que nos forçar a olhar atentamente para a carnificina doutrinária devastadora que Bergoglio espalhou em meras 600 palavras:
- Bergoglio diz que não falará italiano ou inglês, mas “‘cordialmente’, uma linguagem mais simples e mais autêntica, e esta linguagem do coração tem uma linguagem e gramática especiais. Uma gramática simples.”
- Para Bergoglio, Tony Palmer, bispo de algo chamado Comunhão Episcopal Anglicana da CEEC (Tradição Anglicana Celta) e pentecostal, é “meu irmão bispo.“
- É uma alegria para Bergoglio que grupos pentecostais como este se reúnam “para receber o Espírito,” porque desta forma “podemos ver que Deus está trabalhando em todo o mundo.“
- Bergoglio está cheio de anseio porque acontece “em nossa vizinhança [quartiere],” onde há “famílias que se reúnem e famílias que se separam. Somos meio que... permitam-me dizer, separados.”
- Por que a Igreja Católica e os grupos pentecostais estão separados uns dos outros? “É o pecado que nos separou, todos os nossos pecados. Os mal-entendidos ao longo da história. Tem sido um longo caminho de pecados que todos nós compartilhamos. Quem é o culpado? Todos nós compartilhamos a culpa. Todos nós pecamos. Há apenas um inculpável, o Senhor.”
- Ambos, a Igreja Católica e os grupos pentecostais, têm sua “moeda” — “A moeda de nossa cultura. A moeda de nossa história. Temos muitas riquezas culturais e riquezas religiosas. E temos tradições diversas. Mas temos que nos encontrar como irmãos. Devemos chorar juntos como José fez. Essas lágrimas nos unirão. As lágrimas do amor.“
- “Vamos lá, somos irmãos. Vamos nos dar um abraço espiritual e deixar Deus completar a obra que Ele começou. E isto é um milagre; o milagre da unidade começou.”
- “Peço-lhes que me abençoem, e eu os abençoo. De irmão para irmão, eu os abraço.”
Quase soa como uma paródia do liberalismo requentado dos anos 60. Ou, como se um ghostwriter sedevacantista estivesse regularmente alimentando Bergoglio com pontos de discussão durante o buffet de café da manhã da Casa Santa Marta: “Ok, Jorge, hoje comece chamando o protestante de seu ‘irmão bispo’, insinue que o Espírito Santo está por trás do falar em línguas e termine com abraços chorosos. Vamos ver como a FSSPX e a turma do The Remnant tentarão encontrar uma maneira de insistir que você é um papa de verdade depois disso!” (Divulgação completa: Bergoglio não me ligou — pelo menos nas últimas duas semanas....) Mas o dever nos obriga a ir além da paródia para examinar a gama de erros e heresias codificadas nestas emanações idiotas.
I. Bergoglio-Falando Decodificado
1. Linguagem do Coração. Bobagem sentimental e emocional, é claro, mas o que está por trás disso? A clássica noção modernista da religião em geral e da fé em particular como uma “experiência pessoal” ou um “encontro com Jesus”. As declarações públicas de Bergoglio estão repletas deste tema, e é o oposto da compreensão católica da fé — adesão do intelecto sob a influência da graça às verdades reveladas por Deus (dogmas) por causa de Sua autoridade como revelador.
Para modernistas como Bergoglio, a emoção subjetiva supera as verdades reveladas objetivas, especialmente quando essas verdades foram sistematicamente apresentadas, porque então se tornam o que Bergoglio denunciou num discurso à Congregação para a Doutrina da Fé como “um conjunto de teorias abstratas e cristalizadas”. Em vez de toda essa coisa de dogma preciso e exigente, temos o que Bergoglio chama de “uma gramática simples”. Não se preocupe com o dogma com os protestantes, porque eles podem “encontrar Jesus” sem ele.
Um mano da quebrada!
2. Meu Irmão Bispo. Esta é outra dobradinha bergogliana. Primeiro, você continua o programa de diminuir o ensinamento católico tradicional sobre a autoridade papal, colocando o papa no mesmo nível de um bispo — e nem mesmo um supostamente católico, veja bem, mas um funcionário de uma seita protestante herética.
Segundo, você destrói o ensinamento do Papa Leão XIII sobre a sucessão apostólica e as ordens sagradas, segundo o qual o Bispo Palmer (foto acima) não seria nada mais do que um leigo. Mais “teorias abstratas e cristalizadas”, sem dúvida. Os modernistas rejeitam totalmente os ensinamentos padrão da teologia católica tradicional sobre o que é necessário para a validade de um sacramento. Os conceitos de matéria e forma sacramental nem sequer são encontrados no chamado Catecismo da Igreja Católica. Portanto, embora não seja surpreendente que um modernista dos anos 60 como Bergoglio acredite que um protestante é um “irmão bispo”, é de fato bastante chocante ouvir um homem de batina branca que afirma ser o papa dizer isso em voz alta. Onde está a indignação dos líderes de torcida conservadores de mente tortuosa como o Pe. Zuhlsdorf, Jimmy Aikin e a equipe do The Wanderer?
Ah, ele precisa de um abraço!
3. Deus Operando Através de Hereges Falando em Línguas.
Pentecostais como Palmer, Copeland e seus seguidores balbuciam jargões incompreensíveis em voz alta em suas reuniões e afirmam que é o Espírito Santo falando. Segundo o raciocínio de Bergoglio, desta forma “podemos ver que Deus está operando em todo o mundo”.
Uh, Deus opera. Recebemos o Espírito Santo. Através de jargões. Proferidos por hereges.
Como Bergoglio pode dizer algo tão estúpido sobre uma seita pentecostal como a de Palmer e Copeland? Fácil. Por causa do ensinamento do Vaticano II sobre o ecumenismo, segundo o qual mesmo religiões não cristãs são meios de salvação usados pelo Espírito Santo, e porque a fé para Bergoglio não são dogmas, mas experiência religiosa pessoal ou “a linguagem do coração.”
4. Igreja e Seita são “Famílias” na Mesma “Vizinhança”.
Entendeu? O artigo do Credo “Creio na Igreja una...” foi atualizado para “Creio na vizinhança una”, e a compreensão da Igreja como “o reino de Deus na terra governado pela autoridade apostólica” (D. Palmieri) é substituída pelo Clube da Família da Vizinhança. Você não tem uma família de Deus sob uma autoridade (Vigário de Cristo) sobre todos os seus servos (famuli), mas múltiplas famílias que “se separam” umas das outras — não participam, talvez, dos mesmos churrascos, corridas de saco e lutas de balão d'água no clube da vizinhança.
Bom vizinho!
5. Igreja e Seita são Separadas por Causa do “Pecado”.
Com isto, Bergoglio certamente não quer dizer um pecado de heresia por parte dos não católicos. Dado o seu conceito de fé, tal seria impossível, porque para ele o dogma não existe exceto como “teorias abstratas e cristalizadas”. “Pecado” para ele, antes, parece significar nada mais do que faltas morais e mal-entendidos que levam a discussões entre famílias na vizinhança — as famílias do Papa, de Calvino, de Lutero, de Tudor e de Kenneth Copeland.
A família dos Ministérios Copeland acredita no “evangelho da prosperidade” (Deus quer que os cristãos sejam ricos, e “fé”, discurso positivo e doações a ministérios cristãos sempre aumentarão sua riqueza material), que “Adão era Deus manifesto na carne”, que Deus é um homem e uma mulher, e, aliás, Adão também o era. Doutrinas como esta realmente nos separam da “família” Copeland? Ah, por favor, não se preocupe com ninharias, e vamos nos concentrar em falar a “linguagem do coração”.
Isso SIM é “rico”!
6. Igreja e Seita Igualmente Possuem Riquezas Culturais/Religiosas.
Elas também têm “tradições diversas”. Católicas: canto gregoriano, transubstanciação, teologia tomista, autoridade transmitida por Cristo e pelos apóstolos. Pentecostais: manuseio de cobras, falar em línguas, derrubar no espírito, ministérios televisivos de um homem só. Muitas riquezas religiosas diversas aí, e todas igualmente preciosas, já que as “lágrimas” (em vez do dogma) são a nova moeda a ser depositada no banco reformado do Vaticano de Bergoglio.
7. Bênçãos Mútuas e Abraços!
O superior geralmente abençoa o inferior — o pai, o filho; o papa, o bispo; o padre, o leigo — mas como somos todos iguais na Vizinhança do Sr. Bergoglio, não há mais nada que impeça um irmão bispo protestante (ou mesmo um bando de seus seguidores pentecostais) de abençoar aquele velhinho de olhos brilhantes, tagarela e parecido com um avô, o “Bispo de Roma”. E — sele o acordo livre de dogmas com um belo e grande abraço!
Gramática simples
II. Bobagens Têm Consequências
Em 600 palavras, Bergoglio mais uma vez entregou o ouro. Como apontei em 11 de Setembro para o Magistério: As Entrevistas de Francisco, suas declarações públicas criaram “um magistério que destrói seus próprios fundamentos”. Não há certeza doutrinária sobre nada em seu sistema, nem há qualquer necessidade real disso. Tudo o que você precisa é de “encontro com Jesus”, a “gramática simples do coração”, respeito por outras “tradições religiosas”, espírito de vizinhança, “lágrimas”, abraços e bênçãos mútuas — mais do que o teólogo italiano Peter De Marco já chamou de “derrapagem relativista” de Bergoglio. Tudo — tudo — é subvertido.
Alguns conservadores seriam tentados a balançar a cabeça e dizer que tal desastre nunca teria ocorrido sob aquele Rottweiler da Ortodoxia, Ratzinger. Mas não tão rápido! Acontece que o irmão bispo de Bergoglio, Tony Palmer, disse na mesma conferência carismática onde o vídeo foi exibido que não há razão agora para que existam divisões entre católicos e protestantes.
Não estamos mais protestando contra a doutrina da salvação [ensinada] pela Igreja Católica. Agora pregamos o mesmo Evangelho.
Espiando o futuro.
Hein? Desde quando? Bem, Sua Excelência o Bispo Palmer nos diz, desde a Declaração Conjunta Católico-Luterana sobre a Doutrina da Justificação de 1999, que foi aprovada, é claro, pelo chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger. (Para uma análise crítica deste documento carregado de heresias, veja aqui.)
Num colóquio ecumênico em 1993, além disso, Ratzinger disse que não poderíamos prever como seria o papado vinte anos depois. Num artigo contemporâneo intitulado Ratzinger: 99% Protestante, Dom Francesco Ricossa ofereceu uma análise penetrante do pensamento de Ratzinger e concluiu que levaria à criação de uma super-igreja ecumênica livre de dogmas.
O futuro chegou!
Bem, em Bergoglio, vimos a face deste novo papado: ele usa um nariz de palhaço, posa para selfies, ataca os tradicionalistas, diz “nenhum Deus católico” e reduz os ensinamentos dogmáticos e morais da Igreja a uma papa em busca do ecumenismo. Após o fiasco do vídeo Palmer/Copeland, o “Fenômeno Francisco” levou até mesmo alguns protestantes a expressarem suas preocupações de que Bergoglio esteja criando “uma religião mundial emergente.” Esta perspectiva deveria assustar ainda mais os católicos fiéis. O objetivo secular dos inimigos da Igreja — as forças organizadas do naturalismo que existem desde o século XVIII — tem sido criar uma religião mundial livre de dogmas que apele à emoção sem impor restrições doutrinárias ou morais. Em Bergoglio, eles têm o homem para o trabalho.
Sobre o reinado de Bergoglio, o comentarista conservador Professor Roberto di Mattei advertiu recentemente:
Os acontecimentos se sucedem mais rapidamente. O motus in fine velocior latino é comumente usado para indicar a passagem mais rápida do tempo no final de um período histórico.... Quanto mais alguém se distancia de Deus, mais o caos, produzido pela mudança, aumenta.
11 de fevereiro [, 2013] marcou o início de uma aceleração do tempo, que é a consequência de um movimento que está se tornando vertiginoso. Estamos vivendo uma hora histórica que não é necessariamente o fim dos tempos, mas certamente o fim de uma civilização e o término de uma época na vida da Igreja....
A cidade já está em ruínas e os soldados inimigos estão às portas.
Não, mais. O inimigo já está dentro dos muros, e o mais perigoso de seus líderes agora governa a vizinhança, um tipo sorridente de Mister Rogers em vestes brancas tranquilizadoras — mas com o coração de um Robespierre.
Escrito pelo Rev. Anthony Cekada. Publicado na terça-feira, 25 de fevereiro de 2014, às 10:01.