A ILUMINAÇÃO INICIÁTICA
Geralmente, designa-se sob o nome de CONTRA-IGREJA o conjunto muito complexo que compreende, além da maçonaria propriamente dita, todas as sociedades de pensamento e congregações iniciáticas que não estão diretamente ligadas a ela, mas que se inspiram no mesmo gnosticismo.
Ora, essa denominação, empregada há cerca de cem anos pelos tradicionalistas, não é aceita pelas associações que ela pretende designar, em particular pela maçonaria, que é a mais importante, e que se autodenomina não como contra-igreja, mas como SUPER-IGREJA. Ela justifica essa pretensão observando que ensina uma gnose que combina noções pagãs imemoriais e noções cristãs. Ela acredita deter, de maneira esotérica (ou seja, oculta aos profanos), o fundo comum de todas as religiões exotéricas (ou seja, públicas), incluindo a religião católica, a qual, assim, é para a maçonaria o que a parte é para o todo.
Evidentemente, não se trata da religião de Nosso Senhor submeter-se a tal pretensão e aceitar tal magistério oculto. Não é exato, de fato, que a Igreja derive do fundo comum das religiões. Ao contrário, ela foi fundada precisamente para se distinguir desse fundo comum, para evitá-lo, combatê-lo e triunfar sobre ele no final. Ela conserva o depósito da única Revelação Divina autêntica, rigorosamente controlada, de geração em geração, por instâncias elas próprias de instituição divina.
É realmente o termo contra-igreja que deve ser mantido para designar o conjunto das sociedades de pensamento e das congregações iniciáticas e, particularmente, a maçonaria, e isso por duas razões:
Primeiramente, a maçonaria se comporta como uma potência hostil à Igreja pelo simples fato de seu proselitismo; ela propõe aos cristãos uma gnose tradicional e livresca contra a qual é necessário defendê-los, pois é sedutora ao conter verdades e, ao mesmo tempo, perigosa ao conter erros.
Em segundo lugar, essa organização é o centro de uma inspiração demoníaca não mais tradicional e livresca, mas viva e continuamente renovada. É esse segundo ponto que gostaríamos de tratar aqui de forma muito esquemática.
Essa inspiração demoníaca da contra-igreja é um assunto bastante controverso porque deu origem a exageros. Alegou-se que as altas lojas eram palco de misteriosas diabruras. Muito se falou sobre isso no final do século passado e no início do nosso. Léo TAXIL é o mais ilustre representante dessa época e dessa escola, segundo a qual o demônio apareceria visível e pessoalmente nos altos conselhos maçônicos para ditar sua doutrina e estratégia. Ora, é certo que tais descrições não correspondem à realidade. Nada disso acontece nos graus elevados da maçonaria. É compreensível que tais erros tenham desacreditado a ideia de uma influência demoníaca sobre o conjunto da contra-igreja.
Significa isso que as diabruras estão totalmente ausentes das sociedades iniciáticas?
Não caiamos de um excesso a outro. Certamente ocorrem diabruras muito autênticas. Mas elas são encontradas apenas em colégios, por assim dizer, especializados e que, sobretudo, estão à margem da grande construção maçônica. Não é no topo da hierarquia iniciática que as observamos. Elas estão situadas lateralmente.
Mas então, onde encontramos vestígios dessa influência demoníaca viva e constantemente renovada, que acabamos de dizer ser uma das duas razões que justificam a denominação de contra-igreja? Em qual episódio particular da vida maçônica podemos buscar esses indícios?
É no momento da cerimônia de iniciação que eles aparecem mais nitidamente. Essa prova é, para cada adepto, uma fase de perturbação e crise, durante a qual influências espirituais podem se manifestar preferencialmente. Sua alma está, por assim dizer, mais frágil e acessível nesse período. Além disso, a iniciação marca uma virada na vida mental do iniciado: é uma escolha feita, uma determinação tomada, um ponto de partida. Se, portanto, uma influência espiritual é realmente provada nesse dia, ela é duradoura para cada indivíduo e importante para o conjunto da seita.
Ouçamos René Guénon falar sobre o estado de espírito do iniciado:
"O que pode ser ensinado são apenas métodos preparatórios para a obtenção desses estados; o que pode ser fornecido de fora, a esse respeito, é, em suma, uma ajuda, um apoio que facilitam grandemente o trabalho a ser realizado e também um controle que elimina os obstáculos e perigos que podem surgir. É por isso que o segredo iniciático é inexprimível e incomunicável. Não se aprende ALGO MISTERIOSO, mas o experimenta-se" (R. GUÉNON, Aperçus sur l'initiation).
Vamos agora tentar especificar as características desse algo misterioso que se experimenta durante a iniciação. Para esclarecer as ideias, tomaremos um exemplo do livro de um autor maçônico anônimo, intitulado Les Authentiques Fils de la Lumière, publicado pelas Éditions de La Colombe, em 1961. Ouçamos como ele relata sua iniciação ao grau de rosa-cruz:
"O Venerável que oficia é um canal para O INFLUXO ESPIRITUAL que age em qualquer circunstância. Mas, para manter essa eficácia, os ritos devem ser escrupulosamente observados, sem qualquer modificação, redução, adição, modernização" (p. 87).
O "algo misterioso" de que fala GUÉNON é, portanto, descrito por este novo testemunho como "um influxo espiritual" que age sobre o iniciado através do canal do Venerável, independentemente de seu valor pessoal, pela mera virtude da função que ele exerce. Esforcemo-nos para especificar ainda mais o modo de aquisição desse influxo.
"Eu desempenhava um papel ativo nesses símbolos e, de repente, tive UMA IMPRESSÃO ARDENTE COMO UM RAIO. Ao interpretar esse drama sagrado, 'algo' emergia do mais profundo de mim. Descobri-me em um NOVO MUNDO onde, subitamente, o tempo natural era transmutado em um tempo sagrado. Sensação que não pode ser analisada, mas que permanece indelével... Além disso, quanta alegria senti ao participar, dessa vez, de verdadeiras ágapes, onde o Pão e o Vinho criavam um VÍNCULO MÍSTICO entre os participantes do banquete sagrado." (Les Authentiques Fils de la Lumière, p. 98 e 99).
Estamos agora no cerne do problema. Essa impressão súbita, ardente como um raio, é precisamente o que os maçons chamam de ILUMINAÇÃO. Às vezes, eles também a chamam de despertar maçônico. Ela é tão duradoura quanto intensamente sentida. Não se apaga mais. O "novo mundo" vislumbrado não se afasta mais da memória. O iniciado adquire um novo espírito, ou seja, ele passa a ver a criação sob outra perspectiva e com outra intenção. Também nos dizem que a iluminação e as cerimônias que a acompanham criam entre os adeptos um "vínculo místico", o que significa, em outras palavras, que consagram a pertença do iniciado a um corpo místico, ou seja, a uma verdadeira religião.
Continuemos nossa investigação tentando conhecer a natureza desse influxo iniciático. O autor de Les Authentiques Fils de la Lumière vai nos informar citando uma página que não é de sua autoria, mas que ele assume como sua ao afirmar que, em sua opinião, a iniciação nunca foi tão magnificamente evocada. Aqui está o texto:
"Há aqueles que, em certos momentos, têm a possibilidade de se desprender de si mesmos, de descer além do limiar, cada vez mais fundo nas obscuras profundezas da força que sustenta seu corpo e onde essa força perde seu nome e sua individualização. É então que se tem a sensação de que essa força se expande, retoma o eu e o não-eu, invade toda a natureza, substantiva o tempo, transporta miríades de seres como se estivessem EMBRIAGADOS ou ALUCINADOS, representando-se sob mil formas, força irresistível SELVAGEM, inesgotável, SEM REPOUSO, sem limite, ARDENDO POR UMA INSUFICIÊNCIA E UMA PRIVACIDADE ETERNAS" (Les Authentiques Fils de la Lumière, p. 88).
Agora estamos informados com precisão sobre a natureza do espírito que entra em contato com o adepto no momento da iniciação e que o preenche de luz. Essa força selvagem, sem descanso, consumida por uma insuficiência e uma privação eternas, e capaz, ao mesmo tempo, de transportar miríades de seres como se estivessem embriagados ou alucinados, essa força espiritual assim definida não é outra senão o espírito das trevas. Sua descrição, pelo escritor maçônico, é idêntica àquela que os escritores eclesiásticos fazem do demônio quando o definem como um espírito de inquietação e ambição, um espírito incandescente, mas eternamente privado de Deus. É importante notar a identidade dessas duas definições. O objeto descrito é o mesmo, é o julgamento que se faz dele e a conduta a ser adotada em relação a ele que vão diferir.
O autor anônimo de Les Authentiques Fils de la Lumière não deixa dúvida possível: o espírito que se apodera do iniciado é precisamente essa força selvagem e ardente, sem limite e sem descanso, pois, segundo ele, nunca a iniciação foi evocada de forma tão magnífica. Pode-se, portanto, afirmar que, durante a iluminação, o iniciado foi tomado pelo espírito das trevas.
Mas podemos dar um passo adiante e concluir sobre a realidade objetiva de uma influência externa, direta e pessoal do demônio sobre a alma do iniciado? Não apressemos as etapas. O espírito do demônio não é necessariamente o demônio em si. O homem também tem a liberdade e a capacidade de se insurgir contra Deus por sua própria vontade. Ele não precisa absolutamente de uma estimulação infernal para isso. Ele pode espontaneamente desenvolver o espírito de confusão, inquietação, ambição e revolta. Ele pode forjar para si mesmo uma alma de demônio, apenas pela frequência intempestiva aos autores gnósticos de ontem e de hoje. É o que acontece com o maçom estudioso e apaixonado que prepara assiduamente sua iniciação. Sob a emoção muito explicável produzida pelo cerimonial, o adepto, exaltado por suas leituras, poderia encontrar-se apenas em contato com seu próprio metapsiquismo. E é certo que, em parte, é assim que as coisas acontecem. Portanto, não se deve apressar em concluir sobre a realidade do contato direto dos espíritos das trevas com a alma do iniciado. Para chegar a tal conclusão, precisaríamos de uma prova adicional.
Ora, há precisamente, na iluminação iniciática, uma parte de recepção exterior. Ouçamos o erudito autor de Les Authentiques Fils de la Lumière:
"Mas ninguém, salvo raríssimas exceções, pode se iniciar sozinho. Só se pode ser iniciado em uma organização qualificada cujos ritos e mitos remontam a uma grande antiguidade e QUE NÃO É UMA CRIAÇÃO PURAMENTE HUMANA; a qual associação não transmite uma doutrina, mas uma INFLUÊNCIA ESPIRITUAL" (p. 87).
O mesmo testemunho ainda esclarece seu pensamento algumas páginas depois:
"É um dos mistérios da iniciação: a ambiência, os cenários, os sentidos ocultos e vagamente vislumbrados, e talvez alguma PRESENÇA INVISÍVEL, determinam uma emoção indizível." (p. 99)
Este autor, indubitavelmente competente e ponderado, declara então que a organização maçônica não é uma criação puramente humana, o que quer dizer que ela é mantida e sustentada, pelo menos em parte, por uma inspiração que tem sua origem no mundo dos espíritos. E ele confirma essa noção ao declarar que, durante a cerimônia de iniciação, uma presença invisível é bastante provável.
Acrescentemos que, de fato, isso explica a súbita e intensa emoção sentida, que faz dessa experiência uma verdadeira experiência mística e não apenas um episódio de autossugestão. Temos a prova de que a iluminação é considerada de origem externa e objetiva por aqueles que a experimentaram.
Mas somos obrigados a constatar, ao mesmo tempo, que essa influência externa não é atribuída ao demônio. Eles não acreditam ter sido obscurecidos. Pelo contrário, eles dizem que despertaram para a luz ou que foram iluminados. Os maçons se assustam quando se fala de influência demoníaca em suas oficinas. Eles estão convencidos de que a iluminação iniciática é uma das múltiplas formas de inspiração divina. Aqui está, por exemplo, a resposta de um mestre maçom a um de seus jovens companheiros:
"…Eu brinco com você porque às vezes é preciso expressar alegremente as coisas mais sérias. Mas, na verdade, você está certo. Você se aproxima, mesmo sem saber, do segredo essencial da maçonaria. Construir, certamente, mas construir SEGUNDO O PLANO DIVINO que é atemporal." (Les Authentiques Fils de la Lumière, p. 124).
Em resumo, este escritor maçônico, que não é de modo algum excêntrico, mas muito reflexivo, nos faz uma declaração tripla:
1° a iluminação não é uma impressão subjetiva, mas sim a recepção de uma influência externa;
2° a definição desse espírito coincide exatamente com a que os teólogos dão ao espírito demoníaco;
3° o iniciado julga esse espírito como vindo de Deus.
Aqui está um raciocínio cujos termos são inconciliáveis. Como explicar uma antinomia tão evidente?
Ela resulta da aplicação, a este problema particular, da TOLERÂNCIA maçônica, ou seja, do pensamento sem ortodoxia, do pensamento sem controle, sem magistério, do "livre-pensamento".
Na experiência mística que o iniciado viveu, ele não teve os meios de distinguir o bom espírito que acreditava receber do mau que realmente recebeu. Aconteceu um fenômeno conhecido desde sempre pelos teólogos ortodoxos, e cujo esquema é o seguinte:
Quando o demônio se mostra como ele realmente é, ele aparece tão assustador que não pode seduzir nem atrair ninguém, exceto algumas raras almas já em estado de impiedade final e decididas a fazer o mal por causa do mal em plena consciência; para recrutar a massa de pessoas honestas que ainda distinguem o bem do mal, é necessário que, segundo a expressão clássica em teologia, o anjo das trevas SE DISFARCE EM ANJO DE LUZ.
É precisamente isso que ocorre durante a iluminação iniciática. O adepto certamente tem a impressão de uma luz. A influência espiritual exerce sobre ele uma ação análoga à da luz porque é de natureza angélica.
De acordo com outros relatos de iniciação, que não temos espaço para citar aqui, o "algo misterioso", a "presença invisível" é até mesmo reconfortante, eufórica e exaltante. Mas, na realidade, é uma potência tenebrosa, uma vez que sua definição é a de uma força selvagem, excessivamente inquieta. No momento da iniciação, o adepto se encontra confrontado com o espírito das trevas disfarçado em espírito de luz, e já não é possível descobrir o disfarce. A "presença invisível" não causa medo. Sua feiura não aparece. Ela permanece oculta pelo brilho do que resta de sua beleza. Para descobrir sua verdadeira natureza, o senso natural do bem e do mal, que o adepto conservou por ser um homem honesto, já não é suficiente. Não há razão para exercer esse senso, pois o mal não é aparente.
Para descobrir a falsidade da luz iniciática, seria necessário possuir o DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS. No entanto, a loja-mãe é totalmente desprovida desse dom devido à sua tolerância. Ela se proíbe todo dogmatismo, ou seja, toda discriminação entre as "valores espirituais" que ela vai colhendo por toda parte e que apresenta a seus discípulos em pé de igualdade. Ela se contenta em expô-los diante de seus olhos, deixando-os fazer livremente sua escolha a título pessoal.
O dom do discernimento dos espíritos, que vem de Deus, só se encontra na Igreja. É uma intuição imediata e espontânea que Deus concede a certas almas para que elas possam se guiar ou guiar outras pessoas. O bispo, quando certas condições canônicas são preenchidas, também possui esse dom no exercício de suas funções. Ao julgar estados místicos, ele saberá dizer:
- isto vem de Deus,
- isto vem do demônio,
- isto é duvidoso.
Ao contrário, pela tolerância que não reconhece nenhuma verdade absoluta, a grande escola maçônica do livre-pensamento privou-se dos meios de discernir os espíritos. Assim, ela é iluminada apenas pela falsa luz que tem seu principal ponto de impacto na iniciação. Ela está sujeita a uma inspiração demoníaca difusa e poderosa que considera uma inspiração divina, mas que lhe dá um papel preponderante nas organizações da contra-igreja.
Portanto, não se trata de um falso misticismo maior, ou seja, daquelas aparições demoníacas e outras artimanhas que eram anteriormente atribuídas levianamente às altas autoridades maçônicas. Nas lojas, encontramos apenas um falso misticismo menor, com manifestações discretas: sem encantamentos, sem busca laboriosa por estados extáticos, nem algo similar. É também um misticismo menor pela falta de qualquer conteúdo conceitual; não leva à revelação de um arsenal de argumentos doutrinários, mas apenas à aquisição de uma disposição mental.
E observemos que é para baixo que a alma se abre; ela se prepara para ouvir; os autores têm consciência disso:
"...algo subia do mais profundo de mim mesmo..." (Les Authentiques Fils de la Lumière, p. 98),
ou ainda, em outro lugar:
"...descer sempre mais fundo nas obscuras profundezas da força que sustenta seus corpos..."
"...então essa força se expande, abraça o eu e o não-eu..." (ibidem, p. 88).
É realmente o inferior que invade o superior. Mas trata-se apenas de uma orientação. Quanto às noções explícitas, constitutivas de uma doutrina, os maçons as encontram na rica e exuberante biblioteca da gnose escrita. A iniciação abre a alma, o estudo a alimenta.
Por fim, observamos que o despertar maçônico, se produz uma impressão indelével em cada indivíduo como aprendemos, é ao mesmo tempo muito importante para a seita, pois o número de iniciações é considerável. A maçonaria universal conta com várias dezenas de milhares por ano. A luz que ilumina seu árduo trabalho é de fato o falso misticismo, ou seja, aquele que tem o demônio como inspirador.
Jean VAQUIÉ