[Karl van der Eyken] Sobre René Guénon e a Maçonaria - A Sociedade de Hung

Antigo Venerável Mestre da Grande Tríade, Karl van der Eyken expõe certas contradições aos dissidentes críticos da maçonaria apaixonados pelo guénonismo.

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Sobre René Guénon e a Maçonaria - A Sociedade de Hung

Antigo Venerável Mestre da Grande Tríade, Karl van der Eyken expõe certas contradições aos dissidentes críticos da maçonaria apaixonados pelo guénonismo.

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Assim como a dos Guarda-chuvas de 2014, os bastidores da Revolta dos Boxers eram ocidentais, senão oculto-mundialistas

The Daily Post de 8 de setembro de 1724 informa seus leitores que uma sociedade secreta chinesa acabava de aparecer na Inglaterra. Esta sociedade seria direta ou indiretamente a ancestral da Sociedade de Hung, que, curiosamente, tinha muitos pontos em comum com a Franco-Maçonaria [1]. Por outro lado, a propagação da Maçonaria na Ásia remonta a cerca de 1730, ela se fez em grande parte ao sabor da expansão do Império britânico.

O enigma é que em 1724 também foi fundada a Sociedade secreta dos Gormogons pelo "stuartista" o duque de Wharton, Grão-Mestre da Grande Loja orangista de Londres [2]. A Sociedade dos Gormogons pretendia descender de um imperador da "Sociedade do Céu e da Terra" (Tien-ti-houei), da qual também se reclamava a Sociedade de Hung... Os Gormogons eram considerados como caricaturas-rivais da Maçonaria.

Como explicar que entre seus membros figuravam pelo menos dois altos dignitários da Maçonaria: o Grão-Mestre o duque de Wharton (1698-1731) e André Michel Ramsay, o cavaleiro de Ramsay (1693-1743), e que eles nunca foram incomodados por uma eventual exclusão de sua Loja-mãe [3]? Esta fachada caricatural desarmava qualquer investigação séria, cedendo lugar às especulações delirantes e inofensivas... Que confusão "organizada"!

Vamos agora a Sun Yat Sen, "o pai da China moderna", que foi iniciado em 1904 em uma loja em Honolulu (Havaí, Estado americano desde 1898), mas que já era notoriamente conhecido como um grande agitador revolucionário, comparável a outros "libertadores" maçônicos como Simon Bolivar, Giuseppe Garibaldi, George Washington... Desde 1885, ele se dá como tarefa a derrubada da dinastia manchú e o estabelecimento da República. Ele participa então da atividade de sociedades secretas e funda em 1894 com outros jovens revolucionários cantoneses um partido político, a Associação para o Reerguimento da China. Em 1911 ele reorganiza a Maçonaria de San Francisco, e a cidade lhe é grata, para este efeito, ela erige o "Memorial Hall Sun Yat Sen"! San Francisco era de fato um cruzamento de sociedades secretas ocidentais e orientais, contrariamente ao que afirma indiretamente Guénon, em 1914, por trás desta "pena autorizada"!

Finalmente, em 1912, o Ir⸫ Sun Yat Sen proclama a República da China com a ajuda de um consórcio de Nova York [4].

Após esta digressão, volto à Sociedade de Hung, que seria a sociedade-mãe dos Boxers chineses. A revolta dos Boxers, ou guerra dos Boxers – sociedade secreta cujo símbolo era um punho fechado levantado, daí o apelido de Boxers –, ocorreu na China, entre 1899 e 1901. Esta revolta é agora "esquecida", considerada como uma tentativa revolucionária sufocada. Não foi uma revolução espontânea, como é geralmente apresentada; ao contrário, era dirigida por agentes do "Poder oculto". Os sinais o testemunham. Não é por acaso que o punho levantado ainda é visível onde se agita o povo. O orgulho é uma fraqueza, exceto para os sequazes do Adversário que com sua arrogância "marcam" ou "assinam" seus atos infames; mas a assinatura também pode ser discreta e apenas reconhecível para alguns.

Occupy Wall Street

Occupy Wall Street

Otpor

Otpor

Roter Frontkämpferbund

Roter Frontkämpferbund

Black Lives Matter

Black Lives Matter

Primaveras Árabes

Primaveras Árabes

Revolução Egípcia

Revolução Egípcia

Alguns cartazes de "Revoluções Coloridas" brandindo o punho erguido como os Boxers (1900): Occupy Wall Street, Otpor, Roter Frontkämpferbund, Black Lives Matter, Primaveras Árabes, Revolução Egípcia

A Igreja havia conhecido certo desenvolvimento na China a partir de meados do século XIX, mas a guerra dos Boxers, que tinha como objetivo um genocídio de cristãos chineses e de missionários, pôs definitivamente fim a isso. Essa violência em massa avançava crucificando os cristãos chineses e outros, incendiando as igrejas em seu caminho... Esse ódio, expresso por atrocidades indizíveis, também abalou a França durante a Revolução com o genocídio dos católicos franceses. A correspondência não para aí, os Boxers eram "marcados" por suas vestimentas, roupas bem conhecidas dos descendentes dos "Iluminados da Baviera", incluindo o Martinismo [5]. Cito o historiador-arquivista Jean Lombard (Cœurderoy): "Os adeptos dessa Maçonaria paralela e secreta, portadores de uma túnica branca com cinto escarlate como os 'Assacis' [Assassinos do Velho da Montanha], os Templários e mais tarde os 'Boxers' chineses e usando o gorro frígio..." [6].

Na mesma revista, ele expõe alguns aspectos da antiga "Maçonaria Operativa", que seria uma Maçonaria não degenerada, ao contrário da Maçonaria conhecida, a de 1717...

Karl VAN DER EYKEN

[1] - JSM Ward e WG Stirling, Hung-Society - Or the Society of Heaven and Earth (1925), p. 125, Kessinger Publishing 2003

[2] - Os Stuarts reinaram sobre a Escócia entre 1371 e 1714 e sobre a Inglaterra de 1603 a 1688 (com o intervalo revolucionário de Cromwell de 1649-1660). Eles serão definitivamente afastados do trono em 1688 por Guilherme de Orange, é o triunfo do capitalismo. Após Cromwell em 1660, os Stuarts retornam com Carlos II. Este rei trabalhava pela reabilitação do catolicismo, mas que curiosamente dá sua filha Maria ao protestante Guilherme de Orange! O mínimo que se pode dizer é que este ato não era católico, então em que medida os Stuarts o eram? Quando Guilherme de Orange chega ao poder, são os Stuarts, ditos "católicos", que prometiam tudo aos protestantes para reconquistar o trono, e, paralelamente, os protestantes hanoverianos prometiam tudo aos não-conformistas. É assim que estas duas Casas reais se tornaram protetoras e propagadoras do idealismo maçônico. Contudo, o Escocismo maçônico atribuído aos Stuarts seria apenas um testa-de-ferro do qual teriam se servido, como "cobertura", indivíduos que permaneceram na sombra. O Ligou, dicionário de referência, diz: "Muitos historiadores estimam que nenhum dos Stuarts pertenceu à Fraternidade, mas o papel lendário desta família é importante. De uma maneira geral, tudo o que toca ao Escocismo encontra, em algum momento, a família Stuart ou seus partidários." A cobertura por testa-de-ferro faz compreender a cumplicidade entre as lojas ditas "stuartistas" e as lojas orangistas, porque aqueles que puxavam os cordões não eram partidários de uma Casa, mas se serviram dela como um meio antes de passar à "etapa" seguinte. De maneira mais manifesta são as visitas de Desaguliers (fundador com Anderson da Franco-Maçonaria em 1717) e de outros dirigentes da Maçonaria orangista na França. Eles vinham frequentar as oficinas escocesas cujos Grandes Mestres estavam a serviço dos Stuarts. A pseudo-oposição é uma receita tática que provou plenamente sua eficácia, e isso continua ainda em nossos dias...

[3] - Alec Mellor, Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, "Gormogons", Pierre Belfond, 1979. Daniel Ligou, Dicionário da Franco-Maçonaria, "Gormogons", PUF, 2015.

[4] - Antony Sutton: "O melhor exemplo documentado da intervenção de Wall Street em uma revolução é o de um consórcio de Nova York na revolução chinesa, liderada por Sun Yat Sen". Wall Street and the Bolshevik Revolution, cap. IV.

[5] - Sobre a sobrevivência dos "Iluminados da Baviera", ver L'Héritage N° 13.

[6] - "Esses Iluminados recebiam a iniciação de três classes de graus, que os conduziam da interpretação da verdadeira religião ao ateísmo, e da democracia à anarquia. Por intermédio de seu amigo Mauvillon, eles souberam atrair Mirabeau, assíduo dos salões judeus durante sua estada em Berlim, e os tenentes de Weishaupt, Zwack von Knigge e Bode desempenharam um papel importante nos conventos de Wilhelmsbad (1782) e dos "Filaletes" de Paris (1785 e 1787), encarregados de preparar a Revolução." Jean Lombard Cœurderoy, A Face oculta da história moderna Tomo 1, Introdução, XII, Ed. Saint-Remi. É bom saber que Jean Lombard, não tendo conseguido encontrar uma única editora francesa para publicar sua obra monumental, resolveu com a maior decepção fazer traduzir seus volumes para o espanhol. Quatro grandes tomos apareceram assim nas edições franquistas "Fuerza Nueva".