Citações Pró-Sedevacantismo de Dom Lefebvre
NOTA DO PE. CEKADA: Em discussões em vários fóruns, notei que muitos apoiadores da FSSPX não conseguem acreditar que Dom Lefebvre JAMAIS tenha dito QUALQUER COISA que favorecesse o sedevacantismo, insinuando, no processo, que os veteranos sedevacantistas da FSSPX como eu são mentirosos ou delirantes.
Abaixo está um artigo de John Daly que fornece uma boa seleção de citações “pró-sede” do Arcebispo. Acho que é hora de os legalistas da FSSPX deixarem de lado as ideias falsas que lhes foram alimentadas sobre Dom Lefebvre como o grande anti-sede.
Como este é um artigo bastante longo, tomei a liberdade de colocar em negrito algumas passagens nas citações de Dom Lefebvre.
ARCEBISPO LEFEBVRE E O SEDEVACANTISMO
por John Daly
(Four Marks, 2006)
Até onde sabemos, o Arcebispo Lefebvre nunca formou um juízo definitivo de que João Paulo II não era um papa verdadeiro. Portanto, se dividirmos o espectro eclesiástico em duas categorias, aqueles para quem a sé está legalmente vaga e aqueles para quem está legalmente ocupada, o Arcebispo Lefebvre estará no campo não sedevacantista.
Mas tais divisões nem sempre são úteis. Se dividirmos o reino animal entre bípedes e o restante, nos encontraremos enganosamente próximos aos perus. Existem outros critérios de avaliação. O Arcebispo Lefebvre admitiu que os sedevacantistas poderiam muito bem estar certos? Ele os considerava membros íntegros da Igreja? Ele confessou que seu perseverante reconhecimento de João Paulo II se devia mais a uma hesitação heroicamente cautelosa do que a qualquer convicção sólida? Ele previu declarar a vacância da Santa Sé se a situação continuasse inalterada? Ele insistiu que resolver a questão de saber se os “papas” do Vaticano II eram verdadeiramente papas ou não era um dever importante, a não ser evitado? Ele sustentava que o Vaticano II era inequivocamente cismático? Ele sustentava que o Vaticano II era inequivocamente herético? Ele acreditava ser impossível interpretar o Vaticano II em um sentido ortodoxo? Ele rejeitou categoricamente todas as reformas conciliares? Ele declarou que o Vaticano II havia fundado uma religião nova, falsa e cismática? Ele negou que os membros da nova Igreja do Vaticano II fossem católicos? Ele duvidava da validade dos novos ritos da Missa, ordenação e sagração episcopal? Ele sustentava que João Paulo II e seus capangas já estavam excomungados? Ele se alegrou por estar separado da Igreja de João Paulo II? Ele empregou conscientemente professores de seminário sedevacantistas em Ecône, ordenou e designou ministérios a clérigos sedevacantistas e enviou seus seminaristas para ganhar experiência pastoral com um padre sedevacantista?
Você pode achar surpreendente, até mesmo desconcertante, mas a resposta a todas as perguntas acima é “sim”, como veremos em breve. Mas deve-se enfatizar primeiro que não estamos estudando as convicções do Arcebispo Lefebvre para aceitá-las como necessariamente sólidas e judiciosas em todos os aspectos. Nem negamos que outros textos aparentemente contraditórios possam ser citados dele sobre muitos desses pontos. O interesse da atitude do falecido prelado em relação à Igreja Conciliar reside em outro lugar. Voltaremos a esse assunto depois de termos mostrado que o Arcebispo de fato expressou as opiniões que lhe atribuímos. Para fazer isso, repetiremos as perguntas acima, permitindo que as próprias palavras e ações do Arcebispo as respondam.
O Arcebispo Lefebvre admitiu que os sedevacantistas poderiam muito bem estar certos?
“Sabe, há algum tempo, muitas pessoas, os sedevacantistas, vêm dizendo: ‘não há mais papa’. Mas acho que para mim ainda não era hora de dizer isso, porque não era certo, não era evidente…” (Palestra, 30 de março e 18 de abril de 1986, texto publicado em The Angelus, julho de 1986)
“A questão é, portanto, definitiva: Paulo VI é, Paulo VI alguma vez foi, o sucessor de Pedro? Se a resposta for negativa: Paulo VI nunca foi, ou não é mais, papa, nossa atitude será a dos períodos de sede vacante, o que simplificaria o problema. Alguns teólogos dizem que este é o caso, baseando-se nas declarações de teólogos do passado, aprovadas pela Igreja, que estudaram o problema do papa herege, do papa cismático ou do papa que na prática abandona seu cargo de Pastor supremo. Não é impossível que esta hipótese seja um dia confirmada pela Igreja.” (Ecône, 24 de fevereiro de 1977, Respostas a Várias Questões Candentes)
Ele frequentemente e respeitosamente aludiu à explicação sedevacantista da crise?
“Até que ponto o papa se afastou… da tradição, ele se tornaria cismático, romperia com a Igreja. Teólogos como São Belarmino, Caetano, Cardeal Journet e muitos outros estudaram essa possibilidade. Portanto, não é algo inconcebível.” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976)
“Heresia, cisma, excomunhão ipso facto, invalidade da eleição são tantas razões pelas quais um papa poderia, de fato, nunca ter sido papa ou não mais sê-lo. Neste caso, obviamente muito excepcional, a Igreja estaria numa situação semelhante à que prevalece após a morte de um Pontífice.” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976)
“…estes recentes atos do Papa e dos bispos, com protestantes, animistas e judeus, não são uma participação ativa no culto não católico, como explicado pelo Cônego Naz no Cânon 1258§1? Nesse caso, não vejo como é possível dizer que o papa não é suspeito de heresia, e se ele continuar, ele é um herege, um herege público. Esse é o ensinamento da Igreja.” (Palestra, 30 de março e 18 de abril de 1986, texto publicado em The Angelus, julho de 1986)
“Parece inconcebível que um sucessor de Pedro possa falhar de alguma forma em transmitir a Verdade que ele deve transmitir, pois ele não pode – sem, por assim dizer, desaparecer da linha papal – não transmitir o que os papas sempre transmitiram.” (Homilia, Ecône, 18 de setembro de 1977)
“Se acontecesse que o papa não fosse mais o servo da verdade, ele não seria mais papa.” (Homilia pregada em Lille, 29 de agosto de 1976, diante de uma multidão de cerca de 12.000 pessoas)
Ele considerava os sedevacantistas membros íntegros da Igreja?
Indubitavelmente. Ele repreendeu certos padres da Sociedade excessivamente zelosos que recusavam os sacramentos aos sedevacantistas. Ele colaborou com o Bispo de Castro-Mayer depois que o prelado brasileiro deixou seu sedevacantismo bem claro. Ele aceitou numerosos seminaristas de famílias, paróquias ou grupos sedevacantistas. Ele patrocinou o “Ordo” de Le Trévoux com seu guia de lugares de culto tradicionais em todo o mundo, que sempre incluiu (e ainda inclui) certos centros de Missa sedevacantistas conhecidos. Ele sempre esteve bem ciente da presença de sedevacantistas entre os padres da Sociedade.
Ele confessou que seu perseverante reconhecimento de Paulo VI e João Paulo II se devia mais a uma hesitação heroicamente cautelosa do que a qualquer convicção sólida?
“Embora tenhamos certeza de que a fé que a Igreja ensinou por 20 séculos não pode conter erro, estamos muito mais longe da certeza absoluta de que o papa é verdadeiramente papa.” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976)
“É possível que sejamos obrigados a acreditar que este papa não é papa. Por vinte anos, Mons. de Castro Mayer e eu preferimos esperar... Acho que estamos esperando pela famosa reunião em Assis, se Deus permitir.” (Palestra, 30 de março e 18 de abril de 1986, publicada em The Angelus, julho de 1986)
“Não sei se chegou a hora de dizer que o papa é herege (…) Talvez depois desta famosa reunião de Assis, talvez devamos dizer que o papa é herege, é apóstata. Agora ainda não desejo dizê-lo formal e solenemente, mas parece à primeira vista que é impossível um papa ser formal e publicamente herege. (…) Portanto, é possível que sejamos obrigados a acreditar que este papa não é papa.” (Palestra, 30 de março e 18 de abril de 1986, texto publicado em The Angelus, julho de 1986)
Ele previu declarar a vacância legal da Santa Sé se a situação continuasse inalterada?
“É por isso que suplico a Vossa Eminência que… faça tudo ao seu alcance para nos conseguir um Papa, um verdadeiro Papa, sucessor de Pedro, em linha com seus predecessores, o guardião firme e vigilante do depósito da fé. Os… cardeais de oitenta anos têm o direito estrito de se apresentar ao Conclave, e sua ausência forçada levantará necessariamente a questão da validade da eleição” (Carta a um cardeal não identificado, 8 de agosto de 1978.)
“É impossível que Roma permaneça indefinidamente fora da Tradição. É impossível… No momento, eles estão em ruptura com seus predecessores. Isso é impossível. Eles não estão mais na Igreja Católica.” (Conferência de Retiro, 4 de setembro de 1987, Ecône)
Ele insistiu que resolver a questão de saber se os “papas” do Vaticano II eram verdadeiramente papas ou não era um dever importante, a não ser evitado?
“…um grave problema confronta a consciência e a fé de todos os católicos desde o início do pontificado de Paulo VI: como pode um papa que é verdadeiramente sucessor de Pedro, a quem foi prometida a assistência do Espírito Santo, presidir à destruição mais radical e abrangente da Igreja jamais conhecida, em tão pouco tempo, além do que qualquer heresiarca jamais alcançou? Esta questão deve um dia ser respondida…” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976)
“Ora, alguns padres (mesmo alguns padres da Sociedade) dizem que nós, católicos, não precisamos nos preocupar com o que está acontecendo no Vaticano; temos os verdadeiros sacramentos, a verdadeira Missa, a verdadeira doutrina, então por que se preocupar se o papa é herege ou impostor ou o que quer que seja; não tem importância para nós. Mas acho que isso não é verdade. Se algum homem é importante na Igreja, é o papa.” (Palestra, 30 de março e 18 de abril de 1986, texto publicado em The Angelus, julho de 1986)
Ele sustentava que o Vaticano II era inequivocamente cismático?
“Acreditamos poder afirmar, puramente por crítica interna e externa ao Vaticano II, ou seja, analisando os textos e estudando os meandros do Concílio, que, ao virar as costas à tradição e romper com a Igreja do passado, ele é um concílio cismático.” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976)
Ele sustentava que o Vaticano II era inequivocamente herético?
Numa entrevista ao Catholic Crusader de Tom Chapman em 1984, o Arcebispo caracterizou expressamente o decreto sobre Ecumenismo (Unitatis Redintegratio) como “herético”.
Ele acreditava ser impossível interpretar o Vaticano II em um sentido ortodoxo?
“Você concorda em aceitar o Concílio como um todo? Resposta: Ah, não a liberdade religiosa – não é possível!” ((Conferência de Retiro, 4 de setembro de 1987, Ecône. As palavras do Arcebispo imaginam o tipo de interrogatório a que seus seminaristas teriam sido submetidos se ele tivesse aceitado os termos do acordo que João Paulo II lhe oferecia, implicando um Cardeal-Visitador com direito a conceder ou recusar a ordenação de seminaristas. A resposta é a resposta que ele supõe que seus seminaristas teriam que dar e ele prossegue explicando que tal resposta teria permitido ao Cardeal-Visitador recusar a ordenação do seminarista – sua razão para recusar o acordo.)
Ele rejeitou categoricamente todas as reformas conciliares?
“Consideramos como nulas… todas as reformas pós-conciliares e todos os atos de Roma realizados nesta impiedade.” (Declaração Conjunta com o Bispo de Castro Mayer após Assis, 2 de dezembro de 1986)
Ele disse que o Vaticano II e seus “papas” haviam fundado uma religião nova, falsa e cismática?
“Não somos nós que estamos em cisma, mas a Igreja Conciliar.” (Homilia pregada em Lille, 29 de agosto de 1976, diante de uma multidão de cerca de 12.000 pessoas – estas palavras aparecem na versão original não corrigida do sermão, conforme gravada e relatada na imprensa)
“Roma perdeu a Fé, meus caros amigos. Roma está em apostasia. Estas não são palavras ao vento. É a verdade. Roma está em apostasia… Eles deixaram a Igreja… Isto é certo, certo, certo.” (Conferência de Retiro, 4 de setembro de 1987, Ecône)
João Paulo II “agora difunde continuamente os princípios de uma falsa religião, que tem como resultado uma apostasia geral.” (Prefácio ao Osservatore Romano de Giulio Tam, 1990, contribuição do Arcebispo apenas três semanas antes de sua morte)
Ele foi direto ao afirmar que a Igreja Conciliar não é a Igreja Católica?
“Este Concílio representa, a nosso ver e a ver das autoridades romanas, uma nova Igreja que eles chamam de Igreja Conciliar.” (Le Figaro, 4 de agosto de 1976)
“A Igreja que afirma tais erros é cismática e herética. Esta Igreja Conciliar, portanto, não é católica.” (29 de julho de 1976, Reflexões sobre a Suspensão a divinis)
Ele negou que os membros da nova Igreja do Vaticano II fossem católicos?
“Até que ponto papa, bispos, padres ou fiéis aderem a esta nova Igreja, eles se separam da Igreja Católica.” (29 de julho de 1976, Reflexões sobre a Suspensão a divinis)
“Estar publicamente associado à sanção [de excomunhão] seria uma marca de honra e um sinal de ortodoxia diante dos fiéis, que têm o direito estrito de saber que os padres a quem se dirigem não estão em comunhão com uma Igreja falsificada…” (Carta Aberta ao Cardeal Gantin, 6 de julho de 1988, assinada por 24 superiores da FSSPX, sem dúvida com a aprovação do Arcebispo Lefebvre)
Ele questionou a validade dos novos ritos da Missa, ordenação e sagração episcopal?
“Esta união que os católicos liberais querem entre a Igreja e a Revolução é uma união adúltera – adúltera. Esta união adúltera só pode gerar bastardos. Onde estão esses bastardos? Eles são [os novos] ritos. O [novo] rito da Missa é um rito bastardo. Os sacramentos são sacramentos bastardos. Já não sabemos se são sacramentos que dão graça. Já não sabemos se esta Missa nos dá o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. (…) Os padres que saem dos seminários são padres bastardos.” (Homilia pregada em Lille, 29 de agosto de 1976, diante de uma multidão de cerca de 12.000 pessoas.)
“Se pensamos que esta liturgia reformada é herética e inválida, seja por causa das modificações feitas na matéria e forma, seja por causa da intenção dos reformadores inscrita no novo rito em oposição à intenção da Igreja católica, evidentemente não podemos participar destes ritos reformados porque estaríamos participando de um ato sacrílego. Esta opinião se funda em razões sérias…” (Ecône, 24 de fevereiro de 1977, Respostas a Várias Questões Candentes)
“As mudanças radicais e extensas feitas no Rito Romano do Santo Sacrifício da Missa e sua semelhança com as modificações feitas por Lutero obrigam os católicos que permanecem leais à sua fé a questionar a validade deste novo rito. Quem melhor do que o Reverendo Padre Guérard des Lauriers para dar uma contribuição informada para resolver este problema…?” (Prefácio contribuído para um livro a favor da tese da invalidade pelo Pe. Guérard des Lauriers. Écône, 2 de fevereiro de 1977)
Além disso, o Arcebispo Lefebvre pessoalmente reordenou condicionalmente muitos padres que haviam sido ordenados no rito de 1968 e reconfirmou aqueles supostamente confirmados no novo rito ou pelos novos bispos.
Ele sustentava que João Paulo II e seus capangas eram “anticristos” excomungados?
“Então nós somos [para ser] excomungados por Modernistas, por pessoas que foram condenadas por papas anteriores. Então o que isso pode realmente fazer? Nós somos condenados por homens que são eles mesmos condenados…” (Conferência de imprensa, Ecône, 15 de junho de 1988)
Declaração pós-consagração (Verão de 1988), escola da FSSPX em Bitsche, Alsácia-Lorena: “o arcebispo afirmou, indo ainda além de sua conferência de imprensa de 15 de junho, que aqueles que o haviam excomungado já estavam excomungados há muito tempo.” (Resumo na News and Views da Associação Contra-Reforma, Candelária de 1996)
“A Sé de Pedro e os postos de autoridade em Roma sendo ocupados por anticristos, a destruição do Reino de Nosso Senhor está sendo rapidamente realizada mesmo dentro de Seu Corpo Místico aqui embaixo (…) Isto é o que trouxe sobre nossas cabeças a perseguição pela Roma dos anticristos.” (Carta aos futuros bispos, 29 de agosto de 1987)
Ele se alegrou por estar separado da Igreja de João Paulo II?
“Fomos suspensos a divinis pela Igreja Conciliar e da Igreja Conciliar, à qual não desejamos pertencer.” (29 de julho de 1976, Reflexões sobre a Suspensão a divinis)
“…nós não pertencemos a esta religião. Nós não aceitamos esta nova religião. Nós pertencemos à religião antiga, a religião católica, não a esta religião universal como é chamada hoje. Não é mais a religião católica…” (Sermão, 29 de junho de 1976)
“Eu ficaria muito feliz em ser excomungado desta Igreja Conciliar… É uma Igreja que eu não reconheço. Eu pertenço à Igreja Católica.” (Entrevista de 30 de julho de 1976, publicada em Minute, nº 747)
“Nunca desejamos pertencer a este sistema que se autodenomina Igreja Conciliar. Ser excomungado por um decreto de vossa eminência… seria a prova irrefutável de que não pertencemos. Não pedimos nada melhor do que sermos declarados ex communione… excluídos da comunhão ímpia com os infiéis.” (Carta Aberta ao Cardeal Gantin, 6 de julho de 1988, assinada por 24 importantes padres da FSSPX, sem dúvida com a aprovação do Arcebispo Lefebvre)
Ele empregou conscientemente um professor de seminário sedevacantista em Ecône, ordenou e designou ministérios a clérigos sedevacantistas, e enviou seus seminaristas para ganhar experiência pastoral com um padre sedevacantista em seu acampamento de verão de um mês a cada ano?
Ele o fez, de fato. Não correremos o risco de colocar os perseguidores no encalço dos envolvidos, nomeando pessoas que em muitos casos ainda são sedevacantistas e ainda membros da FSSPX ou em colaboração com ela. Qualquer padre que esteve em Ecône nos dias do Arcebispo confirmará nossa resposta.
As citações e fatos acima apontam para um Lefebvre linha-dura, muito próximo do sedevacantismo, rejeitando categoricamente o Vaticano II, os novos sacramentos e doutrinas e a comunhão com os líderes da nova religião pseudo-católica. Mas é apenas honesto conceder que isso é apenas metade da história. Outras palavras e ações do Arcebispo dariam uma impressão surpreendentemente diferente.
Seria ocioso debater qual era o verdadeiro Arcebispo Lefebvre. O fato é que o Arcebispo vacilou. Inabalável no fato de que uma religião nova e falsa foi fundada, ele hesita quanto a saber se o papa da nova religião também pode ser chefe da Igreja Católica. Ultrajes particulares provocam uma forte reação de sua parte: a suspensão de 1976, o Sínodo de 1985, o encontro de religiões falsas de Assis em 1986, a excomunhão de 1988 – tudo o leva à beira da declaração explícita de que os responsáveis não podem ser papas. O contato próximo com homens como o Pe. Guérard des Lauriers e o Bispo de Castro Mayer, e com livros como o de Arnaldo Xavier de Silveira, o encorajam a tal declaração. Prestes a mergulhar, ele hesita... e recua.
Não podemos forçar os fatos com justiça para transformar o Arcebispo Lefebvre num sedevacantista, pois ele não o era, mas podemos, com justiça e respeito, tirar várias conclusões interessantes de nossos textos e de outros demasiado longos para citar neste artigo.
De 1975 a 1978, e de 1985 até sua morte, o Arcebispo Lefebvre não foi hostil ao sedevacantismo como tal e parece ter-lhe concedido o status do que os teólogos chamariam de “opinião provável”. Ele muitas vezes esteve perto de compartilhar essa opinião, nunca fingiu ser capaz de refutá-la categoricamente e reconheceu que ela poderia muito bem um dia se tornar suficientemente clara para que ele a aceitasse firmemente.
Nem mesmo os mais fervorosos admiradores do Arcebispo poderiam afirmar que suas declarações sobre os recentes pretendentes papais foram sempre claras, firmes e consistentes, ou que demonstraram conhecimento detalhado da teologia e do Direito Canônico relevantes.
Embora ciente da clássica controvérsia do “papa herético” entre os teólogos, o Arcebispo não parece, em nenhum momento, ter feito um estudo sério da natureza da heresia, seus efeitos e seu reconhecimento. Ele até pensou que o extremo liberalismo de Paulo VI e João Paulo II era, em certo sentido, uma defesa contra a acusação de heresia. Ele quis dizer que suas mentes estavam tão cheias de ideias heréticas que não poderiam ser insinceros ao acreditar que essas ideias eram ortodoxas. Parece não lhe ter ocorrido que tal “defesa” teria sido igualmente disponível para gente como Lammenais e Loisy.
Ele confiava em sua competência para reconhecer e denunciar as heresias do Modernismo e do Liberalismo, mas tinha consciência de não possuir a formação teológica necessária para avaliar o status dos Joões e dos Paulos, a dificuldade que a crise representa no que diz respeito à indefectibilidade da Igreja e à infalibilidade do Magistério Ordinário e Universal.
Sua formação seminarística no Colégio Francês em Roma, sob o célebre Padre le Floch, o vacinou para sempre contra o Liberalismo em todas as suas formas. Sua carreira eclesiástica o preparou para a organização e para a diplomacia. Mas nenhuma delas o tornou um teólogo especialista ou lhe deu qualquer noção de sê-lo. Isso é aparente em seu papel de defensor da tradição no Concílio e depois: ele organiza e negocia com habilidade, mas é incerto na avaliação teológica de eventos anteriormente inimagináveis. Ele dependia muito – e por muito boas razões – de seu conselheiro teológico profundamente erudito e santo, Pe. Victor-Alain Berto, responsável por muitas das intervenções do Arcebispo no Vaticano II, mas Berto havia morrido em 1968, sucumbindo à angústia da apostasia do Vaticano II. Lefebvre nunca mais encontraria um conselheiro em quem pudesse confiar tão plenamente, mesmo quando mais precisava de um.
O reconhecimento nominal do Arcebispo Lefebvre a Paulo VI e seus sucessores foi explicitamente apresentado como uma posição provisória. Aqueles que a transformaram num dogma imutável são, portanto, infiéis ao Arcebispo.
O Arcebispo Lefebvre era altamente otimista nos primeiros anos de João Paulo II e foi nesses anos que ele foi mais incisivo em suas palavras e ações anti-sedevacantistas. No entanto, mesmo assim, ele nunca expulsou nenhum padre de sua Sociedade por sedevacantismo privado e apenas duas vezes por sedevacantismo público na ausência de outras questões. Sua política geral era persuadir os padres sedevacantistas a permanecerem. E com o Sínodo de 1985 e Assis em 1986, ele se desiludiu de sua ilusão de que “Polonês” pudesse rimar com “Papa”.
Ninguém pode ter certeza de que, se o Arcebispo Lefebvre estivesse vivo hoje, ele não seria um sedevacantista. Ninguém pode ter certeza de que ele seria um também. Mas uma coisa que parece altamente improvável é que ele teria adotado o estilo anódino do Bispo Fellay e da ala esquerda dominante da Sociedade, para quem em nossos dias expressões como “anticristos excomungados” são mais propensas a ser uma alusão aos sedevacantistas do que ao aparente ocupante da Sé Romana. E outra noção igualmente improvável é que ele teria sido enganado a ponto de tomar Josef Ratzinger, a quem ele cordialmente detestava, por um amigo sincero do catolicismo tradicional.
É possível simpatizar com a situação difícil do Arcebispo enquanto ele contemplava, sozinho, o gravíssimo aspecto eclesiológico da crise – o aspecto sobre o qual ele se sentia incapaz de tomar uma decisão; de fato, seria cruel não simpatizar. Defender a fé, assegurar a continuidade do sacerdócio e a disponibilidade dos sacramentos aos fiéis, mas deixar “em suspenso” a difícil questão do status dos assassinos de almas no Vaticano: por mais que lamentemos, essa é pelo menos uma política compreensível. Certos jovens sedevacantistas de nossos dias, sem o dom da retrospectiva e rápidos em atribuir culpa, claramente não conseguem imaginar o peso da responsabilidade sentida pelo Arcebispo enquanto ele contemplava, tremendo, a enormidade do que o sedevacantismo implicava.
O que parece muito mais difícil de tolerar é a consequente política de pragmatismo pela qual uma posição da qual o próprio Arcebispo não tinha certeza tornou-se oficialmente obrigatória na Sociedade para manter a unidade e otimizar o apostolado da Sociedade. Como todos os homens, os padres precisam ser capazes de conversar livremente com seus pares sobre suas preocupações e dúvidas, sem medo de denúncia por “crime de pensamento” e possíveis sanções. O Arcebispo não forneceu essa facilidade e ela ainda não existe na FSSPX. Uma consequência é a fraqueza de caráter de muitos padres da FSSPX – resultado inevitável de uma formação sectária. Outra é a enorme taxa de deserção da Sociedade: alguns se tornaram sedevacantistas, alguns aceitaram o indulto, alguns se tornaram independentes, alguns foram “casar” e alguns sucumbiram a colapsos nervosos – todos testemunham o problema de estresse interno da Sociedade.
Vimos que não há verdade na mitologia segundo a qual o Arcebispo Lefebvre tinha uma política firme e consistente de reconhecer os papas do Vaticano II, rejeitando severa e consistentemente o sedevacantismo como um erro solidamente refutado. Pelo contrário, o Arcebispo muitas vezes expressou opiniões tão radicais que hoje nenhum padre ou seminarista da FSSPX ousaria dizer algo semelhante por medo de expulsão! A mitologia deve-se ao fato de que o Arcebispo flutuou e hesitou, deixando registradas palavras e atos que lhe permitem ser invocado tanto pelos campos liberais quanto pelos radicais. De fato, suas flutuações e hesitações foram de tal magnitude que só foram toleradas por causa da grande veneração pessoal que a massa dos fiéis católicos tradicionais sentia pelo próprio Arcebispo. E hoje a Sociedade não tem mais nenhum membro proeminente cuja personalidade ou status eclesiástico sejam comparáveis aos do Arcebispo. Assim, a necessidade de credibilidade da Sociedade exige que ela mostre mais consistência do que o próprio Arcebispo, enquanto continua a invocar sua autoridade para decisões que ninguém pode sentir confiança de que ele teria endossado.
Sejamos francos sobre as origens desta situação. O apostolado tradicionalista independente da FSSPX foi originalmente concebido apenas como um socorro provisório para uma necessidade temporária. Compreensivelmente, ninguém previu a duração da crise. Medidas de emergência às vezes precisam ser tomadas antes que haja tempo para uma avaliação teológica completa da necessidade que as exige. Mas não pode haver apostolado duradouro e eficaz que não esteja firmemente fundado na teologia. Isso não significa apenas que apóstolos eficazes devam ter uma formação adequada em teologia, embora isso seja verdade. Significa que a base, a natureza, as ações e os objetivos de seu próprio apostolado também devem ser teologicamente determinados. Este não é e nunca foi o caso da FSSPX, porque o legado do Arcebispo para a Sociedade que ele fundou não incluiu nenhuma eclesiologia da relação da Igreja Conciliar com a Igreja Católica. O mal-estar da FSSPX continuará até que esta omissão seja totalmente retificada, se isso for possível.
E esse mal-estar não pode ser negado. Há um quarto de século, a FSSPX estava inundada de vocações, tinha um alto nível de lealdade sacerdotal e estava em posição de contrastar seu sucesso com o estado manifestamente miserável dos seminários e do clero modernistas. Todos sabem que a presunção acabou. Menos vocações, taxas muito altas de abandono e expulsão nos seminários, numerosas deserções sacerdotais em todas as direções, poucos sinais de uma elite teológica entre o clero da Sociedade, a tolerância de padres infectados pela coceira inovadora, altas taxas de abandono de leigos da segunda geração, mesmo entre aqueles educados nas próprias escolas da Sociedade – a triste história é inegável e as coisas não estão melhorando. Enquanto isso, a Sociedade está perdendo o debate teológico não apenas com o sedevacantismo, mas também com os grupos do indulto, que demonstraram um notável poder de atração e uma surpreendente capacidade de produzir um clero erudito e ponderado.
Para que a FSSPX declare pública e formalmente a vacância da Santa Sé, seria necessário um milagre, e fazê-lo não seria suficiente para curar o mal-estar que apontamos.
Mas talvez não seja completamente irrealista imaginar se as autoridades da Sociedade não poderiam um dia confessar explicitamente que o sedevacantismo é pelo menos uma opinião teologicamente provável e encorajar um debate educado e aberto sobre a tese sedevacantista entre padres e fiéis dentro e fora da Sociedade. Talvez não fosse incuravelmente otimista esperar que os padres e colaboradores sedevacantistas da Sociedade pudessem ser francos sobre suas convicções. Poderia ser feita uma declaração apontando que, em quaisquer discussões com a Roma ocupada, Bento XVI nada pode colocar de valor em seu lado da mesa de negociações, exceto a remota perspectiva de sua própria conversão à Fé Católica, que ele passou a maior parte de sua vida destruindo. Enquanto sonhamos acordados, poderíamos imaginar a colaboração entre padres da FSSPX e padres sedevacantistas que fossem apropriados e dispostos. Poderíamos acrescentar a expulsão da quinta coluna ultraliberal da Sociedade – começando pelo Pe. Grégoire Célier – e que tal repudiar publicamente o panfleto anti-sedevacantista absurdamente ignorante do Pe. Boulet, que considera necessário citar história e teologia falsificadas de um livro no Índice de Livros Proibidos para defender o que seu autor acredita ser a linha do partido? Ninguém poderia razoavelmente se opor ao estudo formal do De Romano Pontifice de Belarmino no currículo de teologia dogmática.
Não se pode duvidar seriamente que tais medidas seriam sólidas em teologia, um alívio para muitos dos padres e fiéis da Sociedade e fortaleceriam a capacidade da Sociedade de responder às objeções que lhe são feitas por setores conciliares. Nem haveria qualquer dificuldade em invocar a autoridade do Arcebispo Lefebvre em favor de tais iniciativas. Acima de tudo, deveria haver a consideração de que a verdade é mais importante que o pragmatismo e que sua corajosa profissão conquista a bênção de Deus.
© John Daly 2006
Escrito pelo Rev. Anthony Cekada. Publicado na terça-feira, 4 de setembro de 2012, às 13:27.