Leão Magno (c. 400-461): Sermão 17

Aquele que empresta ao Senhor faz um negócio melhor do que aquele que empresta ao homem

Leão Magno (c. 400-461): Sermão 17

Fonte: Leo the Great, Gregory the Great (Nicene and Post-Nicene Fathers Series)


II. Aquele que empresta ao Senhor faz um negócio melhor do que aquele que empresta ao homem.

Sê firme, doador cristão: dá o que hás de receber, semeia o que hás de colher, espalha o que hás de ajuntar. Não temas gastar, não suspires pela incerteza do ganho. Tua substância cresce quando é sabiamente dispensada. Põe teu coração nos lucros devidos à misericórdia, e negocia com ganhos eternos. Teu Recompensador deseja que sejas munificente, e Aquele que dá para que tenhas, ordena que gastes, dizendo: “Dá, e ser-te-á dado.” Deves abraçar com gratidão as condições desta promessa. Pois, embora nada tenhas que não tenhas recebido, contudo, não podes deixar de ter o que dás. Aquele, portanto, que ama o dinheiro e deseja multiplicar sua riqueza por lucros imoderados, deveria antes praticar esta santa usura e enriquecer por tal empréstimo de dinheiro, não para apanhar homens embaraçados com dificuldades e por assistência traiçoeira envolvê-los em dívidas que nunca poderão pagar, mas para ser Seu credor e Seu prestamista, Aquele que diz: “Dá, e ser-te-á dado,” e “com a medida com que medirdes, sereis medidos novamente⁷¹³.” Mas ele é infiel e injusto até consigo mesmo, aquele que não deseja ter para sempre o que considera desejável. Acumule ele o que puder, entesoure e guarde ele o que puder, ele deixará este mundo vazio e necessitado, como diz o profeta Davi: “pois, quando morrer, nada levará consigo, nem sua glória descerá com ele⁷¹⁴.” Ao passo que, se ele fosse atencioso com sua própria alma, confiaria seus bens a Ele, que é tanto o Fiador⁷¹⁵ adequado para os pobres quanto o generoso Reembolsador de empréstimos. Mas a avareza injusta e desavergonhada, que promete fazer algum ato de bondade, mas se esquiva dele, não confia em Deus, cujas promessas nunca falham, e confia no homem, que faz negócios tão apressados; e enquanto considera o presente mais certo que o futuro, muitas vezes, merecidamente, descobre que sua cobiça por ganho injusto é a causa de uma perda de modo algum injusta.

III. O empréstimo de dinheiro a juros altos é iníquo em todos os aspectos.

E, portanto, qualquer que seja o resultado, o negócio do agiota é sempre mau, pois é pecado tanto diminuir quanto aumentar a soma, já que se ele perde o que emprestou, é miserável, e se toma mais do que emprestou, é ainda mais miserável. A iniquidade do empréstimo a juros deve ser absolutamente abjurada, e o ganho que carece de toda humanidade deve ser evitado. Os bens de um homem são, de fato, multiplicados por estes meios injustos e lamentáveis, mas a riqueza da mente decai porque a usura do dinheiro é a morte da alma⁷¹⁶. Pois o que Deus pensa de tais homens, o santíssimo Profeta Davi deixa claro, pois quando ele pergunta: “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Ou quem descansará no teu santo monte⁷¹⁷?”, ele recebe a declaração Divina em resposta, da qual aprende que aquele homem alcança o descanso eterno que, entre outras regras de vida santa, “não deu seu dinheiro a juros⁷¹⁸:” e assim, aquele que obtém ganho enganoso de emprestar seu dinheiro a juros mostra-se ser tanto um estranho ao tabernáculo de Deus quanto um exilado de Seu santo monte, e, ao buscar enriquecer-se pelas perdas alheias, merece ser punido com eterna necessidade.

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