OS MANIFESTOS ROSACRUZES
Jean Vaquié
O adjetivo "rosacruciano" qualifica tudo o que diz respeito à Rosa-Cruz. E o substantivo "rosacrucianismo" designa a doutrina em uso na Rosa-Cruz. Mas o que é afinal essa misteriosa e famosa Rosa-Cruz?
Se nos atermos à simples emblemática, a Rosa-Cruz é a associação de uma rosa e uma cruz. É uma rosa colocada no centro de uma cruz, originalmente no centro de uma cruz latina, posteriormente no centro de todos os tipos de sinais cruciformes.
O que pode ser mais cristão do que a rosa e a cruz? A rosa é um dos emblemas da Mãe de Deus, que nas litanias a ela dedicadas é saudada com o nome de "Rosa Mística", com o sentido simples e evidente de beleza oculta.
Os elementos constitutivos do emblema rosacruciano são, portanto, de origem cristã, não há dúvida. Mas é a associação desses dois elementos constitutivos que deu origem a uma nova convenção. Nova convenção que é muito menos cristã do que os elementos constitutivos tomados isoladamente. De fato, a rosa e a cruz associadas encobrem sempre uma intenção de desvio do cristianismo institucional.
Historicamente, a "rosa-cruz" foi escolhida como estandarte por uma sociedade de pensamento cujas primeiras manifestações vamos examinar e cujo dinamismo é inteiramente dirigido para a reforma universal, ou seja, no sentido do derrubamento das instituições históricas cristãs e no sentido de sua substituição por outra coisa. Outra coisa que se trata precisamente de elaborar. O estandarte rosacruciano é cristão em suas aparências, mas a mercadoria que cobre não o é.
Três toques de clarim teutônicos anunciaram abruptamente, nos primeiros anos do século XVII, a existência, que já se suspeitava vagamente, da Fraternidade da Rosa-Cruz. Esses três toques de clarim são os três Manifestos rosacrucianos que vamos estudar agora.
E se eles têm lugar em nossa investigação sobre as doutrinas revolucionárias, é precisamente porque inauguraram, ao menos em certo plano, a fase da reforma política.
A "Reforma" luterana tinha sido sobretudo religiosa. A "Reforma Universal" que os irmãos da Rosa-Cruz empreenderam ruidosamente se estende à filosofia, à ciência e à política dos Estados. Examinemos tudo isso.
Quais são, então, esses três manifestos cujo tom foi tão estrondoso? O primeiro intitula-se Fama Fraternitatis e data de 1614. O segundo é a Confessio Fraternitatis e foi publicado no ano seguinte, 1615. O terceiro tem por título As Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreutz, editado em 1616.
Para situar no tempo os Manifestos rosacrucianos, é preciso lembrar que na época de sua publicação (1614-1616), Lutero era um homem do passado recente, morto em 1546, há 70 anos, enquanto Cromwell era um homem do futuro, portanto um homem ainda desconhecido, sua república datando de 1653, ou seja, 37 anos depois. Esse é o enquadramento cronológico e eventístico dos Manifestos que temos agora a analisar, sem mais demora.
* * *
A Fama Fraternitatis, em primeiro lugar, pois é o primeiro em data. Estamos, portanto, em 1614, no Wurtemberg, ou seja, entre a província de Baden, que cobre a Floresta Negra, e o Reino da Baviera. E estamos na Universidade de Tübingen.
Em certas edições, o título do primeiro Manifesto está gravado em um medalhão rodeado de guirlandas ao estilo do início do século XVII: Fama Fraternitatis ou Confraria da Muito Louvável Ordem da Rosa-Cruz. 1614. Não há nem nome do editor, nem nome da cidade de origem. Apenas a menção Würtemberg.
E também não há nome do autor. Mas, além de algumas suposições que foram rapidamente abandonadas, suspeitou-se unanimemente que Valentin Andrea fosse o redator da Fama. Esse Valentin Andrea era um jovem pastor luterano de menos de trinta anos, muito conhecido por ser muito dinâmico, muito ativo e até mesmo muito aventureiro.
Fama é uma palavra latina que significa renome, glória. O tom é enfático desde o título e vai permanecer assim até o fim. O documento se apresenta como uma declaração solene que se dirige aos Príncipes e às autoridades da ciência:
"Nós, irmãos da Fraternidade da Rosa-Cruz, dispensamos nossa saudação, nosso amor e nossas orações aos regentes, às ordens, aos homens sábios e a todo homem que lê nosso eco com intenção cristã."
De fato, vão nos expor uma certa forma de Cristianismo. Mas será um cristianismo livre, um cristianismo insatisfeito e rebelde. Em resumo, será um cristianismo revolucionário.
O texto narra as circunstâncias que justificam esta solene declaração:
"Deus tem atualmente favorecido o nascimento de espíritos altamente iluminados que têm como missão restabelecer em seus direitos a arte (diríamos cultura, civilização) em parte manchada e imperfeita, para que o homem compreenda plenamente tanto a nobreza e magnificência que lhe são inerentes quanto sua condição de microcosmo, e ainda a profundidade de suas possibilidades na compreensão de sua própria natureza."
A Fama nos anuncia, portanto, uma reforma da filosofia que finalmente nos ajudará a compreender nosso estado e nosso status de ser humano, estado e status cuja inteligência profunda nos escapa até agora. E o texto continua:
"Ora, Deus gratificou nosso século com uma multidão de revelações, pelo livro da natureza e pela regra de todas as artes".
Em outras palavras, o progresso que se manifestou recentemente em todas as ciências anuncia uma renovação completa da civilização.
Aqui está agora a apresentação do genial filósofo que é o fundador da ordem da Rosa-Cruz em nome de quem a declaração é feita:
"Assim nasceu o projeto de uma reforma universal à qual nosso falecido Pai Christian Rosenkreutz, espírito religioso e altamente iluminado, alemão, chefe e fundador de nossa Fraternidade, dedicou grandes e longos esforços."
E a declaração preliminar termina com considerações um tanto rebuscadas que podem ser resumidas assim: não é mais tempo de se ater aos antigos dogmas, é preciso, ao contrário, revisar seus conhecimentos para recomeçar com bases novas.
Aqui temos a quintessência da intenção que será desenvolvida a seguir: uma reforma universal que será o prolongamento da reforma mais propriamente religiosa de Lutero. Será uma reforma da ciência e da filosofia, já que a Fama se dirige às notabilidades intelectuais ("as ordens"). E será também uma reforma da política dos Estados, já que esse mesmo documento se dirige aos "regentes", ou seja, aos Príncipes.
Terminamos com as considerações preliminares, com as "generalidades". Elas são relativamente curtas, mas condensam bem as intenções do autor.
Depois disso, todo o resto deste primeiro "manifesto" será dedicado à biografia do fundador da Fraternidade da Rosa-Cruz, Christian Rosenkreutz.
Não demora a se convencer de que esse Christian Rosenkreutz é um personagem mítico. Mas também é um personagem típico. Ele apresenta todos os traços comuns desses iluminados gyrovagos que, no final da Idade Média, misturando-se aos estudantes sérios, percorreram a Cristandade e peregrinaram de Universidade em Universidade, seja para assistir a aulas, seja para ministrá-las. Um dos modelos mais completos desse tipo de personagens é incontestavelmente Paracelso, que precisamente Valentin Andrea, o autor da Fama, toma explicitamente como exemplo.
Paracelso é um médico e um alquimista suíço que realmente existiu. Ele viveu no início do século XVI, de 1493 a 1541, portanto 73 anos antes da publicação da Fama. Vamos encontrá-lo daqui a pouco, mas ouçamos Valentin Andrea nos contar a vida mítica e típica de Christian Rosenkreutz.
Entremos, portanto, na "Canção de Gesta Rosacruciana" que vai nos lembrar, em muitos aspectos, os romances e os poemas do ciclo do Graal; ela nos lembrará especialmente, evidentemente, os romances do Graal da segunda geração, não os de Chrétien de Troyes, nos quais a inspiração cristã ainda é predominante, mas os de Wolfram von Eschenbach, onde a influência árabe prevalece.
Christian Rosenkreutz teria nascido em 1378. Seus pais, nobres e pobres, como convém, o confiam a religiosos que lhe proporcionam uma instrução cuidadosa, ensinando-lhe latim e grego. É evidente que essa criança predestinada se mostra extremamente precoce. É difícil que seja diferente. Assim que suas forças o permitem, ele parte em peregrinação ao Santo Sepulcro, acompanhado por um dos religiosos do colégio onde foi educado.
Mas eis que, na escala de Chipre, o religioso acompanhante adoece e morre. Os laços que ligam o jovem à religião institucional acabam de se romper. Christian Rosenkreutz, que atingiu sua plena maturidade intelectual e que não precisa mais de seu mentor, continua sozinho sua peregrinação.
No entanto, em vez de ir diretamente a Jerusalém, ele faz uma longa parada em uma cidade da Turquia, onde ganha a vida exercendo a medicina, apesar de sua pouca idade, que Valentin Andrea parece ter um pouco esquecido.
É nesta cidade da Turquia que ele ouve falar, pela primeira vez, dos sábios de Damcar e das revelações que lhes foram feitas sobre toda a natureza. Aqui temos, portanto, "Sábios", notemos de passagem, que recebem revelações, não mais sobre coisas sobrenaturais, como os santos do cristianismo, mas sobre as coisas da natureza. Não sejamos muito rigorosos quanto à origem dessas "revelações".
Não precisa de mais nada para Christian Rosenkreutz se desviar de sua peregrinação ao Santo Sepulcro. Ele toma uma bifurcação completamente sintomática do estado de espírito que agora o regerá: ele parte para a cidade de Damcar e não se falará mais do Santo Sepulcro.
O que é, então, essa cidade de Damcar? Seria Damasco ou Damieta? Não se sabe. Só nos dizem que ela está situada na Arábia, uma Arábia romântica onde a precisão geográfica não é necessária.
Em Damcar, Rosenkreutz entra em conferência com os sábios de quem tanto ouvira falar. Eles lhe dão para ler um livro surpreendente que é para ele uma verdadeira revelação: o Liber Mundi.
Esse Liber Mundi existe realmente. É uma obra ocultista árabe do século XIV. Trata do simbolismo natural, ou seja, das correspondências entre o homem microcosmo e o universo macrocosmo.
Rosenkreutz traduz o Liber Mundi para o latim e o mantém doravante em sua bagagem. Pois ele parte agora para o Egito, que ainda falta em sua formação.
A Fama não se estende sobre o que Rosenkreutz fez no Egito e o que ele aprendeu lá. Do Egito, ele passa para o Marrocos.
A etapa do Marrocos será a mais importante de sua peregrinação desviada.
Em Fez, ele fica maravilhado com o nível intelectual dos sábios árabes e mais ainda com sua organização. Pense que todos os anos, em Fez, se realiza uma grande assembleia de sábios vindos de todos os países muçulmanos. Eles se reúnem para confrontar suas descobertas do ano em matemática, física e magia. Christian Rosenkreutz permanece dois anos em Fez e aprende muito.
Ele passa então para a Espanha, com em sua bagagem, acompanhando o Liber Mundi traduzido para o latim que o segue desde Damcar, uma infinidade de objetos preciosos trazidos da Turquia, Arábia, Egito e Marrocos.
Instalado na Espanha, ele se põe a difundir sua experiência, seus conhecimentos e sua filosofia. Ele escreve a todos os "sábios", não só da Espanha, mas de toda a Cristandade. Ele redige para eles "uma axiomática nova que permite resolver absolutamente todos os problemas". O texto da Fama não diz mais nada e não cita nenhuma das frases dessa axiomática. Trata-se de uma sistematização do método experimental? Não se sabe. Infelizmente, os sábios cristãos não estão prontos para um ensino tão elevado. Eles se dão ao trabalho de responder às cartas de Rosenkreutz, claro, mas é para lhe informar que acham sua axiomática ridícula.
Diante dessa incompreensão geral, Christian Rosenkreutz conclui a necessidade de: "fundar na Europa uma sociedade que possuísse bastante ouro e pedras preciosas para emprestar aos Reis em condições interessantes. Sociedade que também se encarregasse da educação dos Príncipes. Sociedade ainda que soubesse tudo o que Deus concedeu aos homens saberem, para que se pudesse, como os pagãos com seus ídolos, recorrer a ela em caso de necessidade!"
Em suma, Rosenkreutz, ou melhor, Valentin Andrea, o verdadeiro autor da Fama fraternitatis, sonha com uma academia permanente, uma sociedade de pensamento que educaria os Príncipes e reinaria, por sua organização, sobre as consciências e os espíritos.
Aqui, o texto da Fama interrompe a biografia de Christian Rosenkreutz para se entregar a considerações gerais, muito interessantes por sinal, pois nos revelam as doutrinas de Valentin Andrea.
Aprendemos que, no tempo de Christian Rosenkreutz (o que nos remete ao último quarto do século XIV):
"o mundo já estava grávido de uma grande transformação... e esse mundo já gerava heróis inesgotáveis e gloriosos que faziam explodir as trevas da barbárie... Esses heróis constituíam a ponta do triângulo de fogo cujo brilho da chama não cessava de aumentar e que acenderá, sem dúvida, o último incêndio que consumirá o mundo".
Como exemplo desses "heróis inesgotáveis e gloriosos", a Fama cita obviamente Paracelso, um dos grandes protótipos do "sábio", e acrescenta logo em seguida:
"Certamente Paracelso não aderiu à nossa Fraternidade. Mas ele era um leitor assíduo do Liber Mundi..."
Essa digressão na ordem da filosofia da história sendo terminada, a Fama retoma a biografia romanesca de Christian Rosenkreutz.
Nós o deixamos na Espanha, no momento de seus apelos infrutíferos aos sábios da Europa. Ele não vai permanecer na Espanha, tão longe de tudo.
Ele volta para seu país, a Alemanha, fortalecido por seus conhecimentos filosóficos e, em particular, por seus conhecimentos em alquimia espiritual, embora nutrindo uma forte animosidade em relação aos alquimistas operativos, que considera como charlatães.
Na Alemanha, ele manda construir uma vasta e confortável residência onde se põe a "meditar sobre suas viagens e sua filosofia para constituir um memorial preciso". É nessa confortável residência que ele constrói muitos belos instrumentos, a maioria dos quais, infelizmente, se perderam hoje em dia.
Então ele começou o recrutamento da Fraternidade, cuja necessidade ele havia sentido quando estava na Espanha, com vistas à grande mutação universal. O texto da Fama fornece pelas suas iniciais os nomes dos três primeiros irmãos da Rosa-Cruz. Essas três séries de iniciais deram origem a muitas suposições entre as quais não temos que escolher. Pouco importa quem foram os primeiros irmãos da Rosa-Cruz. O que é certo, de acordo com a Fama, é que Rosenkreutz os fez contrair um compromisso supremo em relação a ele, um compromisso de fidelidade, diligência e silêncio.
A Fraternidade Rosacruciana vivia dos cuidados que os irmãos dispensavam aos doentes. Mas os doentes se tornaram muito numerosos. Foi necessário recrutar oito novos membros. Foi somente então que a regra da Confraria foi redigida.
Aqui estão os principais artigos: Proibição de exercer qualquer profissão além de curar os doentes; proibição de usar um hábito especial; obrigação de se reunir anualmente na casa dos fundadores, doravante chamada "Casa do Espírito"; a confraria deve permanecer desconhecida por dois séculos; obrigação de escolher um sucessor.
Então ocorre a cerimônia da dispersão solene dos irmãos da Rosa-Cruz. Cada um partiu para a região que lhe havia sido atribuída, a fim de trabalhar separadamente na grande reforma universal, desempenhando o papel de fermento disperso na massa.
Aqueles que publicaram, em 1614, a Fama Fraternitatis declaram ter pertencido à terceira cooptação.
O texto então contém esta surpreendente declaração, na qual se sente a pena do ardente pastor luterano Valentin Andrea:
"Sem duvidar dos notáveis progressos que o mundo realizou no espaço de um século, temos, no entanto, a convicção da imutabilidade de nossos axiomas até o Juízo Final... Temos a certeza de que nossos pais, se tivessem aproveitado dessa luz viva que nos banha hoje, teriam tido mais facilidade para curtir o couro do papa e de Maomé, em vez de recorrer apenas a suspiros".
Declaração realmente surpreendente sob muitos aspectos, especialmente por constituir uma verdadeira manifestação de iluminismo:
"Se nossos pais tivessem aproveitado dessa luz viva que nos banha hoje..."
A Fama nos reservaria ainda um episódio repleto de cor: a descoberta do túmulo de Christian Rosenkreutz.
Mas não temos tempo de nos demorar nisso. É preciso terminar com esse primeiro Manifesto.
A Fama é indiscutivelmente um chamado ao recrutamento "Embora não tenhamos indicado atualmente nem nosso nome (de autor), nem o local de nossa assembleia, é certo que os avisos de todos nos chegarão." O que significa que todas as precauções são tomadas para que os "sábios" interessados possam entrar em contato com os irmãos da Rosa-Cruz.
Mas a Fraternidade não tem, no entanto, o desejo de se tornar uma associação pública. Ela pretende permanecer oculta. Ela quer permanecer uma sociedade secreta. É pelo menos o que afirmam, com certa grandiloquência, as três últimas linhas deste primeiro Manifesto:
"É necessário que nossa morada, ainda que 100.000 homens tenham podido contemplá-la, permaneça intacta para a eternidade aos olhos do mundo ímpio, à sombra de tuas asas, ó Jeová."
* * *
O segundo Manifesto rosacruciano é a Confessio Fraternitatis, cujo título completo é: "Confessio Fraternitatis ou Confissão da Insigne Fraternidade da Muito Honrada Rosa-Cruz Dirigida aos Homens de Ciência da Europa. 1615."
Também aqui não há nome de editor, nem de autor. Mas comumente se atribui este segundo texto ao mesmo redator do primeiro, ou seja, a Valentin Andrea.
É um documento muito curto. Ele contém apenas quatorze pequenos capítulos de 15 a 20 linhas cada. É uma sequência de declarações de princípios entre as quais temos dificuldade em escolher as mais características. Não podemos citar tudo. Nossa seleção será necessariamente arbitrária.
Do primeiro capítulo reteremos apenas a noção da "nova manhã" que se prepara:
"Neste dia, o mundo está prestes a atingir o estado de seu repouso, antes de se apressar para outra manhã, após o cumprimento de seu período e de seu ciclo."
O capítulo II se resume assim: A antiga filosofia (escolástica) está doente. Em seu seguimento, o mundo está doente. Mas a renovação universal é iminente.
O capítulo III convida os sábios a vir saborear, na Fraternidade, "as maravilhas do sexto tempo".
Do capítulo quarto, pode-se extrair isso:
"...vamos desmantelar e abandonar o velho edifício desagradável... vamos construir um novo castelo e uma nova fortaleza para a Verdade. Aos Rosa-Cruzes está reservado o acendimento do sexto candelabro."
O capítulo quinto deveria ser citado integralmente. Retiremos apenas esta frase sibílica:
"...somos encarregados de organizar na Europa o governo. Possuímos uma descrição estabelecida por nosso Pai Christian. Isso, depois que se tenha realizado e cumprido o que deve acontecer anteriormente. A saber, quando as predições, murmuradamente, de um futuro que se pressente com a ajuda de símbolos secretos, tiverem preenchido toda a terra".
Deveríamos ver aí a evocação de um plano revolucionário por etapas sucessivas? Ou se trata apenas de uma fanfarronice? O sintoma é um pouco muito tênue para que possamos decidir.
O capítulo VI se resume a isto: que não se tente nos infiltrar, não se conseguirá.
Capítulo VII: a próxima reforma será a reabertura do paraíso terrestre.
O capítulo oitavo relata o aparecimento de astros desconhecidos em certas constelações. Eles anunciam a proximidade da renovação.
O capítulo nono anuncia a elaboração pelos irmãos de uma escrita mágica e de uma nova língua.
O capítulo X é a apologia da Bíblia, que todos são convidados a aplicar à letra.
O décimo primeiro capítulo retifica o julgamento muito severo feito pela Fama sobre os alquimistas. O capítulo décimo segundo, por outro lado, alerta contra os charlatães.
O décimo terceiro capítulo é o da cordialidade teutônica e württembergense:
"O que vocês dizem, boas pessoas, como se sentem agora que entendem e sabem que proclamamos o Cristo com toda inocência, que condenamos o Papa, que levamos uma vida de cristãos... Você não pensa em se iniciar ao nosso lado, levando em conta não apenas seus dons interiores, mas também sua experiência da Palavra de Deus".
Décimo quarto e último capítulo: A Fraternidade permanecerá secreta. Ela não se revelará ao exterior até que um decreto divino particular a tenha expressamente convidado a fazê-lo.
Assim se encerra a "Confessio Fraternitatis", texto muito menos romanesco e menos pitoresco que a Fama, mas muito mais revelador quanto ao espírito e à organização da Confraria Rosacruciana.
* * *
O terceiro Manifesto rosacruciano se intitula, em alemão, Chymische Hochzeit Christiani Rosenkreutz anno 1459. A obra é editada, não mais em Württemberg, mas em Estrasburgo, em 1616. Ela é supostamente escrita pelo próprio Rosenkreutz.
Esse terceiro Manifesto é ainda da pena de Valentin Andrea? É menos certo do que para os dois primeiros. Este texto é um romance ao mesmo tempo cavaleiresco e alquímico. Ele é, sem dúvida, eminentemente alegórico. Christian Rosenkreutz, que se coloca em cena ele mesmo, por vezes assume os traços de Perceval nos romances do Graal.
De uma maneira geral, a semelhança das "Núpcias Químicas" com os romances do Graal, segunda maneira, é notável, e pode-se surpreender que ela não tenha sido mais frequentemente evidenciada.
O romance dessas "Núpcias" se desenrola em sete dias. Não temos tempo de nos demorar em cada uma dessas sete fases. Resumiremos apenas os episódios mais importantes.
O "primeiro dia" conta o convite para as Núpcias. Estamos na véspera da Páscoa. Rosenkreutz está sentado a uma mesa e medita. Ele medita sobre mistérios "dos quais alguns lhe foram revelados pelo mestre das luzes". De repente, uma terrível tempestade se levanta no meio da qual aparece uma "visão gloriosa".
Um personagem magnífico aparece, vestindo roupas azul-celeste e brilhando de luz. Em sua mão direita, ele carrega uma trombeta de ouro na qual está escrito o nome de Christian Rosenkreutz. Na outra mão, ele carrega um pacote de cartas que vai distribuindo por todo o mundo. É o convite para as "Núpcias Reais". Rosenkreutz recebe o seu. Ele pode ler:
"Dirija-se para a montanha onde três Templos se elevam majestosamente. Lá onde tudo é visível, do começo ao fim."
Então Rosenkreutz se veste de branco, prende em seu ombro uma fita vermelha em forma de cruz e fixa quatro rosas vermelhas em seu chapéu.
O segundo dia é dedicado à chegada ao castelo e ao primeiro contato com os outros convidados. As alegorias são numerosas, mas não temos tempo de nos demorar nelas.
O terceiro dia é o do banquete. Sobre mesas cobertas de toalhas de veludo vermelho com franjas de ouro, pajens oferecem aos convivas joias: algumas são "Tosões de Ouro" e outras "Leões Voadores".
O quarto dia é o da representação teatral. O público se posiciona "entre as colunas", pois duas colunas delimitam a plateia. O drama se desenrola na margem do mar. A onda traz uma caixa que contém uma criança acompanhada de uma carta. O país da criança foi invadido pelos Mouros. Quiseram salvar a criança. Mas o Rei dos Mouros a persegue. Eis que ele aparece. No entanto, a criança se transformou em uma jovem mulher que o Rei Mouro quer agarrar. O filho do Rei da margem intervém e a salva. Eles se noivam.
O quinto dia é o da exploração da cripta. Rosenkreutz descobre lá inscrições estranhas, todas repletas de alusões alquímicas.
O sexto dia é dedicado ao "duro trabalho das fornalhas". Os alquimistas conseguem criar a vida sob a forma de uma fênix.
O sétimo e último dia é o mais importante. Os convidados para as Núpcias sobem em 12 barcos cujos pavilhões representam os 12 signos do Zodíaco. Uma dama de honra vem informá-los de que todos foram criados "Cavaleiro da Pedra de Ouro". Após um passeio de barco, eles se formam em cortejo para uma suntuosa procissão. Um pagem lê as regras da "Ordem da Pedra de Ouro". Ela contém cinco artigos, entre os quais alguns se assemelham singularmente aos da Constituição de Anderson (1717) que forma a Carta da Maçonaria. Não temos tempo de nos entregar a uma comparação, mas ela seria muito instrutiva. O dia termina com uma intronização à cavalaria (observe-se que o texto não contém o termo de aclamação, nem o de iniciação).
Rosenkreutz suspende a "Tosão de Ouro" em seu chapéu com esta inscrição: "Summa Scientia Nihil Scire". O ápice da ciência é não saber nada. Divisa que resume a regra contemplativa dos "Místicos Renanos", chamada também de sábia ignorância.
Assim termina o terceiro e último Manifesto rosacruciano: "As Núpcias Químicas de Christian Rosenkreutz".
Mas, afinal, não há Núpcias, não há casamento. Apenas vagos noivados esboçados na margem do mar no final do quarto dia. A tal ponto que nos perguntamos se, de alegorias em alegorias, as "núpcias químicas" para as quais fomos convidados não são simplesmente a hierogamia do Criador com a criatura no melhor estilo alquímico.
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Tomados em seu conjunto, os Manifestos Rosacrucianos são um apelo à Reforma Universal sobre as ruínas da ordem cristã. Em certo momento, vimos até aparecer, como um fogo-fátuo, o brilho do "Grande Dia".
Esses três toques de clarim foram seguidos por um silêncio hermético ("silentium post clamorem", dizia-se então em Württemberg). Mas é bem evidente que eles foram precedidos por uma longa preparação, uma longa incubação. A Fraternidade da Rosa-Cruz teve sua pré-história.
Quanto à influência posterior desses três manifestos, ela foi considerável, especialmente na Inglaterra. São os irmãos da Rosa-Cruz que foram parasitar as últimas lojas operativas da Inglaterra e da Escócia e que as transformaram em lojas chamadas especulativas. O rosicrucionismo é uma das fontes mais certas da maçonaria moderna ao mesmo tempo que da ideologia revolucionária.