Mateus 5
Mateus 5:42
Dá a quem te pede, e não voltes as costas àquele que te pedir emprestado.
Comentário de Lapide
Dá a quem te pede, etc. À primeira vista, o preceito pode não parecer estar em harmonia com o que foi dito antes sobre a lex talionis [lei de talião], mas está, de fato, em perfeita harmonia. O significado é este: Eu, Cristo, em vez da lei da retaliação, estabeleço uma lei de amor e bondade. Portanto, quem quer que te peça alguma coisa, seja ele amigo ou inimigo que te injuriou, ou te feriu na face, ou te tirou a túnica, dá-lhe o que ele pede; e se ele desejar tomar emprestado de ti, não desvies o rosto dele, como as pessoas costumam fazer, mas trata-o com bondade como a um próximo, e empresta-lhe o que ele requer, como se ele nunca te tivesse injuriado.
Em suma, o sermão e o mandamento de Cristo aqui não diminuem, mas aumentam, pois embora possa ser mais fácil per se [por si só] dar a todo aquele que te pede, do que, quando és ferido numa face, oferecer a outra ao agressor, contudo é mais difícil na conexão [contexto], que implica tanto a paciência que sofre tais coisas e tais homens, quanto a beneficência pela qual damos ou emprestamos àqueles que nos pedem. Pois é mais difícil fazer uma bondade a alguém que nos injuriou do que simplesmente suportar uma injúria pacientemente. Assim S. Agostinho, lib. de Serm. Dom. [Livro sobre o Sermão do Senhor], c. 40.
A liberalidade de S. João, Patriarca de Alexandria, é bem conhecida. Encorajado por estas palavras de Cristo, ele deu grandes esmolas a todos que lhe pediam, donde derivou seu nome de Esmoleiro. E quanto mais ele dava, mais recebia, de modo que parecia haver uma disputa entre Deus e ele sobre quem seria o mais liberal. Pois João superava Deus [em dar], mas muito mais Deus superava João [em conceder]. João não examinava aqueles que lhe pediam, se eram ricos ou pobres, dignos ou indignos, poucos ou muitos. “Estou persuadido”, disse ele, “que se o mundo inteiro viesse a Alexandria, necessitando de esmolas, estariam muito longe de esgotar o tesouro de Deus.” S. Francisco, numa ocasião, pouco depois de sua conversão, recusou-se, contrariamente a seu costume, a dar esmola a um pobre. Mas muito em breve depois arrependeu-se de sua recusa, e deu ao homem uma grande esmola; e fez voto de que no futuro nunca se recusaria a dar quando lhe pedissem. Por esta sua liberalidade, atraiu sobre si aquela abundante graça de Deus pela qual alcançou tão eminente santidade.
É coisa rara o que lemos nas Crônicas dos Franciscanos sobre Alexandre Aleusis, que era chamado fonte de vida, e que foi mestre de S. Boaventura. Seu afeto pela Mãe de Deus era tão grande que ele nunca negava nada a ninguém que lhe pedisse em nome dela. Um certo franciscano soube disso e, vendo que ele era de longe o Doutor mais célebre da Universidade de Paris, veio até ele e disse: “Por Santa Maria, rogo-te que te tornes um de nós.” Ele acreditou que o homem era enviado por Deus, e imediatamente o seguiu, tornando-se um Irmão Franciscano.
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